"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

terça-feira, 10 de junho de 2008

Alimentos, manipulação informativa e hipocrisia.



A conferência da FAO foi palco de muitas meias verdades, manipulação informativa e de uma overdose de hipocrisia por parte dos países imperialistas

05/06/2008

A conferência da FAO para discutir as causas da crise alimentar foi palco de muitas meias verdades, manipulação informativa e de uma overdose de hipocrisia por parte dos países imperialistas, que controlam a produção e o comércio mundial de alimentos. E seus preços.
Não há dúvida de que estamos diante de um quadro muito grave; há uma alta generalizada no preço dos alimentos. Os órgãos de informação/desinformação capitalistas saíram a explicar que existiria uma “crise mundial de alimentos”, como disse o New York Times, ou um “tsunami silencioso”, como escreveu a revista inglesa The Economist.
Mas, o que eles não explicam – escondem a verdade deliberadamente – é por que essa alta está ocorrendo. Como sabemos, a elevação dos preços dos alimentos é provocada por variados fatores, entre eles a criminosa especulação dos oligopólios . Eles não falam, por exemplo, que a maior parte dos cidadãos famintos do mundo não obtém seus alimentos no mercado mundial e que a maior parte dos que dependem do mercado global não são pobres ou vulneráveis à fome. Os países mais profundamente afogados na pobreza dependem muito pouco das importações de alimentos, em parte porque a eles faltam as divisas estrangeiras para poder comprá-los.
Outros dirigentes dos países capitalistas que impõem barreiras protecionistas e subsídios à sua produção, ou que pagam a seus produtores para que não produzam muito alimento, são responsáveis pela destruição de toneladas de leite, carne, cebola e vinho na Europa, querem que o mundo acredite nas suas “explicações” para a alta de preços.

Dizem que é por causa da participação cada vez maior da China nesse mercado. No entanto, a China produz a maior parte dos alimentos que consome, sendo grande importadora apenas de soja. Ignora-se, por exemplo, que o preço do arroz explodiu porque grandes produtores asiáticos de arroz – Vietnã, índia, Cambodja, Indonésia e China –, reduziram as exportações desse produto, temendo efeitos inflacionários, provocando uma escassez completamente artificial, pois, na verdade, a produção de arroz tem aumentado em relação ao consumo.
No caso da fome na África, vale lembrar que a maioria de seus habitantes mora e trabalha em comunidades rurais empobrecidas e cada vez recebendo menos apoio das entidades internacionais como Banco Mundial e outros, que vêm reduzindo drasticamente seus empréstimos à agricultura. Nesse sentido, tem razão Jean Ziegler, relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, que defende que o FMI mude suas políticas sobre os subsídios agrícolas, deixando de apoiar apenas programas destinados à redução da dívida, mas que subsidie a agricultura em regiões onde se garanta a sobrevivência das populações locais.
O discurso desses senhores insinuando que países como o Brasil ou a Argentina têm responsabilidade nessa alta de preços dos alimentos é pura hipocrisia. Eles reduzem os investimentos, pagam para que os produtores não produzam, devastam suas florestas e recursos naturais e a culpa é do Brasil?
Assim como há um falso debate em torno do etanol. Essa questão vem carimbada pelos “argumentos” atirados pelos que controlam de modo oligopólico a produção de sementes, o comércio internacional de alimentos, a produção e distribuição de fertilizantes e dos combustíveis fósseis (petróleo) e o transporte marítimo internacional, com seus fretes também elevados, em boa medida, pela indecorosa especulação.
Não basta o investimento em novas fontes de energia se quem permanece com os meios de produção e com os lucros é o agronegócio e as empresas transnacionais, assim como não soluciona o problema se a agroenergia continuar mantendo um sistema ambientalmente insustentável e socialmente inviável.
O governo brasileiro pode esbravejar com razão ao mundo que o Brasil tem uma matriz energética formada por 47% de energia renovável e que está aumentando simultaneamente a sua produção de alimentos, hoje recordista. Mas falta demonstrar que este modelo de produção, em última instância, é dominado exatamente por aqueles poderosos atores que ele criticou em seu discurso na FAO. As sementes transgênicas avançam pelo Brasil que produz biodiesel da soja, setor controlado por um cartel de transnacionais.
O melhor e mais convincente argumento que o governo Lula teria para mostrar ao mundo era uma produção conjunta de alimentos e de agrocombustível ancorada na expansão vigorosa da agricultura familiar. Para isso, é urgente, gritantemente urgente – antes que todas as terras brasileiras sejam desnacionalizadas devastadoramente –, a criação de uma Empresa Público-Estatal de Bioenergia. Essa “Petrobras Verde” seria o instrumento capaz de assegurar a soberania energética renovável, mas, sobretudo, de alavancar um novo modo de produção, assentado na policultura, não na monocultura, na combinação de alimentos com energia, com zoneamento ecológico, com incorporação de milhões e milhões de desempregados ao trabalho produtivo, opção infinitamente superior às bolsas famílias, por ser sustentável.

Ou seja, o melhor exemplo de Lula deveria ser: milhões de famílias produzindo diversidade de alimentos, sem dependência do petróleo que polui drasticamente o ambiente, sem submeter-se à monocultura e com uma empresa estatal regulamentando toda a produção de energia renovável, inclusive levando, com o poder do Estado, a legislação trabalhista a ter plena vigência no campo.

Nenhum comentário: