"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Professores do Ceará questionam ilegalidade da greve da categoria


São Paulo - Em greve há quase um mês pelo cumprimento da lei do piso do magistério e plano de carreira, os professores da rede estadual do Ceará questionam os motivos dados pelo Tribunal de Justiça do estado, que julgou a paralisação ilegal na última segunda-feira (29). Mesmo após a decisão do Judiciário, os educadores seguem em mobilização pelo menos até a próxima sexta-feira (2), quando está prevista uma assembleia. A educação no estado enfrenta relação conturbada com o governador Cid Gomes (PSB), que declara publicamente ser contrário às reivindicações sobre valorização da categoria.
O desembargador Emanuel Leite Albuquerque determinou a imediata suspensão do movimento grevista, argumentando que a prática compromete um serviço essencial prestado à sociedade. O assessor jurídico do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Ceará (Sindiute), Valdecy Alves, ressalta que a greve não prejudica de modo direto os alunos, sendo que as aulas podem ser repostas. "É muito comum na Amazônia suspender aula quando tem enchentes. No Ceará mesmo, quando tem enchentes, as aulas são canceladas. Mas são repostas e não prejudicam o aluno", disse.
Ainda segundo o Tribunal, a greve prejudicaria o acesso dos alunos à merenda na escola. Alves considera "absurda" a justificativa. "Ele (o desembargador) diz que as crianças vão passar fome", ironizou. "Estão três equívocos aí. Primeiro é que não é o professor que faz a merenda. Segundo, as merendeiras estão indo trabalhar. E, terceiro. Que visão educacional é esta que quer transformar a escola em restaurante? É lamentável a postura do Poder Judiciário cearense", afirmou.
A multa fixada pela decisão foi de R$ 10 mil por dia para o sindicato organizador e R$ 100 para cada professor que descumprir a ordem. "A decisão (sobre a ilegalidade da greve) foi muito mais política do que jurídica, infelizmente. Eles entendem que todo o serviço público é essencial, mas entendem assim porque interessa a eles", criticou o advogado. Segundo ele, nos últimos cinco anos, as greves do serviço público no Ceará têm sido julgadas ilegais com a mesma alegação. Os professores municipais, quando também entraram em greve, enfrentaram o mesmo entrave.
Anizio Melo, presidente do Sindicato dos Professores e Servidores no Estado do Ceará (Apeoc), orienta aos educadores que continuem mobilizados. "A nossa luta não para em nenhuma hipótese, porque temos que compreender que o papel do sindicato e da categoria não é derrotar governos, e sim garantir conquistas para a escola pública e seus profissionais", afimou. No Ceará, o salário-base do professor de nível médio é de R$ 739,84 para 40 horas semanais. Eles reivindicam a aplicação do piso, além da extensão aos aumentos aos demais níveis (graduados e pós-graduados).

Frases polêmicas

Mesmo após a publicação do acórdão do Supremo Tribunal Federal (STF) que legitima o cumprimento do piso salarial dos professores (R$ 1.187), não há acordo sobre sua implementação no estado. O governador Cid Gomes foi um dos executivos que entrou com assinatura em Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no início do ano, junto com o Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul. Eles alegavam restrições orçamentárias dos municípios para o pleno cumprimento da lei.
A Apeoc se reuniu na última semana com Gomes, que fez declarações polêmicas. "Por que vocês fizeram concurso? Por que não foram para a escola privada?", indagou o governador aos presentes. Ele também teria afirmado que, se os professores querem ganhar mais, precisam pedir demissão e ir para o ensino privado. Segundo Valdecy Alves, os educadores criaram uma campanha: "Cid Gomes, seja governador por amor - doe seu salário".
"Ele diz, nas negociações, que por ele, professor não tinha carreira. Professor é um sacerdócio. E quem não estiver satisfeito, pegue o chapéu e vai para a escola privada", criticou. Questionado pelo jornal O Povo, Gomes defendeu que quem entra no serviço público precisa fazer seu trabalho por amor, e não pelo dinheiro. Os professores registraramem vídeo  o último encontro com o governador.
O governo pede a suspensão da greve como condição para que as negociações sejam retomadas. Segundo a Apeoc, Cid Gomes teria se comprometido com todos os pontos apresentados pelos grevistas, inclusive com um terço de planejamento de forma escalonada para ser discutido e proposto pela Comissão Paritária de negociação, que poderá ser recomposta e ampliada. Para o presidente da entidade, os professores não irão se deixar levar pelo cansaço.
"Observando o cenário das greves nos últimos anos, constatamos que o roteiro da novela foi o mesmo, os governos apostaram na ilegalidade para derrotar nossa categoria, não importando a característica das direções, se mais valentes ou menos valentes", disse.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

México - Relatório aponta dados sobre violações a defensores de direitos humanos


No México, por trás do discurso de uma guerra ao narcotráfico, o Estado leva a cabo estratégias de repressão contra a população. A constatação é do Comitê Cerezo, que por ocasião de seus dez anos de atuação lançou o relatório Saldos da Repressão no México 2009-2010: uma guerra contra o Povo.
O documento apresenta dados sobre detenções políticas, execuções extrajudiciais e desaparições forçadas, quadro em que o Estado mexicano se constitui em "Estado terrorista”.
Entre o conjunto de estratégias que possibilitam as violações, o Comitê cita a construção de um "inimigo interno”, no caso, o crime organizado e o narcotráfico, para restringir os direitos da população; fazer uso sistemático de terror para combater o "inimigo”; militarizar a vida social; criminalizar os defensores de direitos humanos, bem como a sociedade em geral; criar marcos jurídicos de exceção que legalizem violações e garantam impunidade.
Neste contexto, em 2009 e 2010, dentre as agressões mais comuns a defensores dos direitos humanos, 45% foram detenções políticas; 38% execuções extrajudiciais e 17% desaparições forçadas.
Houve casos de presos por motivos políticos em 17 estados, segundo informações recolhidas em jornais, revistas e correios eletrônicos remetidos por organizações agredidas. No total, foram 245 detidos no período. Hoje, mais da metade dos presos em 2009-2010 está livre sob fiança, 25% está livre sem nenhum encargo e 13% permanece na prisão.
O Estado em que houve mais detenções entre 2009 e 2010 foi Puebla, com 37, seguido de Oaxaca, com 33. Segundo o relatório, a maioria das prisões é ilegal e o traslado consiste no momento de maior vulnerabilidade e risco para os presos.
As detenções se dividem em seletivas, quando vão contra alguns líderes sociais, e massivas, quando atingem mais pessoas, e se caracterizam por uso exagerado de força, por parte das polícias federal e municipal.
Segundo o relatório, há uma tendência do Estado mexicano em diminuir a judicialização dos movimentos sociais e partir para as estratégias de execução extrajudicial e desaparições forçadas.
Das 50 mil mortes creditadas à guerra contra o narcotráfico, muitas foram execuções extrajudiciais, mas não se tem como documentar isso. Nesses casos, o Estado é responsável por ação, aquiescência (quando o crime é cometido a mando do Estado) e omissão.
De acordo com o relatório, a maioria das execuções extrajudiciais são levadas a cabo por militares contra a população em geral. Seguem um padrão: ocorreram em lugares onde o exército estava realizando operações contra o crime organizado; os civis estavam desarmados e não estavam em zona de combate. "Consideramos que esta modalidade de execução extrajudicial obedece à política sistemática de gerar medo na população”, denunciam.
Entre 2009 e 2010, foram, no mínimo, 15 casos de execuções extrajudiciais de defensores dos direitos humanos, documentados; 15 casos de civis executados pelo exército e 15 casos de jovens executados em execuções massivas. Essas mortes não são documentadas e muitas se invizibilizam no meio da guerra ao narcotráfico, alerta o relatório.
Já as execuções extrajudicias massivas ou massacres têm como objetivo "limpeza social", quando são dirigidas a grupos de imigrantes ou dependentes químicos; prevenção, quando cometidas contra grupos que desenvolvem trabalho social; e para o deslocamento forçado de populações estabelecidas em locais que se quer implantar megaprojetos, como no caso do distrito de Guadalupe Bravos, em Ciudad Juárez, onde será construída uma ponte para ligar México aos Estados Unidos.
Segundo relatório do Observatório de Deslocamento interno (IDMC), desde o início da gestão do presidente Felipe Calderón, em 2006, 230 mil pessoas sofreram deslocamento forçado. Apenas em 2009 foram 120 mil.
Também há grande quantidade de ocorrências de desaparições forçadas. Entre 2006 e 2010, foram 26 casos, segundo a Campanha Nacional contra a Desaparição Forçada. Nenhum caso foi julgado e os familiares das vítimas recebem ameaças quando exigem justiça.
Dos 26 desaparecidos, pelo menos 13 eram dirigentes de organizações sociais. Do total, 15 se desconhece o paradeiro; 7 foram vítimas de execuções extrajudiciais e 4 foram liberados nos primeiros 15 dias de desaparição. Militares, marinheiros e Polícia Federal são os principais apontados. Há controvérsia sobre os números e os meios de comunicação apontam até cinco mil casos entre 2006 e 2011.

domingo, 28 de agosto de 2011

Adolescente morre durante protestos no Chile



Um adolescente de 14 anos morreu na madrugada desta sexta-feira (26) durante confrontos entre manifestantes e a polícia em Santiago, capital do Chile. Os violentos choques aconteceram no último dos dois dias da greve geral convocada pela Central Unitária de Trabalhadores (CUT), a maior central sindical do país.
A vítima foi identificada como Manuel Gutiérrez Reinoso. De acordo com meios chilenos, o jovem caminhava em companhia de seu irmão e de um amigo na localidade de Macul, na zona leste da capital chilena, quando foi atingido por um disparo. O local era um dos muitos focos de conflito durante a madrugada.
Um dos acompanhantes da vítima relatou à Telesur que uma "patrulha de carabineiros" [policiais chilenos] disparou contra eles, que se lançaram ao solo. Reinoso, no entanto, já havia recebido o impacto da bala.
Segundo o subsecretário do Interior chileno, Rodrigo Ubilla, durante os dois dias de paralisação geral no Chile houve 1394 pessoas detidas e 206 feridas.
Ubilla se negou a comentar se o jovem baleado foi atingido por um policial ou durante enfrentamentos dos manifestantes com jovens que tentavam impedir os protestos. Segundo ele, o caso será investigado.
A violenta noite concluiu a paralisação de 48 horas convocada pela Central Unitária de Trabalhadores, à qual aderiram estudantes e professores, que há três meses protestam para exigir educação gratuita e de qualidade.
Os trabalhadores também protestam contra o plano de reformar a Codelco, estatal de mineração que é a maior produtora de cobre do mundo. Eles temem a privatização, negada pelo governo. São pontos de reivindicação, ainda, a realização de uma reforma tributária e uma nova constituição para substituir a atual, imposta durante a ditadura militar de Augusto Pinochet (1973-1990).
A greve nacional desta semana é a primeira que o presidente Sebastián Piñera enfrenta em seus 17 meses de governo. O ministro porta-voz do governo, Andrés Chadwick, acusou a CUT de oportunismo, ao declarar que a causa dos protestos era claramente a educação pública. Camila Vallejos, uma das líderes estudantis com maior visibilidade no país, afirmou no entanto, que os trabalhadores e estudantes sempre estiveram juntos e que suas demandas são sociais.
O líder da CUT, Arturo Martínez, classificou como exitosas as marchas em nível nacional e fez um chamado para que o governo "escute a voz do povo". Segundo ele, mais de 600 mil pessoas participaram dos dois dias de protesto em todo o país.
Ainda não foram divugadas informações sobre as próximas manifestações, mas os estudantes deverão se reunir neste final de semana para estabelecer a data dos novos protestos.


Ocupação da reitoria por estudantes em Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo em apoio aos funcionários


O movimento estudantil das universidades federais está mobilizado em apoio à greve dos funcionários e por melhorias como a assistência estudantil, bolsas e moradia. UFSC, UFPR, UFES e UFF tiveram as reitorias ocupadas.
Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em Florianópolis mais de 600 aprovaram a ocupação da reitoria e foram feitas barricadas com pneus. O prédio agora é controlado pelos estudantes. O prédio é o centro político e importante no andamento da universidade e a sua ocupação é um enfrentamento e uma pressão para o atendimento das reivindicações dos funcionários.
No interior do prédio foram montadas barracas para que os manifestantes. Os estudantes reivindicam melhorias na estrutura da UFSC e relatam como é inviável o funcionamento da universidade sem o atendimento das reivindicações dos funcionários em greve. A biblioteca e restaurante universitário estão fechados a mais de um mês.
Na sexta-feira dia 26 de agosto, os professores da Universidade Federal do Espírito Santo decidiram em assembleia paralisar suas atividades e 200 estudantes ocuparam a reitoria com cartazes e gritos de ordem desde o início da tarde daquele dia. Os representantes estudantis, favoráveis à paralisação do magistério e dos servidores, ocuparam a Reitoria para manifestar o apoio.
Para ampliar a adesão à ocupação e pressionar o governo para o atendimento das reivindicações, os estudantes pretendem aprovar a greve estudantil.
Os funcionários de mais de 40 universidades estão paralisados desde o início de junho de 2011. Eles reivindicam reajuste salarial e o fim da medida que privatiza os hospitais universitários.
As ocupações de reitoria e greve estudantil devem se generalizar por todo o País e impor uma derrota na política da burocracia e do governo de destruição da universidade pública.


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Privatizações: lucro privado, financiamento público


A propaganda neoliberal procurou apresentar as empresas estatais como um “peso morto” para a economia nacional e que seus custos teriam que ser arcado pela população brasileira. A solução neste caso seria a privatização das empresas estatais. Após pouco mais de duas décadas desta política é preciso abrir um amplo debate sobre suas graves conseqüências para o país e a classe operária. Principalmente neste momento, onde o governo Dilma Rousseff quer liquidar o que FHC, Collor, Itamar e Lula não conseguiram privatizar.
Em todos os casos o que se tem verificado é que, ao contrário da propaganda oficial, é a população quem é obrigada a financiar o lucro dos capitalistas. E que as privatizações não tem diminuído os gastos do governo. Pelo contrário, tem aumentado por causa do financiamento dos capitalistas via orçamento federal.
O maior exemplo disto é o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que de veículo de intervenção do Estado na economia se torna o grande financiador das empresas estrangeiras que adquiriram estatais. O BNDES foi fundamental para os investimentos estatais em infra-estrtura e no processo de industrialização até os anos 1970. Foi ele quem financiou empresas estratégicas em diferentes segmentos da economia como a Eletrobras, a Siderbras e Rede Ferroviária Federal.  
Sua conversão em financiador das privatizações é um das provas do parasitismo dos capitalistas sobre o Estado provocado pela política neoliberal.
Este processo de transformação do BNDES começou de maneira mais efetiva em 1991, durante o governo Collor, quando a política neoliberal ganha força. Neste ano, o BNDES altera seus estatutos e passa a financiar empresas sediadas no Brasil com capital estrangeiro, transforma-se no gestor do PND (Programa Nacional de Desestatização) e o maior operador de mercado de capitais do país.
Daquela época até hoje, o BNDES vai financiar praticamente todas as empresas que compraram estatais, na maioria das vezes vendidas para estrangeiros. O nível de financiamento do BNDES chega a tal ponto que em 1997 o banco torna-se o maior financiador de privatizações do mundo, colaborando com 16,5 bilhões de dólares. Uma cifra superior à desembolsada no mesmo período pelo Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Em todas as privatizações, o BNDES, um banco público, aparece como o principal articulador entre governo, capitalistas e especuladores.
Uma prova que as privatizações não têm como verdadeiro objetivo promover um “ajuste fiscal”, “diminuir as despesas do governo” e o “déficit público” etc. Sua função foi promover, em uma época de crise da economia, uma maior transferência de dinheiro público para os capitalistas através da liquidação das economias nacionais.   

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Quatro sem-terra são condenados no Pontal do Paranapanema


Quatro lideranças do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) foram condenados por formação de quadrilha e podem pegar quatro anos de prisão. A ação penal do Ministério Público do Estado de São Paulo resultou na condenação de José Aparecido Gomes Maia, Valmir Ulisses Sebastião, Valmir Rodrigues Chaves e Aparecida de Jesus Pereira.
O juiz Gabriel Medeiros, da comarca de Presidente Bernardes, ataca diretamente as lideranças chamando-os de arruaceiros e acusando-os de formação de quadrilha. "Os réus se utilizam de meios avassaladores, ao arrepio da lei, agredindo o Estado Democrático de Direito, uma vez que vêm praticando número indeterminado de ilícitos contra o patrimônio alheio."
O juiz acusa os métodos utilizados pelos trabalhadores para acelerar o processo de desapropriação e defende abertamente os latifundiários. As fazendas São Luiz e Guarani onde ocorreram as ocupações e foram os motivos para as condenações são griladas e já foram ocupadas mais de 20 vezes pelos sem-terra e nenhuma medida foi adotada por parte das autoridades governamentais para acelerar a desapropriação. O que ocorre é justamente o contrário, com aumento da repressão e intimidação dos trabalhadores.
Ofensiva do latifúndio
Essas condenações ocorrem num curto período após a prisão de outro líder sem-terra da região, José Rainha Junior.
Como foi colocado pelo Causa Operária na ocasião da prisão de Rainha, “a condenação configura uma perseguição não apenas a José Rainha, mas contra os sem-terra em geral” (co online, 15/03/11). Assim, com a atuação da justiça, tentam impedir a evolução da luta pela reforma agrária na região e no País.
A região é palco dos maiores conflitos agrários do País e existe uma concentração muito grande de ocupações de terra e é muito conhecida a grilagem de terras realizadas pelos latifundiários em todo o oeste paulista. E para agravar ainda mais a situação dos trabalhadores sem-terra, os governos estadual (PSDB) e federal (PT) estão atuando em conjunto para defender o latifúndio. Fato que pode ser visto na morosidade e repressão para desapropriação de fazendas griladas. Além disso, nenhuma família é assentada na há quase uma década.
É preciso denunciar a ofensiva do latifúndio contra os sem-terra e o apoio do governo do PT ao latifúndio. Não à prisão dos trabalhadores que lutam pela reforma agrária.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Bolívia - A 40 años del golpe de Bánzer


Para muchos no parece que haya pasado tanto tiempo, ya que todavía están en nuestra memoria la angustia, la decepción, la bronca de aquel 21 de agosto que tronchaba una época de auge de masas, de atrevimiento popular, de sueños socialistas, de un comienzo de dignidad nacional. Cierto que también había desmesuras e inconciencia en muchos dirigentes y organizaciones que, desconociendo la realidad profunda del país, creían que era la hora de provocar y asustar a los sectores conservadores. Pero esas desmesuras tenían que ser corregidas por los propios actores y sectores y actores sociales, en ningún caso por las Fuerzas Armadas que tienen como misión la salvaguarda de la patria y no su sometimiento a dictados imperiales o a planes alevosos y criminales como aquel Plan Cóndor.

Pese a los cuarenta años transcurridos, tenemos claro en la memoria que aquel golpe y aquel gobierno fueron la negación del país y del ser humano, que convirtieron en sistema la muerte, la tortura, el espionaje y la mentira, y que sometieron el país a designios extranjeros. Y quedan todavía miles de testigos de lo que fue aquella furia antipopular y antinacional, que quedó plasmada en la frase del dictador-presidente, dirigida a las masas campesinas todavía sometidas a esa gran farsa que fuera el Pacto Militar-Campesino: “Si ven a un comunista mátenlo, yo respondo”.

Ese hombre que se creía dueño de la vida ajena, y que más tarde también se sintió dueño de la fortuna ajena, maltrató al país durante siete años, y cuando un par de años más tarde se encontró con otro que estaba dispuesto a pedirle cuentas —Marcelo Quiroga Santa Cruz— mantuvo la misma posición y ordenó a su cancerbero García Meza que lo asesinara. Lo paradójico es que su cancerbero está pagando sus crímenes en Chonchocoro, mientras que él, el jefe máximo, fue aparentemente premiado con un período de presidencia “democrática” (en realidad otra falsificación de la voluntad popular, que fue posible por la claudicación y la traición de otras fuerzas que volcaron el voto popular a favor del viejo enemigo). Pero la vida es implacable, aquel “período” ni sería realmente tal ni mucho menos aparecería como democrático.

En todo caso lo curioso fue que sus seguidores se dieran el lujo de aparecer como paladines de la democracia, y fungieran de parlamentarios y ministros de gobiernos constitucionales, y se encaramaron en el Poder Judicial, y el colmo es que hoy muchos de ellos se dan el lujo de afirmar que nuestro actual gobierno es nada menos que “dictatorial” (y pueden darse ese lujo sin que nadie a su vez ordene matarlos).

Por supuesto no se trata de buscar venganza —la vida se ha encargado de eso— pero sí de mantener viva la memoria, y de ser capaces de comparar aquella década, la de los años setenta, con la que acaba de terminar, la que empezó el año 2000 (cuando el pueblo de Cochabamba sometió al antiguo dictador), porque esa comparación nos va reforzar las ganas de vivir y de luchar.

Un símbolo de todo esto puede ser el cerro de Laikakota en La Paz. Hace 40 años fue el símbolo más concentrado de la masacre de jóvenes cuyo delito era soñar con una patria diferente, fue un cerro regado con sangre y teñido de horror. Hoy ese mismo cerro se ha convertido en un espacio verde y apacible a cuyo alrededor se va extendiendo un parque urbano donde se puede ver a niños y niñas jugando y aprendiendo, y todo eso con la subvención del estado (en su instancia municipal). La colina de la sangre y el asesinato se ha convertido en un espacio del Vivir Bien, ¿no podemos interpretar eso como el símbolo del sentido que tuvo aquella lucha y de lo equivocados que estaban el golpista dictador y sus seguidores?

Para eso sirve el conmemorar, para que nuestros ojos sean capaces de percibir el presente y las opciones que nos ofrece, de modo que nunca más demos pretexto a los señores de la muerte para que se nos metan en la vida, en nuestra vida.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O BRASIL E A CRISE

Uma análise sobre a situação atual da economia brasileira, em relação com o mercado mundial e a crise que se desenrola.

As bolsas caem, as bolsas sobem, mas mesmo o burguês mais otimista não pode deixar de ver que a economia mundial passa por uma nova crise. Na realidade, a continuação da crise que explodiu em 2008... Se aquela apareceu como uma crise no sistema bancário, essa aparece como uma crise fiscal. Entretanto, o que está por trás de ambas é a velha crise de superprodução do capitalismo.

Em 2008/2009 os bancos e as grandes empresas endividadas foram salvas com o dinheiro público. A atual crise econômica, com as dívidas impagáveis dos Estados, tem sua origem principal exatamente nesses trilhões de dólares despejados pelos governos para conter a crise passada. O capitalismo é como um homem doente, em que cada remédio utilizado para prolongar sua vida causa piores efeitos colaterais.

Os governos europeus e dos EUA, para fechar a conta, têm utilizado como palavra da moda a AUSTERIDADE, o seu significado prático é o corte de direitos sociais conquistados pela luta dos trabalhadores, um brutal ataque ao bem-estar social especialmente na Europa.

No Brasil, a crise iniciada em 2008 não foi uma “marolinha”. O PIB em 2009 teve retração, ficando em 0,2% negativo! A saída encontrada pelo governo brasileiro na época foi a mesma dos demais países capitalistas: injeção de dinheiro público para salvar o setor privado, mais de 300 bilhões de reais tiveram esse fim.

Como já analisamos em outros documentos, o crescimento da economia brasileira tem se baseado tanto na abundante entrada de capital internacional atraído pela “paz social” garantida pelo governo de coalizão, quanto no crédito fácil aos consumidores.

Os brasileiros nunca estiveram tão endividados: cartão de crédito, cheque especial, crédito consignado, financiamento de imóveis e veículos, etc. Apenas o endividamento das pessoas físicas aumentou R$ 168 bilhões nos últimos 2 anos (LCA Consultoria). Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em um ano o número de famílias endividadas subiu 10%, era 54% em junho de 2010 e passou para 64,1% em junho desse ano. Outro dado dessa mesma pesquisa nos mostra que o número de famílias muito endividadas subiu de 12,9% para 16,6% no mesmo período.

Uma outra pesquisa, da agência de avaliação de crédito Serasa Experian, traz outros números preocupantes para os capitalistas: a inadimplência das pessoas físicas subiu 20,6% de janeiro à maio desse ano e a proporção de empréstimos com pagamentos atrasados por mais de 90 dias vêm crescendo rapidamente nos últimos meses e deve chegar a 8% até o final do ano.

O crédito fácil para fazer a economia girar é uma ferramenta limitada e que traz riscos (lembremos as conseqüências dos créditos subprime nos EUA em 2008), os sintomas descritos acima podem ser sinais de que, no Brasil, a utilização do crédito como alavanca para a economia tem chegado ao seu limite. O próprio governo tem utilizado de medidas, como a elevação dos juros, para conter o crédito, mas isso tem causado um endividamento maior das famílias. Uma boa parcela de novos empréstimos não está sendo utilizada para comprar novos bens, mas simplesmente para fazer a conta fechar, para pagar as dívidas anteriores. Menos crédito significa menos consumo, menos demanda, maior dificuldade para fazer a mais-valia se realizar com a venda das mercadorias.

Outro ponto importante é a dívida pública federal brasileira, que é a soma da dívida interna e externa do governo federal. Essa dívida chegou em junho de 2011 a R$ 1,805 trilhão! A dívida pública federal interna aumentou 3,86% em junho em relação ao mês anterior, passando para R$ 1,729 trilhão. A dívida externa declinou 6,29% em relação ao mês anterior, passando de R$ 81,08 bilhões para R$ 75,97 bilhões (US$ 48,67 bilhões), mas se somarmos também a dívida externa privada, o total da dívida externa chegou em maio de 2011 a US$ 389, 43 bilhões

O aumento da dívida pública, apesar de ser um valor estrondoso, não está no mesmo patamar de países com sérias dificuldades como a Grécia, em que a relação dívida/PIB em 2010 ficou em 148,6%; ou a Espanha que, em junho, estava com uma dívida equivalente a 63,6% do PIB; ou mesmo dos EUA que, em agosto, ultrapassou com sua dívida os 100% do PIB. Segundo a Febraban, a dívida pública brasileira deve terminar 2011 equivalendo a 39,2% do PIB.

Apesar da situação fiscal no Brasil não estar tão crítica se comparada a outros países, ela também não está tão confortável e piora velozmente, sendo que essa velocidade pode aumentar com uma nova crise mundial.

O Brasil, como um país semi-colonial, é dependente das economias imperialistas. A crise na Europa e nos EUA terá inevitavelmente seus reflexos na economia nacional. O Brasil blindado é um mito.

Um fator importante na equação da economia brasileira são as exportações de produtos básicos. A China hoje é o maior importador de produtos básicos brasileiros. No primeiro quadrimestre de 2011 a China comprou 29,14% de todos os produtos básicos exportados pelo Brasil. A China sozinha significa para as exportações brasileiras praticamente o mesmo que os EUA e toda a União Européia juntos. Uma crise mundial deve trazer também sérias conseqüências para a China, além de ser a maior detentora de títulos da dívida pública americana, depende em boa medida para seu crescimento do mercado externo.

O ministro da fazenda, Guido Mantega, sabendo que o Brasil não é uma ilha, já anunciou que a ordem na política fiscal agora é a austeridade.

O curioso é que essa austeridade nos gastos públicos tem sido válida só para os gastos sociais, o governo não demonstrou nenhum pudor em gastar R$ 97,8 bilhões apenas com pagamento dos juros da dívida pública no 1º semestre de 2011, dinheiro que foi para os especuladores que investem nos títulos da dívida brasileira, atraídos pelos altos juros. Além de, nesse ano, o tesouro repassar mais R$ 55 bilhões ao BNDES para seus conhecidos empréstimos “de pai pra filho” para a iniciativa privada.

Não podemos esquecer também dos presentes dados aos empresários com o Plano Brasil Maior, entre eles a desoneração da folha de pagamento. Um presente que será pago pelos trabalhadores, como explicamos no artigo “Desonerar a folha é onerar os trabalhadores” –ver o artigo aqui

No inicio do ano, R$ 50 bilhões foram contingenciados do orçamento, ou seja, R$ 50 bilhões que foram aprovados no orçamento de 2011 para ser utilizado com educação, saúde, cultura, infra-estrutura, etc, foram retidos pelo governo. Com o agravamento da crise na semana passada, o governo já anunciou que pretende transformar esse contingenciamento, que geralmente é liberado durante o ano, em corte efetivo da verba!

No 2º semestre teremos uma série de campanhas salariais, as coisas não serão tão fáceis como nos anos anteriores. Especialmente para os servidores públicos. O governo, dando as costas para os trabalhadores para atender os interesses dos patrões, tem alimentado um choque com a classe que o elegeu.

Não podemos prever com exatidão a intensidade e a duração dessa nova crise econômica mundial e, portanto, da crise no Brasil. Assim como não podemos prever com absoluta certeza o nível de acirramento da luta de classes no Brasil e no mundo no próximo período.

Entretanto, é nítido que uma nova crise se abate sobre a economia mundial e temos diversos exemplos do aumento da luta de classes (revolução árabe, greves gerais na Grécia, jovens nas ruas da Espanha, do Chile e mesmo a rebelião em Londres). Esse contexto mundial está presente e influenciando a situação brasileira, certamente não teremos o mesmo nível de crescimento econômico experimentado no último período (o próprio governo admite isso) e também temos demonstrações de uma elevação de tom do movimento operário (notem as últimas resoluções da CUT).

Devemos estar atentos para essas mudanças na situação política para estarmos em sintonia com a classe trabalhadora, lado a lado em suas lutas, explicando pacientemente e da forma mais adequada o que ocorre e a necessária luta em direção à tomada do poder para acabar com esse sistema contraditório, em que tanta riqueza é produzida e tanta pobreza se abate sobre a maioria do povo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Espanha já tem mais de 10 milhões de pobres

A crise econômica na Europa já deixa 20% da população espanhola na linha da pobreza

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de pobres na Espanha cresceu mais de 7% nos últimos 20 anos. Segundo a pesquisa, um em cada cinco espanhóis pode ser considerado pobre, o que é equivalente a 21% da população ou 10 milhões de pessoas.
Em 1991 este mesmo índice era de 14%. De acordo com os parâmetros do governo espanhol, os pobres são classificados com renda familiar abaixo de 570 euros mensais o equivalente a R$ 1.300. Já as famílias com renda inferior a 215 euros ou R$ 490 são classificadas como de pobreza extrema.
A pesquisa ainda revelou que uma em cada quatro famílias espanholas não tem dinheiro para quitar as dívidas. O nível de desemprego no País é bastante assustador. São quase cinco milhões de desempregados, mais de 20% da população economicamente ativa. O desemprego atinge famílias inteiras. No primeiro trimestre deste ano, 11% das famílias espanholas tinham todos os integrantes desempregados. Há dois anos, em 2009, este percentual era de 4%.
Com este exército de desempregados, há uma massa descomunal de pessoas dependendo de programas sociais para sobreviver. Os mais necessitados deste “expediente” estão na faixa etária de 20 a 40 anos, com formação profissional e que antes da atual recessão eram bem remunerados e também proprietários de imóveis, ou seja, a maioria de classe média.
O desemprego em algumas camadas da população já se tornou crônico. Centenas de milhares de pessoas estão desempregadas há vários meses. Segundo a ONG Cáritas-Espanha, que antigamente ajudava principalmente imigrantes, ciganos e indigentes passou a receber pedidos de famílias espanholas de classe média, "com a falta de ofertas de trabalho, essas pessoas [de classe média] passaram a ser desempregados de longo prazo. Trata-se de uma crise que está mudando a vida das pessoas de maneira radical(...) tinham créditos bancários para pagar casas e carros e não sobravam recursos para economizar. Hoje solicitam caridade envergonhados. Jamais pensaram que passariam por isso", " (BBC, 16/8/2011).
 E mesmo a ajuda governamental é demorada. O prazo mínimo para atendimento nos programas públicos é de 65 dias. No ano passado, 950 mil pessoas requisitaram o auxílio “caridade” da ONG, entre 2009 e 2010 os pedidos aumentaram 35%.
Os níveis de pobreza da Espanha é um dos maiores dos 27 países da União Européia ficando bem perto da Romênia, Letônia e Bulgária.
O estouro da bolha imobiliária
Esta “próspera” economia entrou em crise também por meio da crise do mercado imobiliário que estava supervalorizado e que produziu uma bolha financeira que agora está afundando o País.
Entre os anos de 1994 e 2007 os imóveis espanhóis estavam valorizados até  175% e as ações no mercado financeiro subiram 130%.
A Espanha é um dos cinco mais importantes países da zona do euro que há seis anos tinha um mercado de trabalho considerado bastante promissor que empregava cerca de 500 mil pessoas por ano, entre elas muitos imigrantes.
A crise na Espanha é um reflexo direto do desenvolvimento da crise econômica europeia que está chegando aos grandes países da zona do euro como Itália, Alemanha e França o que pode levar toda região ao colapso econômico.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Operários das obras do Maracanã fazem paralisação


Mais de 1.500 operários que estão realizando as obras do Maracanã, no Rio de Janeiro, realizaram uma paralisação como forma de protestar contra as péssimas condições de trabalho e baixos salários.
De acordo com os trabalhadores, o estopim da greve foi a explosão de um barril que deixou um operário gravemente ferido. Ainda segundo os manifestantes, a vítima teve cortes profundos quando tentava lixar um tonel com resíduos inflamáveis para fazer uma lata de lixo.
Além da revolta pelas péssimas condições de trabalho, outra reivindicação da categoria é o aumento dos salários para R$ 1.180, auxílio refeição de R$ 110 e inclusão de plano de saúde.
A paralisação mostra a enorme tendência de luta dos trabalhadores, que como fica evidente com várias outras categorias, não estão minimamente dispostos a aguentar os ataques dos patrões. A categoria deve não só manter os protestos, como amplia-los. Essa é a única linguem que os patrões reconhecem e a única forma que os trabalhadores têm para garantir seus direitos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Flagrantes mostram roupas da Zara sendo fabricadas por escravos


Por três vezes, equipes de fiscalização do governo federal flagraram em São Paulo trabalhadores estrangeiros submetidos a condições análogas à escravidão produzindo peças de roupa da badalada marca internacional Zara, do grupo espanhol Inditex.
A apuração é de Bianca Pyl e Maurício Hashizume, da Repórter Brasil  – que acompanhou as mesmas ações retratadas na noite desta terça pelo programa A Liga, na TV Bandeirantes, e levou o nome da Zara aos TTs mundiais no microblog Twitter. Os dois jornalistas esmiuçaram o processo de produção e comercialização da empresa e trazem um relato completo do que pode estar por trás do mundo da moda:
Na mais recente operação que vasculhou subcontratadas de uma das principais “fornecedoras” da rede, 15 pessoas, incluindo uma adolescente de apenas 14 anos, foram libertadas de escravidão contemporânea de duas oficinas – uma localizada no Centro da capital paulista e outra na Zona Norte. Para sair da oficina que também era moradia, era preciso pedir autorização.
“Por se tratar de uma grande marca, que está no mundo todo, a ação se torna exemplar e educativa para todo o setor”, coloca Giuliana Cassiano Orlandi, auditora fiscal que participou de todas as etapas da fiscalização. A ação, complementa Giuliana, serve também para mostrar a proximidade da escravidão com pessoas comuns, por meio dos hábitos de consumo. “Mesmo um produto de qualidade, comprado no shopping center, pode ter sido feito por trabalhadores vítimas de trabalho escravo.”
A investigação da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP) – que culminou na inspeção realizada no final de junho – se iniciou a partir de uma outra fiscalização realizada em Americana (SP), no interior, ainda em maio. Na ocasião, 52 trabalhadores foram encontrados em condições degradantes; parte do grupo costurava calças da Zara. As informações puderam ser liberadas agora para não prejudicar os trabalhadores e o processo de fiscalização.
O quadro encontrado pelos agentes do poder público, e acompanhado pela Repórter Brasil, incluía contratações completamente ilegais, trabalho infantil, condições degradantes, jornadas exaustivas de até 16h diárias e cerceamento de liberdade (seja pela cobrança e desconto irregular de dívidas dos salários, o truck system, seja pela proibição de deixar o local de trabalho sem prévia autorização). Apesar do clima de medo entre as vítimas, um dos trabalhadores explorados confirmou que só conseguia sair da casa com a autorização do dono da oficina, só concedida em casos urgentes, como quando levou seu filho ao médico.
Quem vê as blusas de tecidos finos e as calças da estação nas vitrines das lojas da Zara não imagina que, algumas delas, foram feitas em ambientes apertados, sem ventilação, sujos, com crianças circulando entre as máquinas de costura e a fiação elétrica toda exposta. Principalmente porque as peças custam caro. Por fora, as oficinas parecem residências, mas todas têm em comum as poucas janelas sempre fechadas e com tecidos escuros para impedir a visão do que acontece do lado de dentro das oficinas improvisadas.
As vítimas libertadas pela fiscalização foram aliciadas na Bolívia e no Peru, país de origem de apenas uma das costureiras encontradas. Em busca de melhores condições de vida, deixam os seus países em busca do “sonho brasileiro”. Quando chegam aqui, geralmente têm que trabalhar inicialmente por meses, em longas jornadas, apenas para quitar os valores referentes ao custo de transporte para o Brasil. Durante a operação, auditores fiscais apreenderam dois cadernos com anotações de dívidas referentes à “passagem” e a “documentos”, além de “vales” que faziam com que o empregado aumentasse ainda mais a sua dívida. Os cadernos mostram alguns dos salários recebidos pelos empregados: de R$ 274 a R$ 460, bem menos que o salário mínimo vigente no país, que é de R$ 545.
As oficinas de costura inspecionadas não respeitavam nenhuma norma referente à Saúde e Segurança do Trabalho. Além da sujeira, os trabalhadores conviviam com o perigo iminente de incêndio, que poderia tomar grandes proporções devido a quantidade de tecidos espalhados pelo chão e à ausência de janelas, além da falta de extintores de incêndio. Após um dia extenuante de trabalho, os costureiros, e seus filhos, ainda eram obrigados a tomar banho frio. Os chuveiros permaneciam desligados por conta da sobrecarga nas instalações elétricas, feitas sem nenhum cuidado, que aumentavam os riscos de incêndio. 
Para Giuliana, a superexploração dos empregados, que têm seus direitos laborais e previdenciários negados, tem o aumento das margens de lucro como motivação. “Com isso, há uma redução do preço dos produtos, caracterizando o dumping social, uma vantagem econômica indevida no contexto da competição no mercado, uma concorrência desleal”.As cadeiras onde os trabalhadores passavam sentados por mais de 12 horas diárias eram completamente improvisadas. Alguns colocavam espumas para torná-las mais confortáveis. As máquinas de costura não possuíam aterramento e tinham a correia toda exposta (foto acima). O descuido com o equipamento fundamental de qualquer confecção ameaçava especialmente as crianças, que circulavam pelo ambiente e poderiam ser gravemente feridas (dedos das mãos decepados ou até escalpelamento).
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) lavrou 52 autos de infração contra a Zara devido as irregularidades nas duas oficinas. Um dos autos se refere à discriminação étnica de indígenas quéchua e aimará. De acordo com a análise feita pelos auditores, restou claro que o tratamento dispensado aos indígenas era bem pior que ao dirigido aos não-indígenas.
A primeira oficina vistoriada mantinha seis pessoas, incluindo uma adolescente de 14 anos, em condições de trabalho escravo. No momento da fiscalização, os empregados finalizavam blusas da Coleção Primavera-Verão da Zara, na cor azul e laranja (fotos acima). Para cada peça feita, o dono da oficina recebia R$ 7. Os costureiros declararam que recebiam, em média, R$ 2 por peça costurada. No dia seguinte à ação, 27 de junho, a reportagem foi até uma loja da Zara na Zona Oeste de São Paulo (SP), e encontrou uma blusa semelhante, fabricada originalmente na Espanha, sendo vendida por R$ 139.
De outra oficina localizada em movimentada avenida do Centro, foram resgatadas nove pessoas que produziam uma blusa feminina e vestidos para a mesma coleção Primavera-Verão da Zara. A intermediária AHA pagava cerca de R$ 7 por cada peça para a dona da oficina, que repassava R$ 2 aos trabalhadores. Peça semelhante a que estava sendo confeccionada foi encontrada em loja da marca com o preço de venda de R$ 139. Uma jovem de 20 anos, vinda do Peru, disse à reportagem que chegou a costurar 50 vestidos em um único dia. Em condições normais, estimou com Maria Susicléia Assis, do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco, seria preciso um tempo muito maior para que a mesma quantidade da difícil peça de vestuário fosse toda costurada.
Foi apurado que até a escolha dos tecidos era feita pelo Departamento de Produtos da Zara. O fabricante terceirizado encaminhava peças piloto por conta própria para a matriz da Zara (Inditex) na Espanha, após a aprovação de um piloto pela gerente da Zara Brasil. Somente após a anuência final da Europa, o pedido oficial era emitido para o recebimento das etiquetas. Na opinião de Luís Alexandre Faria, auditor fiscal que comandou as investigações, a empresa faz de tudo, porém, para não “aparecer” no processo.
Para a fiscalização trabalhista, não pairam dúvidas acerca do gerenciamento da produção por parte da Zara. Entre os atos típicos de poder diretivo, os agentes ressaltaram “ordens verbais, fiscalização, controle, e-mails solicitando correção e adequação das peças, controle de qualidade, reuniões de desenvolvimento, cobrança de prazos de entrega etc.”
Em resposta a questões sobre os ocorridos enviadas pela Repórter Brasil, a Inditex – que é dona da Zara e de outras marcas de roupa com milhares de lojas espalhadas mundo afora – classificou o caso envolvendo a AHA e as oficinas subcontratadas como “terceirização não autorizada” que “violou seriamente” o Código de Conduta para Fabricantes. De acordo com a Inditex, o Código de Conduta determina que qualquer subcontração deve ser autorizada por escrito pela Inditex. A assinatura do Código do Conduta é obrigatória para todos os fornecedores da companhia e foi assumido pelo fornecedor em questão (AHA).
A empresa disse ter agido para que o fornecedor responsável pela “terceirização ão autorizada” pudesse “solucionar” a situação imediatamente, assumindo as compensações econômicas dos trabalhadores e comprometendo-se a corrigir as condições de trabalho da oficina flagrada com escravidão.
Haverá, segundo a Inditex, um reforço na revisão do sistema de produção para garantir que não exista outro caso como este. “Estamos trabalhando junto com o MTE para a erradicação total destas práticas que violam não só nosso rígido Código de Conduta, como também a legislação trabalhista brasileira e internacional”. Em 2010, a Inditex produziu mais de 7 milhões de unidades de peças no Brasil, desenvolvidas, segundo a empresa, por cerca de 50 fornecedores que somam “mais de 7 mil trabalhadores”. O total de peças que estava sendo produzido irregularmente (algumas centenas de peças), adicionou a Inditex, representa “uma porcentagem inferior a 0,03%” da produção do grupo, que é um dos maiores do mundo no segmento, no país

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A ideologia Slow: da ecogastronomia à crítica da velocidade como vetor da globalização capitalista


"Há uma cultura equivocada da eficiência que relaciona um modo de vida do tipo workaholic como sinal de produtividade. Esta cultura da colonização da vida pessoal pelo trabalho está crescendo e produzindo mais doenças relacionadas ao estresse profissional do que efetiva produtividade”, declara Isabel Carvalho, em entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail. Segundo ela, a vida tumultuada da modernidade está interferindo na saúde da população, especialmente porque as pessoas não conseguem dedicar tempo para preparar uma alimentação saudável. "Quem hoje tem condições de investir um tempo significativo na seleção e preparo de alimentos frescos para si e sua família?”, questiona.
Na avaliação da pesquisadora, a indústria alimentícia relacionada às mídias determina "muito do que comemos”. Apesar disso, "o consumo tem se tornado um campo de luta política, de ações afirmativas e, portanto, um campo de possíveis contestações e dissidências em relação às políticas da indústria do alimento e das mídias que trabalham para vender esses produtos”.
Com base no conceito de Slow Food, Isabel Carvalho propõe uma ecogastronomia, quer dizer, a alimentação saudável deve ser entendida como um direito dos cidadãos. "A gastronomia como um direito humano já nasce em profunda sintonia com o movimento ecológico”, aponta.
Os temas desta entrevista serão aprofundados na palestra A ideologia Slow: da ecogastronomia à crítica da velocidade como vetor da globalização capitalista. Um movimento social sem pressa é possível, que acontece nesta quinta-feira, às 17h30, na sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU.
Isabel Carvalho possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, especialização em Psicanálise pela Universidade Santa Úrsula, no RJ, mestrado em Psicologia da Educação pela Fundação Getúlio Vargas, neste mesmo estado, e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O que podemos compreender por ideologia slow?
Isabel Carvalho – O ponto de partida do slow é a valorização do alimento como cultura e a defesa dos saberes, modos de vida, formas de produzir e estilos de consumir relacionados a uma comida saudável, limpa e justa. O movimento, assim conhecido, slow conjuga alimentação e gosto, mudança social e bem viver. A afirmação de identidades alimentares contra a padronização ganha materialidade nas chamadas "comunidades do alimento”. Trata-se de promover redes de agricultores, criadores, pescadores e produtores artesanais ao redor do mundo em torno de cadeias produtivas alimentares boas, justas e limpas. Slow atitude, ou "atitude sem pressa”, é parte deste estilo de viver, produzir e consumir que valoriza a biodiversidade e a sociodiversidade, bem como um ideal de bem viver que considera o direito ao tempo e aos prazeres de uma vida simples, recusando-se a ideologia que associa aceleração, eficiência e consumo ilimitado como ideal de uma vida bem sucedida.
Ao denunciar os dispositivos de sequestro do tempo e do empobrecimento da experiência humana, o movimento Slow critica um dos motores da sociedade da produção e consumo acelerados que eu chamaria de ansiedade improdutiva. Uma espécie de combustível desta sociedade, este sintoma psicossocial é a contrapartida psíquica da urgência e do clima persecutório que nos envolvem produzindo uma patologia social que tem feito das fobias e depressões um traço quase epidêmico dos tempos que vivemos. No contraponto, o movimento Slow defende ambientes de trabalho e de convivência menos coercitivos e, portanto, mais produtivos e criativos, bem como uma atitude reflexiva e serena face às nossas expectativas de aquisição e consumo.
Assim, o slowfood entrou em estreita sinergia com lutas altermundistas pelo comércio justo bem como com lutas socioambientais por modos de produção, produtos, produtores e consumidores ecológicos. Além disto, promete uma interessante fusão da dimensão prazerosa e sofisticada da ecogastronomia com os ideais de solidariedade e de convívio preconizados pelos defensores de uma vida simples ou "simplicidade voluntária”, como caminho para uma existência ecologicamente orientada.
IHU On-Line – E ecogastronomia, o que exatamente quer dizer?
Isabel Carvalho – Como se pode observar, entra na pauta slow uma agenda de proteção a um patrimônio de bens biológicos, sociais e culturais em risco de extinção. Tomada nesta perspectiva, a gastronomia como um direito humano já nasce em profunda sintonia com o movimento ecológico, o que se enfatiza na expressão que representa este movimento: a ecogastronomia. A adição do prefixo "eco” à ideia da boa alimentação como um direito significou uma importante conexão. Petrini, fundador e presidente do movimento Slow internacional, declarou sua intenção ao fixar esta nova sintaxe. O movimento pretendeu estender o mesmo tipo de atenção que o ambientalismo dedica aos animais selvagens ameaçados às plantas e animais domesticados, incorporando as ideias de defesa de alimentos "ameaçados” pela redução da biodiversidade das espécies comestíveis em nossa dieta.
De acordo com o sítio Slow Food Brasil, o conceito de ecogastronomia, "restitui ao alimento sua dignidade cultural, favorece a sensibilidade do gosto e luta pela preservação e uso sustentável da biodiversidade. Protege espécies vegetais e raças animais, contribuindo com a defesa do meio ambiente, da cozinha típica regional, dos produtos saborosos e do prazer da alimentação.”
IHU On-Line – Em que medida esse tipo de gastronomia está em sintonia com a sustentabilidade do planeta e da busca por uma alimentação de mais qualidade para os seres humanos?
Isabel Carvalho – A proposta desenvolvida por Carlo Petrini e os membros do Slow Food propõe um novo senso de responsabilidade na busca do prazer. É uma atitude capaz de combinar o respeito à diversidade das culturas do alimento. Neste sentido, poderíamos dizer que o ele sugere cultivar o interesse não apenas por uma ecogastronomia, mas também o que poderíamos chamar de uma etnogastronomia. Trata-se de valorizar aqueles que lutam para defender os modos culturais de produzir e preparar os alimentos bem como a biodiversidade no mundo todo.
Ainda dentro do princípio da ecogastronomia, o Slow Food apoia um novo modelo de agricultura, que é menos intensivo e mais saudável e sustentável, com base no conhecimento das comunidades locais. Este é o único tipo de agricultura capaz de oferecer formas de desenvolvimento para as regiões mais pobres de nosso planeta.
IHU On-Line – Poderia explicitar em que medida se relacionam a crítica da velocidade como vetor da globalização capitalista e a alimentação inadequada que vem crescendo?
Isabel Carvalho – Esta relação tem sido apontada por estudos de saúde pública e nutricional em sociedades industrializadas. A velocidade e a superexploração do trabalho, bem como as condições de vida que reservam, aos trabalhadores mais pobres, as maiores distâncias de casa e os piores meios de transporte, levam a uma vida com menor tempo para os cuidados humanos essenciais, como a alimentação. Mas o problema não se restringe as camadas mais pobres. Também os segmentos de trabalhadores melhor remunerados, que podem se localizar na cidade de forma mais próxima a seu trabalho e que têm acesso a meios de transporte mais confortáveis e rápidos e pode investir recursos financeiros em uma boa alimentação, também estão sobrecarregados. Há uma cultura equivocada da eficiência que relaciona um modo de vida do tipo workaholic como sinal de produtividade. Esta cultura da colonização da vida pessoal pelo trabalho está crescendo e produzindo mais doenças relacionadas ao estresse profissional do que efetiva produtividade. Quem hoje tem condições de investir um tempo significativo na seleção e preparo de alimentos frescos para si e sua família? Pouca gente tem.
IHU On-Line – Como podemos compreender o paradoxal aumento da obesidade e a continuidade da fome no mundo? O que há de errado na alimentação global?
Isabel Carvalho – Parece que não há nada de paradoxal nisso, se pensarmos em alguns fatores que estão relacionados a este fenômeno. Em primeiro lugar, a desigualdade na distribuição da riqueza na sociedade, o que se expressa numa dieta pobre em proteínas e rica em carboidrato para populações pobres. Depois, temos também a má alimentação que leva a obesidade estar relacionada não apenas à ingestão demasiada de alimentos, mas à ingestão de alimentos caracterizados por altas calorias e vazios em nutrientes, tipicamente alimentos prontos e industrializados, refrigerantes e outros itens que são de rápido consumo e baratos. A má alimentação não é privilégio de uma classe social; ela pode acontecer em todas as classes sociais. Mas penso que as populações mais pobres têm menos alternativas para investir tempo e recursos numa alimentação saudável.
IHU On-Line – Quem determina o que consumimos, o que comemos, o que está à disposição no supermercado?
Isabel Carvalho – Há uma indústria do alimento relacionada às mídias que promove estes alimentos e que determina muito do que comemos. Mas há também o poder de autodeterminação e de crítica do consumidor. O consumo, hoje, tem se tornado um campo de luta política, de ações afirmativas e, portanto, um campo de possíveis contestações e dissidências em relação às políticas da indústria do alimento e das mídias que trabalham para vender esses produtos. O movimento Slow é um exemplo, mas não o único. Os movimentos de consumidores que valorizam produtos ecológicos, por exemplo, tem forçado os supermercados a incluírem estes produtos em sua cesta de opções. Os consumidores que buscam produtos sem lactose ou sem glúten é outro exemplo.
Ainda estamos longe da situação ideal, porque nestes casos se trata de produtos mais caros e em pequena proporção dentro das grandes redes de supermercados. De qualquer modo, as mudanças são um indicador de que o mercado está atento para os movimentos e as preferências dos "consumidores alternativos”. Para compreender este fenômeno, vale a pena ler o excelente trabalho da professora Julia Guivant, da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, que tem pesquisado a relação entre consumo e mercado de orgânicos em grandes redes de supermercados.
IHU On-Line – Qual seu ponto de vista sobre a ligação entre personagens infantis a alimentos industrializados e altamente calóricos?
Isabel Carvalho – Sou a favor de um controle da mídia relativo à propaganda de alimentos aos quais você se refere (junk food) para crianças. As crianças não têm ainda capacidade crítica para decidir e são induzidas a uma má alimentação por personagens e recursos midiáticos que são parte de campanhas publicitárias da indústria de alimentos voltada para conquistar segmentos infantis. Penso que deve haver uma regulação que imponha responsabilidade social e cuidado com a saúde pública para a indústria de alimentos.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Uruguai - Megaempreendimento de celulose à custa da soberania do país


O presidente uruguaio José Mujica adiou o projeto que pretendia aprovar o Imposto à Concentração de Imóveis Rurais (ICIR) para as propriedades rurais maiores que 2.000 hectares, devido às cláusulas do contrato secreto fechado com o consórcio multinacional Montes del Plata. O consórcio é a união entre a Arauco, uma empresa chilena controlada por capitais especulativos imperialistas, segunda maior produtora mundial de celulose e que possui o maior patrimônio florestal da América Latina, e a Store Enso, de origem sueco-filandesa, maior produtora mundial de papel e cartão; possui o maior latifúndio do país: 250.000 hectares de terra destinadas à plantação de monoculturas de eucaliptos. No município de Conchillas, no departamento de Colônia, no mês de maio, foi iniciada a construção de uma fábrica de celulose com capacidade de produção de 1.450.000 toneladas, mesmo sem ter recebido a liberação ambiental da Direção Nacional de Meio Ambiente (DINAMA). A maioria dos 6.000 trabalhadores que serão contratados por dois anos para a realização da obra serão estrangeiros.
O ICIR afetaria 1.200 proprietários rurais, 2,5 % do total, que concentram 36% das terras do país. O preço da hectare de terra passou de US$ 340 em 1989 para US$ 3.114 em 2009, representando 25% de valorização anual nos últimos cinco anos, o que tem refletido a movimentação de capitais especulativos a partir dos países imperialistas devido ao esgotamento da especulação imobiliária, e a transformação dos países da América Latina em produtores de commodities para serem negociadas nos mercados futuros e de derivativos mundiais. Os impostos para o setor caíram 30% nos últimos dez anos, e a concentração da propriedade da terra tem aumentado sensivelmente (índice Gini de 0,76: a maior proximidade do número 1, indica maior grau de concentração). 
O contrato secreto com a Montes del Plata revela o caráter pró-imperialista do governo esquerdista da Frente Ampla
O contrato, revelado pela revista uruguaia Búsqueda, tem uma cláusula de confidencialidade, segundo a qual as partes se comprometem a não revelar o seu conteúdo. Entre os benefícios outorgados, o governo se compromete a compensar à empresa  no caso de ocorrerem “mudanças significativas no regime tributário ou em questão de licenças e autorizações que irão afetar negativamente as condições econômicas do projeto”. A empresa operará em regime de zona franca (onde não incidem os impostos locais), podendo ampliar a área máxima autorizada, que hoje é de 361 hectares, ficando livre para  solicitar a ampliação do local, se futuramente a fábrica aumentar ou forem incorporadas outras industrias no complexo. Foi autorizada uma porcentagem maior de empregados estrangeiros, que, de acordo com a lei atual, deveria ser de no máximo 25%.
O governo se compromete a facilitar a aquisição de uma área de 100.000 hectares dentro do raio de 200 quilômetros da fábrica, e a facilitar a substituição das áreas que ficarem localizadas mais longe. A empresa ficará desobrigada a cumprir a lei de segurança fronteiriça, que proíbe que os estrangeiros sejam donos de terras numa faixa de 20 quilômetros em área de fronteira seca ou fluvial. O Instituto de Colonização repassará o direito de compra de terras para a Monte del Plata, caso os proprietários rurais da região se disponham a vendê-las. As empresas anônimas subsidiárias da Monte del Plata poderão possuir propriedades rurais, contradizendo a legislação atual, e ainda ficarão isentas de impostos.
O governo “de esquerda” uruguaio, além de entregar a soberania nacional, tem promovido a ampla expansão da monocultura de soja e eucaliptos, inclusive permitindo o uso de sementes transgênicas,  ocasionando a degradação e poluição do solo e dos recursos hídricos. O objetivo principal é gerar recursos para o sistema financeiro mundial, dominado por um punhado de especuladores imperialistas, através do pagamento da dívida pública e o fornecimento de commodities para os mercados futuros. 

domingo, 14 de agosto de 2011

BCE não tem “cacife” para bancar a crise na Itália e Espanha

A política de compra dos títulos da dívida está fadada 

Depois que os juros da dívida pública da Itália e da Espanha subiram a um nível de mais de 6% na última semana, o Banco Central Europeu (BCE) iniciou a compra dos títulos das dívidas destes países para tentar “acalmar” o mercado financeiro. A medida fez com que a taxa recuasse para cerca de 5% o que de certa forma amenizou a crise.
Esta política adotada pelo BCE, no entanto, não vai poder ser levada a cabo por muito tempo, segundo o economista norte-americano, Nouriel Roubini. Em uma declaração feita à TV Bloomberg, o economista disse que “o BCE começou a comprar títulos da Espanha e da Itália, mas ele não pode fazer isso por muito tempo porque no caso da Grécia a gente falava em 56 bilhões de euros e no caso da Itália e da Espanha a gente fala de um mercado de cerca de 2 trilhões de euros para a dívida da Itália e 1 trilhão de euros para a dívida da Espanha”.
Para Roubini, o mundo está, inevitavelmente, diante de uma nova recessão, pois os países não podem mais socorrer os mercados financeiros. O dinheiro acabou e a crise está se alastrando para os grandes países imperialistas da Europa.
As opções que poderiam ser utilizadas pelo BCE são inviáveis como a injeção de mais dinheiro no mercado e um novo socorro aos bancos não seria viável do ponto de vista político já que há uma enorme oposição popular a esta política que foi amplamente praticada no início da crise em 2008.
A crise chega ao primeiro escalão
A entrada da Itália para o meio do furacão dos países da zona do euro é um sinal de que a crise atingiu o primeiro escalão da Europa, ou seja, não é mais a Grécia, Irlanda ou Portugal que estão ameaçados, mas um dos cincos países mais ricos da Europa e o sétimo mais rico do mundo.
A crise italiana, como ressaltou Roubini, é da ordem de dois trilhões de euros, muito superior ao montante envolvido no endividamento grego.
A Alemanha e a França, os países imperialistas de ponta da zona do euro, apesar de segurarem a crise parcialmente, também estão falidos.
A falência da economia da Itália coloca a crise em um novo patamar e pode levar ao colapso econômico toda a Europa, ameaçando a existência da zona do euro e do próprio euro.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Falência da zona do euro aprofunda a crise capitalista mundial

Novos pacotes de “austeridade” são lançados na Itália, Espanha e França, na tentativa de seus governos de conter a crise

Segundo foi publicado pelo jornal italiano Corriere della Sera, Jean-Claude Trichet, presidente do BCE (Banco Central Europeu), instou, no último dia 9, os governos europeus a reduzirem os seus déficits públicos. Sob pressão direta da Alemanha, ele exigiu, especificamente da Itália e da Espanha, a adoção urgente de cortes nos seus programas sociais, na saúde e na educação, como condição para o Banco comprar títulos dos tesouros italiano e espanhol nos mercados secundários com o objetivo de diminuir os seus valores. Adicionalmente, a exigência inclui a reforma da previdência, o aumento do imposto sobre o consumo, medidas que facilitem as demissões, um plano de privatizações e a poupança de 25 bilhões de euros até 2013.
Na França, o presidente Nicolas Sarkozy, interrompeu as suas férias e convocou uma reunião em caráter de emergência com os seus ministros da área econômica e o presidente do Banco Central, Christian Noyer, com o objetivo de elaborar um plano de austeridade fiscal que permita a redução do déficit, e ainda promover uma reforma constitucional que estabeleça limites para os futuros déficits fiscais. A proposta deverá ser apresentada no final do mês, no dia 24, por Sarkozy, em conjunto com o primeiro ministro, François Fillon, o ministro de Economia, François Baroin, e a ministra do Orçamento, Valérie Pécresse. Adicionalmente Nicolas Sarkozy se reunirá com a chanceler alemã, Angela Merkel, em 16 de agosto em Paris, para discutirem a reforma da governança da zona do euro.
Apesar das principais agências de qualificação de riscos terem mantido a nota da dívida pública da França em AAA, o nível de endividamento do país já atingiu 100% do PIB (Produto Interno Bruto). Segundo o economista-chefe da Generali Investments, Klaus Wiener, que gerencia 330 bilhões de euros (US$ 469 bilhões) em ativos, "estamos ficando sem países 'AAA'. Se a França tiver um 'downgrade' (rebaixamento da nota), isso levantaria questões sobre outros países também. Fundamentalmente, as finanças públicas não estão muito sólidas".
Nesta quarta-feira, dia 11,  os mercados financeiros mundiais voltaram a sofrer fortes quedas devido à crise na Europa, principalmente da Grécia, aumentando o temor de um aprofundamento da crise nos EUA. A bolsa de Nova Iorque sofreu quedas pela terceira vez nos últimos cinco dias, com uma baixa do índice Dow Jones de 4,63%, do Nasdaq em 4,09% e do índice Standard and Poor’s 500 em 4,42%. A bolsa de Paris caiu 5,45%, e a bolsa de Milão caiu 6,6% (a sua pior queda desde abril de 2009). A Ibex-35 de Madrid caiu 5,49%. A bolsa de Londres caiu em 3,05%, e a de Frankfurt caiu 5,13% (acumulando 19% de perdas em uma semana). Em Londres, o índice Financial Times caiu 3,05%. Os papéis financeiros muito expostos à crise grega sofreram as maiores perdas. As ações do banco francês Société Générale chegaram a cair mais de 20% e fecharam o pregão com uma queda de mais de 14%; as ações do BNP Paribas cairam 9,47% e as do Crédit Agricole caíram 11,81%. O FTSEurofirst 300, que mede o desempenho dos mais importantes papéis da Europa, caiu 3,96%, e o índice francês CAC 40 caiu 5,45%.
Os investidores estão tomados pelo pânico diante da enorme crise financeira e econômica que atingiu os principais países capitalistas, tornando a situação cada vez mais sem saída; a crise gira como um tornado que vai da Europa aos Estados Unidos e Japão falindo bancos, indústrias e Estados inteiros.
A combinação recessiva, inflacionária, liquidação do sistema monetário internacional e a falência completa das contas públicas é uma realidade cada vez mais próxima em todo o mundo, que já está levando a situações de crise e mobilizações revolucionárias. 
As reações contra a crise capitalista têm se manifestado em quase todos os países europeus. Os gregos tomaram as ruas durante quatro dias em junho, o movimento dos Indignados tomou as praças das principais cidades da Espanha; na Inglaterra, estourou nos últimos dias a revolta popular contra a crise em Londres e várias outras cidades. Os chamados “resgates” dos países em bancarrota liderados pelos governos da França e da Alemanha, com o objetivo de salvar e manter os altos lucros dos seus bancos imperialistas, podem levar ao aprofundamento da crise nesses dois países.
A montanha russa das bolsas nos EUA, Europa, Ásia e América Latina é um sinal claro da instabilidade e da péssima situação da saúde financeira e econômica do capitalismo mundial.