"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Um olhar distorcido da América Latina


Certa vez, um grande estudioso norte-americano das relações entre os Estados Unidos e a América Latina, Donald Marquand Dozer, disse: “Os latino-americanos querem ser os senhores de seus destinos”. Nada mais natural do que sermos senhores de nossos próprios caminhos, erros e acertos, apesar de criticarem nossa busca por independência política e econômica, questionando quais seriam os motivos do subdesenvolvimento da América Latina, e tendo as respostas mais variadas possíveis, mas ainda existem – segundo Darcy Ribeiro em sua obra América Latina: Pátria Grande – muitos, principalmente europeus e norte-americanos, pensando que o nosso atraso é resultado de nossa incompetência. É, segundo Darcy Ribeiro, o velho estereótipo latino-americano, como sendo indolente, de vida fácil, que não aprecia o trabalho. Outra característica deste esteriótipo, é o espírito festeiro e desordeiro, assim como afirma Sérgio Buarque de Holanda, em sua obraRaízes do Brasil, o ideal de uma vida de grande senhor, exclusiva de qualquer esforço, de qualquer preocupação.Mas quem nos coloca tal imagem distorcida dos povos latino-americanos? São os mesmos que nos exploraram e querem colocar sobre nós o fardo do subdesenvolvimento que amargamos e criticam nossa postura de autonomia e independência.

É isso mesmo que ocorre, pois a imagem que muitos estrangeiros têm de nós, brasileiros, é de um povo que gosta de carnaval, de diversão e entretenimento, porém naquela época da dominação estrangeira, não eram os brasileiros que viajavam à Europa, ou mesmo dentro de nosso continente, enquanto os escravos e os índios trabalhavam a duras penas em troca de algumas moedas a fim de viverem um dia a mais.

Eduardo Galeano, em sua célebre obra As veias abertas da América Latina, nos mostra que os europeus, ao chegarem à América, logo buscaram o primeiro local que tivesse alguma riqueza – principalmente metais preciosos – para sugarem. Inicialmente, tentaram escravizar os indígenas, para que estes trabalhassem nas minas ou no campo. Vendo que os indígenas resistiam à dominação, os europeus foram à África, e trouxeram milhões de africanos para cá, e estes aumentaram o número de trabalhadores nas minas e nos grandes latifúndios que surgiam. Formava-se assim o povo latino-americano, uma massa de povos subjugados pelos europeus, que eram escravizados e formavam uma verdadeira massa de indigentes perante os olhos dos colonizadores.

Assim, o tempo passou, os europeus sugaram quase tudo o que puderam, deixaram nossas montanhas, nosso vales e nossas terras secos, com poucos recursos. Observando que a política colonial mercantilista já não tinha como funcionar, os europeus resolveram literalmente dizer aos povos latino-americanos “sejam livres”, pois assim poderiam inserir este continente no mapa das grandes empresas que surgiam após a Revolução Industrial. Mais uma vez, ficamos para trás. Formavam-se, neste momentos os Estados Nacionais latino-americanos, que logo ao se tornarem independentes, contrairam dívidas milionárias, e que continuam pagando até hoje. A independência veio, mas a que preço? Na verdade esta independência, ocorreu de fato junto às elites latifundiárias do emaranhado de países que surgiam. Para a massa de indigentes, de escravos, esta independência nunca houve. Perguntemos a um trabalhador boliviano de uma mina, que pode morrer a qualquer momento devido aos gases tóxicos que inala diariamente, e que ganha umas míseras moedas que não lhe servem nem para uma refeição digna, se ele se considera livre? Nem precisamos ir tão longe, aqui mesmo no Brasil, perguntemos a um cidadão que mora em uma favela assentada sob um antigo aterro sanitário, que corre risco de morrer, tanto por deslizamentos quanto por balas perdidas que são disparadas aos montes em um cenário calamitoso, se ele se considera livre?

Com a globalização, as diferenças entre os países do centro e os países periféricos se acentuaram ainda mais, e, como esse fato é resultado de um processo histórico, que nos levou a essa realidade de dependência, é muito difícil imaginar quando, todos nós latino-americanos, poderemos ter igualdade de condições para desenvolver todas as nossas potencialidades.

De fato, o que pretendo esclarecer, é que não devemos levar em conta a visão pessimista e negativa “vinda de fora”. Pois como é possível o mesmo local que derramava ouro e prata aos montes e enriquecia a crescente burguesia europeia, ser o local onde vivem hoje milhões de pessoas pobres, sem esperança, e que, em alguns casos, acabam recebendo a culpa disso tudo sobre si? O grande desafio está lançado, mudar a nossa visão acerca dos motivos de nossa pobreza, para assim, depois de esclarecido tudo, reunir forças para modificar em certa medida este cenário de diferenças gritantes entre a parte rica e a massa de desvalidos e miseráveis da população latino-americana.

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