Perfil dos Principais Atores Envolvidos no Trabalho Escravo Rural no Brasil é o título do novo relatório apresentado pelo escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil. A partir de entrevistas com trabalhadores, aliciadores (também conhecidos como "gatos”) e empregadores, a pesquisa busca traçar o perfil desses atores para auxiliar na construção de políticas públicas de combate ao trabalho análogo ao de escravo.

Para a elaboração do relatório, a OIT entrevistou 121 trabalhadores. Os dados apontam que a maioria apresenta idade média de 31,4 anos e 81% dos entrevistados são negros. A renda média deles é de 1,3 salários mínimos e, em 40,2% dos casos, o trabalhador é o único responsável pela renda da família.
Além disso, a pesquisa constata que 18,3% dos entrevistados são analfabetos e 45% são analfabetos funcionais. Do total, 85% nunca fizeram curso profissional. "A escravidão contemporânea no país é precedida, em alta proporção, pelo trabalho infantil: 92,6% dos trabalhadores entrevistados iniciaram sua vida profissional antes dos 16 anos. A idade média em que começaram a trabalhar é de 11,4 anos”, observa.
O perfil dos aliciadores é parecido. Dos sete "gatos” entrevistados, a maioria é não branca, do sexo masculino, com idade média de 45,8 anos. Assim como os trabalhadores, a maior parte dos aliciadores possui baixa escolaridade. Dos setes entrevistados, dois afirmaram ser analfabetos e nenhum fez curso profissional. "A idade média com que começaram a trabalhar é de 10,7 anos. Todos realizaram trabalho rural não especializado. Trabalham para médios e grandes proprietários, recrutando pequenos grupos de trabalhadores. O âmbito de sua atuação é regional”, revela.
Por outro lado, o perfil dos empregadores é diferente dos dois anteriores. A maioria é homem, branco, com idade média de 47,1 anos e com curso superior completo. Dos 12 entrevistados, dois têm pós-graduação e apenas três não possuem nível superior. "Resumidamente, pode-se concluir que as características dos empregadores entrevistados guardam uma estreita relação com os traços gerais das elites e grupos dominantes no Brasil”, afirma.
Além do perfil dos envolvidos, o relatório ainda analisa as políticas de combate a esse tipo de crime no país. De acordo com a pesquisa, apesar de alguns avanços, o Brasil ainda precisa percorrer "um longo caminho” para a erradicação do trabalho escravo.
O informe destaca a importância de manter e ampliar a fiscalização dos Grupos Especiais de Fiscalização Móveis (GEFM) e de punir os responsáveis pelo crime. Da mesma forma, ressalta a necessidade de realização de campanhas educativas contra o trabalho escravo e de incentivo à formalização das relações de trabalho.
"É necessário também ampliar as ações preventivas do trabalho escravo, tais como programas de qualificação profissional e elevação da escolaridade nas áreas de concentração de trabalhadores escravos; a geração de novos postos de trabalho nos municípios de origem e residência dos trabalhadores; a realização de programas de reforma agrária com apoio à agricultura familiar para que os trabalhadores se tornem menos vulneráveis, criando efetivamente alternativas para seu sustento e de sua família. Considera-se ainda importante manter registros e análises sistemáticas sobre os principais atores envolvidos no problema de forma a aprofundar o conhecimento da questão”, finaliza.
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