"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

sábado, 29 de maio de 2010

PM liberta12 Policiais Militares que torturaram e assassinaram motoboy

A Polícia Militar liberou, nesta madrugada, 12 policiais acusados de torturar e assassinar o motoboy Eduardo Luís Pinheiro dos Santos, de 30 anos. O motoboy foi assassinado no dia 9 de abril dentro de um quartel na zona norte de São Paulo.

Os 12 policiais militares estavam presos no presídio militar Romão Gomes, segundo a PM, a libertação deles ocorreu devido ao fim da prisão temporária de 30 dias.

O motoboy foi levado para o quartel depois de ter revidado um soco de um policial militar. Testemunhas afirmaram que o motoboy foi torturado, espancado e humilhado dentro do quartel, ele morreu antes de chegar ao hopsital.

Devemos exigir punição imediata aos assassinos e torturadores que têm a cobertura do estado para matar os trabalhadores.

terça-feira, 25 de maio de 2010

James Petras - O ópio dos intelectuais é a retórica esquerdosa dos presidentes progressistas


Entrevista do sociólogo estadunidense James Petras - 19/Abril/2010

Chury: Ouvintes, estamos a iniciar aqui o panorama de notícias internacionais, de comentários internacionais e como todas as segundas-feiras preparamo-nos para dar as boas vindas a James Petras, nos Estados Unidos. Petras, bom dia, como estás?

Petras: Muito bem Chury, estamos aqui a pensar sobre várias coisas no último período, agora que temos na Bolívia a convocatória de um grande festival – mais carnaval, digo eu – sobre o clima e o aquecimento, convocado por Evo Morales supostamente para a protecção da terra. E também recebemos notícias das Filipinas onde estão em processo de eleição presidencial e além disso umas reflexões sobre as condições económicas mundiais dos Estados Unidos nestes tempos frente ao desafio da China. Então há vários temas, não sei com o que queres começar.

Chury: Penso que este último é muito interessante para nós, não porque os outros não o sejam. Se quiserem avançamos este último e algum outro que poderia ser esta concentração sobre o clima que vai haver na Bolívia.

Petras: Neste sentido, estou a olhar o panorama em grande escala e a longo prazo, é evidente que o império norte-americano está num declive crónico e não catastrófico, mas sim numa direcção de queda. E isso tem a ver com facto de que a China investiu muito dinheiro no sector manufactureiro e ultimamente estendendo-o a indústrias desde as costas até o interior, com enormes investimentos em ferrovias, aviões, transporte marítimo, etc. Enquanto aqui nos Estados Unidos todo o sector financeiro domina de uma forma parasitária todas as indústrias produtivas, deixando cidades como Detroit e outros centros industriais devastados.

É preciso fazer um giro pelas principais cidades industriais para ver em que condições estão. Os parques industriais, por exemplo, estão totalmente abandonados, quarteirões e quarteirões de fábricas... Parece como se houvesse caído uma bomba nuclear, deixam só o esqueleto e ficam assim. Mas mais além há bairros com casas e casas e quarteirões e quarteirões de casas abandonadas; há centros de recreio abandonados, em decadência. Alguns lugares que receberam prémios de arquitectura e que agora são ocupados só pelos ratos e os drogados. E isso se vê em Detroit, por exemplo, onde é muito evidente.

Mas se alguém passar por outros centros industriais é o mesmo e enquanto prosperam a Wall Street e os financistas em Nova York e em Los Angeles, vivem num mar de abandono. Um turista que visita Nova York, poderia ser Manhattan por exemplo, e fosse ao teatro, a algum museu poderia perguntar "o que diz o Petras? Isso é falso. Olhe as exposições, os ricos, os restaurantes cheios". Mas esta visão turística proveniente da classe média de Montevideo é uma visão muito parcial e muito limitada, não leva em conta o que se está a passar com milhões de trabalhadores e todo o sector industrial.

Por esta razão agora há um perigo aqui. Como não podem entrar em competição com a China devido aos defeitos internos, pelas estruturas parasitárias, começam a culpar a China dizendo que é um comércio desigual, que é uma competição desleal; que utilizam mão-de-obra barata, que não aceita investimentos norte-americanos no sector financeiro. Naturalmente os chineses não querem passar à experiência da Wall Street e por isso impõem restrições à penetração estrangeira. E além disso, o facto é que na China os salários aumentaram nos últimos dois anos uns 15 a 20% acima da inflação porque há escassez de mão-de-obra e por esta razão os salários estão a crescer. Podem dizer-te que vêm de um baixo nível, para te convencer. É verdade, mas em cinco anos nas regiões industriais o salário quase duplicou e a tendência é nessa direcção.

E outra coisa é que a China não tem nenhuma força militar lutando no exterior, só tem forças armadas defensivas, ao passo que os Estados Unidos gastam US$900 mil milhões por ano, mais subvenções a Israel, etc. E isto obviamente está a prejudicar a economia civil. Enquanto a China canaliza recursos para os mercados externos, os Estados Unidos estão a gastar dinheiro que não tem retorno em bases militares. Os Estados Unidos têm 850 bases militares no exterior, em cem países, ao passo que a China não tem nenhuma base militar em nenhum país.

Enquanto os Estados Unidos constroem bases a China está a construir ferrovias, portos, investindo em sectores económicos. Enquanto a China sobe os Estados Unidos baixam e nesta situação há gritos constantes aqui para tomar medidas de represália contra a China, essa é a ameaça: um imperialismo que não pode rectificar-se, incapaz de reconhecer a sua própria culpa pelo que se está a passar e a projectar todos os seus defeitos para fora, e a China é o bodo expiatório.

Essa é a situação. E aqui nos Estados Unidos alguém pode perguntar: por que as pessoas não reagem frente a isso, por que baixam a cabeça e continuam a trabalhar em dois, três trabalhos, para tentar manter o nível de consumo? Esse é o grande desafio, entender este factor. Em pleno declive, em pleno empobrecimento, não há nenhuma mobilização dos negros com uns 20% de desemprego, que inclusive foi pior sob Obama do que sob Bush. Foi quase duplicada a taxa de desemprego entre os negros em pouco mais de um ano do governo do negro presidente que supostamente ia ajudar os negros. Não há nenhum programa contra a pobreza, pelo emprego, etc.

E por que os negros não se levantam? É um problema de consciência política que agora não há neste país, ou pelo menos não que se manifeste em organizações políticas. Não temos dirigentes políticos que possam mobilizar as pessoas e deixar claro que o problemas não vem da China, nem dos iranianos e sim da sua própria classe dominante, o sector financeiro e os industriais que canalizaram mais dinheiro para a compra e venda do que para a produção.

Mas como dizia, entre os negros, os políticos que existem estão pendurados nos partidos tradicionais, o Partido Democrata, cujo papel é simplesmente controlar as massas, pendurar em alguns pequenos postos os que mostram alguma capacidade. Os hispanos estão muito incomodados porque não receberam nenhuma remuneração pelo seu voto em Obama e continuam as restrições no tratamento dos imigrantes. Agora no estado do Arizona a polícia tem direito de deter qualquer pessoa em qualquer momento e pedir-lhe identificação. É algo insólito. Um latino ou alguém com uma pele tipicamente morena, a polícia salta dos carros e param-nos e se não tiverem os papéis levam-te para a esquadra e começa um interrogatório.

Temos inclusive casos de cidadãos de três gerações de origem latino-americana que agora têm casa, têm profissão e são parados nas ruas do Arizona onde agora há 500 mil imigrantes sem papéis. É uma situação tremenda mas essa é a forma como maneja aqui a classe dominante. É tratar de por os problemas no exterior, no outro. Ou é a China ou são os mexicanos que cruzam a fronteira e não temos nenhum líder que lhes diga olhem, não são mexicanos que estão a tomar postos de trabalho, são os capitalistas que não estão a investir para criar empregos. Essa é a situação, Chury, de um império em decadência mas que ainda não está no ponto de ser transformado.

Chury: Pareceu-nos uma análise magnífica, Petras. Falta falar da reunião do aquecimento global [NR] onde parece que os êxitos até agora foram mínimos.

Petras: Sim, e há uma coisa que me surpreende muito, que é toda a imprensa de esquerda, progressista, ter entrado neste jogo do Evo Morales de falar na Pachamama e na terra sagrada e não olhar a realidade. A realidade é que há mais de cem empresas mineiras estrangeiras ou copatrocinadas entre capital multinacional e o estado da Bolívia, que estão contaminando a água, o ar e as próprias terras. E não há qualquer discussão sobre o facto de que há cem empresas – o máximo de toda a América Latina – a extrair minerais e a contaminar o ambiente.

Vão para lá encantados com o discurso das terras indígenas sagradas, a Pachamama, etc, sem levar em conta o seu próprio meio ambiente. Em torno de Cochabamba, a duas horas de caminho para Potosí, há dois dias a comunidade indígena levantou-se e queimaram a agência do Sumitomo, que é uma empresa japonesa que está ali a explorar minas de prata e a contaminar a comunidade, convidada por Evo Morales; e todos os seus funcionários estão a apoiar a empresa. Os indígenas, indignados, ocuparam os escritórios, queimaram-no e continuam a protestar.

Mas apesar disso os intelectuais, os turistas de esquerda que vão de um Congresso para outro, não vão falar com esses indígenas, não vão vê-los. Vão voltar e a dizer: magnífica a política ambiental de Evo Morales. Vão trazer vídeos, tirar fotografias, gravar as palestras, enquanto em seu redor não há qualquer reforma agrária, as grandes plantações de 100 mil hectares continuam a concentrar a sua produção com produtos químicos fertilizantes e pesticidas. Graças às subvenções de Evo Morales as petrolíferas e empresas de gás continuam a canalizar os recursos para fora, etc, etc.

Por isso digo que não vou a estas conferências. Os presidentes convidam-me muitas vezes. Correa convidou-me para a sua inauguração mas não vou porque é uma forma de ser cúmplice desta hipocrisia de líderes supostamente progressistas que continuam a fazer os mesmos contratos com as multinacionais que os governos anteriores faziam. Por esta razão creio que a causa não avança a partir destes fóruns, porque não se discutem os problemas dos países que organizam a conferência.

Devemos notar que Evo Morales tem uma maquinaria envolvendo muitos dirigentes indígenas, uma maquinaria política que deu subvenções e dinheiro a estes dirigentes. E esses dirigentes vão aparecer nesta conferência, muitos, uns dois ou três mil, vão falar das terras sagradas e do grande presidente indígena, alguns inclusive querem nomeá-lo para o prémio Nobel e as pessoas vão sentir que esta manifestação é uma indicação da popularidade e do afecto existente. Mas não vão visitar as minas, ver as condições sub-humanas que existem não só entre os próprios mineiros como os efeitos que tem sobre a comunidade.

Não vão visitar as plantações para ver os aviões a lançarem produtos químicos e a afectarem os jornaleiros no campo. Esta é a grande tragédia da esquerda que continua com este ópio. O ópio dos intelectuais é precisamente a retórica esquerdosa dos presidentes progressistas. O novo ópio não é a religião e sim a retórica contra todos os males do mundo enquanto cometem os mesmos males.

Chury: Petras, lemos uma notícia sobre esse acordo de compra de armas modernas do governo do Brasil e este estreitamente de fileiras entre o poder militar dos Estados Unidos e o Brasil.

Petras: Bem, é uma política de Lula que sempre fala pela esquerda e trabalha pela direita. Há muito tempo que combina esta política, desde que foi eleito, praticando e implementando o programa do Fundo Monetário, com o excedente de 4,4% do orçamento a acumular reservas para garantir os bancos, enquanto se financia com alguns milhões os programas de pobreza, que dão aos mais pobre uns quarenta dólares.

Então ele tem uma dupla política. Mil milhões para os banqueiros e investidores e alguns milhões para os pobres. Na política externa tem relações com a Venezuela, condena a intervenção e o golpismo, e enquanto isso está a pressionar Chávez a abrir as portas para o capital estrangeiro. Passa-se o mesmo com a Colômbia, criticando as bases militares e depois firmando um acordo militar com os Estados Unidos. É uma combinação de populismo e conservadorismo. Criticar os Estados Unidos e firmar acordos; gastar 4,4 mil milhões em compras de armas enquanto os habitantes das favelas não têm um sistema de drenagem para evitar os desabamentos de lodo que destruíram mais de 300 vidas. Parece-me que esse é o carácter de Lula

domingo, 23 de maio de 2010

Crise permanente - Acordo Irã e Brasil e a convulsão popular na Europa e Ásia


O acordo nuclear assinado entre Brasil, Turquia e Irã é uma manobra capituladora diante da imposição do imperialismo. Pode, no entanto, facilitar um limitado programa nuclear iraniano por um período. O problema, no entanto, está em que os Estado Unidos e os demais países imperialistas estão determinados a manter o monopólio da produção de energia nuclear por motivos políticos (militares) e econômicos. Enquanto isso os trabalhadores gregos e tailandeses intensificam as lutas contra seus governos


Na última semana, o governo brasileiro em parceria com o governo turco formalizaram o acordo nuclear com o Irã. O fato foi destaque internacional que fez com que os Estados Unidos iniciassem uma articulação entre os países para impedir a viabilização do acordo, embora este se encontre totalmente na linha formal das decisões imperialistas da ONU.

O acordo, apesar das aparências e do desacordo com a política dos EUA é mais uma capitulação diante do imperialismo e foi o resultado de uma campanha internacional feita pelo imperialismo para aprovar sanções contra o Irã.

O acordo prevê que a Turquia seja um intermediário entre o Irã e os países que participam do acordo, como por exemplo, a França e a Rússia. O Irã vai enviar 1.200 quilos de urânio enriquecido a 3,5% para a Turquia e esta vai repassar para a França e a Rússia que irão devolver 120 quilos de urânio enriquecido a 20%. O prazo para esta “devolução” do urânio foi estipulado em um ano. O urânio enriquecido a 20% é de baixa intensidade já que para a construção de uma bomba atômica, precisaria de um enriquecimento maior que 90%. É um cumprimento das exigências formais do imperialismo, ou seja, a garantia da utilização para “fins pacíficos”, mas não vai deter a ofensiva norte-americana e do imperialismo em geral, que nunca sonharam em se deter nesse ponto.

Os governos dos países atrasados, inclusive os nacionalistas, como do Irã, sujeitam-se à exigência absurda dos grandes poderes coloniais que exigem o seu desarmamento.

Este acordo ainda delimita que o Irã e a Turquia serão supervisionados pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Os 20% de enriquecimento do urânio é permitido, inclusive, pela AIEA.

Os Estados Unidos, como se esperava, acusam o Irã de que não cumprirá o acordo e que terá em mãos um poder incontrolável.

Entre os países imperialistas, muitos estão fazendo coro com os Estados Unidos. O governo alemão declarou que a proposta original da AIEA não poderia ter sido trocada por um acordo entre países.

Outro ataque veio de Israel, por meio do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu que acusou o Irã de oportunista porque vai usar o acordo para ganhar tempo para construir armamento nuclear. Ainda classificou os governos turco e brasileiro de ingênuos. E chamou os outros países a boicotarem o Irã e manter as sanções contra o País.

Mas o acordo ainda terá que passar pelo crivo da AIEA que pode não aceitá-lo. De qualquer forma com a ameaça imperialista de um lado e com o acordo concluído pelo Irã, de outro, existe uma debilidade política dos dois lados.

Primeiro por parte dos Estados Unidos que não conseguiram impedir a realização do acordo e não têm sido bem sucedido na aprovação de sanções contra o Irã ao se aliar com os países que mantém acordos comerciais com o governo iraniano.

O Irã também teve que ceder, pois assinou um acordo onde terá urânio enriquecido fora do próprio país e isso dificultará o andamento do programa nuclear. Um acordo, nestes termos, demonstra certa fraqueza do governo Iraniano na tentativa de se impor contra o imperialismo norte-americano.

Mesmo com a assinatura do acordo entre Brasil, Turquia e Irã, é necessário que fique claro que ele ainda precisa ser aprovado pela AIEA e pelo Conselho de Segurança da ONU, ou seja, pelos Estados Unidos, que praticamente dominam estas instituições.

O impasse está no fato de que o Irã está se comprometendo em passar pela fiscalização da AIEA, o que coloca em xeque as alegações políticas dos Estados Unidos, pois o governo iraniano, com o acordo, estaria concordando em ser monitorado. Ou seja, estaria dentro das regras do Tratado de Não-Proliferação ditado pelo imperialismo, que indica a pesquisa e o desenvolvimento de energia nuclear para fins pacíficos e com a fiscalização da AIEA.

O imperialismo norte-americano alega, agora, que o acordo não vai ser seguido pelo Irã que continuará enriquecendo urânio no próprio País e vai impor novas capitulações do governo iraniano e dos demais governos dos países atrasados. A política norte-americana, portanto, não será a via pacífica, pois já informou que vai manter a aplicação de sanções contra o Irã. Resultado da “hábil” manobra de Lula e do governo do Irã: abrir caminho para uma ainda maior pressão imperialista.

O Brasil entrou na “jogada” como forma de viabilizar o acordo e adiar as sanções impostas ao Irã. O acordo, mesmo que ainda não aprovado pela AIEA já deixou o Conselho de Segurança da ONU abalado, pois a possibilidade de uma retomada das negociações com o Irã fez com que a China não adotasse a política norte-americana de sanções e pedisse pelo diálogo com o governo iraniano mostrando-se favorável à aprovação do acordo.

A insistência dos Estados Unidos em aplicar as sanções ao Irã mesmo com a disposição do governo iraniano em negociar e entrar em acordo deita por terra, na realidade, toda a aparência democrática imperialista do Tratado de Não-Proliferação, pois revela que não existem normas para esta ditadura dos países imperialistas, mas apenas a vontade e disposição arbitrária dos Estados Unidos em deixar ou não os países desenvolverem energia nuclear.

O que está por detrás deste ataque imperialista ao Irã com as sanções e a campanha de que o Irã vai produzir armamento atômico é a manutenção do monopólio sobre a produção de energia nuclear que garante, aos países imperialistas, liberdade irrestrita, enquanto os países de capitalismo atrasado passam por todos os tipos de proibições da parte dos donos do planeta. O imperialismo quer impedir que estes governos possam desenvolver energia nuclear para assegurar a sua dominação política e econômica sobre estes países.

Grécia em chamas

Em mais uma demonstração de força, os trabalhadores gregos realizaram mais uma gigantesca greve geral na última semana.

Na quinta-feira, dia 20, mais de 2,5 milhões de trabalhadores gregos pararam a Grécia para protestar pela quinta vez, este ano, contra o governo e as medidas de cortes de gastos que estão sendo impostas.

O chamado plano de austeridade implica nos cortes e congelamento de salários, corte do auxílio aos desempregados, aumento da idade da aposentadoria, entre outras medidas. Apesar da aprovação do governo, estas medidas ainda não foram colocadas em prática pelo governo grego, pois estão bastante apreensivos com a reação dos trabalhadores, pois a cada nova greve geral o número de manifestantes aumenta e a radicalização também.

O governo grego tenta a todo custo fazer com que os gregos aceitem as medidas para supostamente salvar a economia grega, mas os trabalhadores não estão dispostos a negociar

A greve desta última quinta-feira teve a participação de 2,5 milhões de trabalhadores. A paralisação aconteceu em escolas, bancos, meios de transportes, hospitais etc. Todos os comércios ficaram fechados. Os manifestantes foram transportados apenas para os locais das manifestações.

Desta vez a categoria dos jornalistas não paralisou, mas trabalhou apenas para cobrir a greve. O setor aéreo foi outro que também não aderiu totalmente, mas os trabalhadores da alfândega entraram em greve e prejudicaram mais de 50 vôos.

A greve reuniu tanto os sindicatos ligados aos setores públicos, principal alvo das medidas do governo grego quanto os sindicatos ligados ao setor privado.

Os manifestantes ocuparam diversos prédios públicos entre eles o Ministério do Trabalho impedindo a entrada de funcionários. No prédio do ministério foi pendurada uma faixa exigindo o fim das medidas de cortes públicos.

A greve gerou insegurança no mercado financeiro provocando a queda nas bolsas de valores. Na Ásia, por exemplo, a queda nas bolsas foi a maior em 18 meses. A desvalorização do euro também foi grande. O euro caiu em seu menor nível em 18 meses.

A situação da economia grega tem se agravado gradativamente, este ano, o número de trabalhadores com empregos é de 600 mil a menos que em 2009. No ano passado, 5 milhões de trabalhadores gregos estavam empregados, agora são apenas 4,4 milhões.

Entre as reivindicações levantadas, os trabalhadores passaram a exigir assistência para os que estão desempregados.

O policiamento também foi bastante intenso. Logo no início das manifestações, 36 jovens foram presos por serem considerados suspeitos. Os policiais gregos estavam também revistando, sem nenhum critério, homens, mulheres, crianças, idosos e etc.

Outras 1.500 pessoas foram consideradas, pela polícia, como “responsáveis” pela greve. As pessoas foram fichadas e caso houvesse algum incidente seriam penalizadas pelo ocorrido.

Mesmo com toda a pressão exercida pelo governo grego, seja com a força policial, com a imprensa burguesa ou com as medidas e os cortes, os trabalhadores já disseram que não irão recuar diante desta ofensiva que visa tirar direitos e atacar as condições de vida de milhões de gregos com a farsa da salvação do falido sistema econômico grego.

Tailândia: barril de pólvora

Os conflitos reiniciados na semana passada, na Tailândia, se intensificaram na última semana.

Com os constantes ataques do exército tailandês à capital, Bangcoc, os “camisas vermelhas” espalharam os ataques para mais de 21 províncias do País.

A ação dos vermelhos foi uma resposta a maneira como o exército atacou os trabalhadores, matando 19 pessoas na semana passada.

O governo de Abhisit perdeu o controle, e várias cidades foram tomadas pelos “camisas vermelhas”, ou seja, a maioria da população tailandesa.

Mesmo em Bangcoc os “camisas vermelhas” não deixaram por menos, depois do ataque do exército com tanques e armas pesadas, os vermelhos queimaram vários prédios.

As medidas repressivas não cessaram. O toque de recolher foi estendido para 23 províncias do Norte e Nordeste da Tailândia, além de estar sendo aplicado na capital.

Nestas cidades há ações dos "camisas vermelhas" contra diversos prédios do governo.

Em uma operação contra o acampamento vermelho localizado no centro da capital, pelo menos, quatro pessoas morreram e 50 ficaram feridas durante a operação militar.

Como forma de resistência aos incessantes ataques do exército, os “camisas vermelhas” provocaram mais de 20 focos de incêndios.

A crise no país é imensa e os manifestantes estão realizando incêndios e saqueando prédios comerciais enquanto deixam a cidade.

Os "camisas vermelhas" resistem à repressão como podem,queimaram o primeiro pavimento do prédio da Bolsa de Valores de Bangcoc,atacaram o "Canal 3" da televisão estatal, além de um teatro e o luxuoso centro comercial Central World. Os manifestantes colocaram nove mil pneus formando enormes barricadas.

A principal reivindicação dos manifestantes, os “camisas vermelhas” e os “camisas negras” é a dissolução da câmara baixa do parlamento tailandês. Exigem também a convocação de novas eleições.

O impasse ainda permanece na Tailândia e não tem hora para acabar. O imperialismo, por detrás da ONU (Organização das Nações Unidas) tenta acabar com o conflito, mas claramente defende a negociação para não intensificar ainda mais a situação. Entre os manifestantes, a tendência geral é de radicalização, apesar de alguns setores mais moderados, realizarem manifestações pacíficas. Este impasse na Tailândia só acentua a crise revolucionária que está se desenvolvendo na Ásia e na Europa. Um confronto inevitável que, à medida que avança, enfraquece ainda mais a burguesia mundial e o sistema capitalista como um todo.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Antonio Inácio Andrioli - O Científico e o Ideológico


“Na verdade, em nosso recrutamento universitário e no nosso recrutamento em geral, influenciamos fortemente nosso pessoal para um tipo de pesquisa não-científica” (Dr. Donald G. Manly, Diretor da Air Products and Chemical Incorporated).


A suposição de existência de uma ciência neutra e livre de condicionamentos ideológicos, como referência para a tomada de decisões políticas, continua atual. Diante da polêmica criada pelo plantio ilegal da soja transgênica no Brasil, vem crescendo o número de adeptos de um apoio incondicional à transgenia como portadora natural do progresso para a agricultura, e do repúdio à assim chamada “ideologização” do debate por parte dos críticos desta tecnologia. A atitude é autoritária, pois não suporta a possibilidade do pensamento diferente ou contraditório sobre o tema. Sob o título de ciência, os defensores da nova tecnologia se apropriam de artifícios externos ao debate para se qualificarem como autoridades, numa tentativa de imposição de seus argumentos. Ora, se o pressuposto é o científico, por que não ouvir todas as posições? A resposta é que a posição dos críticos da soja transgênica seria ideológica e só prejudicaria o debate. Mas, é possível separar ciência de ideologia? E que critérios estão sendo usados para qualificar uma posição de científica e a outra de ideológica?

A polêmica parece nova, mas é tão antiga quanto a idéia moderna de ciência. Na tradição herdada do positivismo, a ciência é concebida como autônoma e isolada dos conflitos sociais. Sua hipótese básica é de que a sociedade humana funciona com base em leis naturais invariáveis, neutras e, portanto, independentes da ação humana. As classes sociais, as posições políticas, os valores morais e as visões de mundo dos sujeitos envolvidos são encarados como empecilhos à objetividade científica e o pesquisador deve se esforçar para eliminar estas influências do meio social na sua pesquisa. Mas, como o pesquisador pode evitá-las, se ele é um ser social imerso na realidade, se a delimitação do seu objeto de estudo, as perguntas que faz e as interpretações que desenvolve já são influenciadas por sua história de vida, seus valores e sua visão de mundo?

Na Alemanha há um conto infantil muito famoso do Barão de Münchhausen, que pode servir para ilustrar essa pretensão de neutralidade dos positivistas. Conta-se que, certo dia, o Barão de Münchhausen, num de seus passeios a cavalo, afundou num pântano. Ele ia afundando cada vez mais e, como não havia ninguém para socorrê-lo, ele teve a brilhante idéia de puxar a si mesmo pelos cabelos, até que conseguiu sair, juntamente com seu cavalo, do atoleiro. Essa é a pressuposição dos positivistas: o cientista, preso a uma redoma de preconceitos e ilusões, consegue isolar-se do mundo que o cerca, ficando acima de qualquer interesse ou ideologia. O dilema dessa concepção é o de que os preconceitos e a visão de mundo do cientista são simplesmente ignorados, como se não existissem. O cientista permanece iludido, acreditando que é neutro e reproduz valores que consciente ou inconscientemente estão presentes, mas não devem ser encarados. É por isso que os positivistas, mesmo quando são sinceros na sua tentativa de se isolar no objeto de pesquisa, não conseguem se libertar dos seus preconceitos conservadores e acabam servindo ideologicamente às classes dominantes na sociedade.

A ciência não está isolada do mundo e os fenômenos sociais não podem ser explicados por leis naturais. A especulação científica parte de sujeitos humanos, como tentativa de conhecimento da verdade, numa relação com a totalidade dos aspectos sociais e históricos. O conhecimento científico é sempre transitório e socialmente relativo. A ciência reflete apenas uma maneira de pensar e, por isso, não é autônoma e não está isolada da luta de classes. Mesmo que não haja uma relação lógica direta entre fato e valor, há uma relação sociológica entre ambos, pois o conhecimento de um fato conduz a posições morais e políticas e esses valores estarão presentes para o pesquisador, o tempo todo, durante o processo científico. Neste sentido, não existe ciência de um lado e ideologia de outro, mas diferentes pontos de vista científicos, vinculados a diferentes pontos de vista de classe. Como não há critério absoluto para medir a cientificidade do conhecimento, é através da publicidade crítica, no embate das idéias, que os resultados de uma pesquisa podem ser avaliados, tendo em vista sua correspondência com a realidade. Mas, mesmo que um conhecimento científico tenha sido aceito, ele deve permanecer em condições de ser refutado no momento em que outra leitura da realidade possa superá-lo. Ele não é, portanto, sinônimo da verdade ou um dogma, mas resultado provisório de uma investigação humana num determinado período histórico e social e, portanto, suscetível a todas as idéias e valores presentes na sociedade.

A ideologia, entendida como visão de mundo, sempre estará presente no processo científico e seria muito ingênuo aceitar a hipótese de neutralidade dos intelectuais. Mas, no decorrer da história, foram atribuídos vários significados ao conceito de ideologia e muitos autores o utilizam num sentido negativo. Para Karl Marx, por exemplo, ideologia é sinônimo de ilusão, consciência deformada da realidade construída pela classe dominante. Para Karl Mannheim, existem dois tipos de ideologia: uma de caráter justificador da ordem social (assim como para Marx) e, outra, subversiva, com função crítica, que ele preferiu chamar de utopia. Para Antonio Gramsci, a ciência sempre é ideológica, porque resulta do processo histórico de desenvolvimento das classes sociais. Toda pretensão de verdade tem uma origem histórica e sua validade é provisória, como parte organicamente integrada numa estrutura social. Neste sentido, não é possível ao intelectual escapar da ideologia, seu conhecimento sempre estará ideologicamente situado. Assim como o conhecimento científico é relativo e provisório, ele também está impregnado de valores, e o cientista, consciente desta realidade, deve mover-se dentro dela para buscar o conhecimento objetivo e verdadeiro.

A questão da soja transgênica é muito exemplar neste aspecto. A soja Roundup Ready foi desenvolvida pela empresa Monsanto, que investe enormes recursos em pesquisa e em propaganda, com a clara intenção de faturar com a venda de sementes (através do pagamento de royalties pela patente da tecnologia) e herbicidas. Assim, temos, por um lado, os pesquisadores pagos pela Monsanto, que atuam em seus centros de pesquisa, em centros de pesquisa públicos e em universidades com financiamento da empresa, interessada em difundir sua tecnologia e dominar o mercado. Essa é a grande questão que está em jogo na liberação da soja transgênica no Brasil, pois sua liberação no país pode forçar os consumidores do mundo inteiro a consumi-la, já que, neste caso, não haverá mais soja convencional suficiente disponível no mundo. Somam-se, ainda, os profissionais de uma parte da mídia, cujas empresas recebem recursos da Monsanto vinculados ao seu programa de marketing e propaganda. Do outro lado, existem os cientistas que desenvolvem pesquisas sobre o mesmo tema, mas sem receber recursos da Monsanto, os representantes de organizações ambientalistas e de defesa do consumidor. Dos dois lados, portanto, é produzido conhecimento, mas com interesses opostos. Enquanto um lado trabalha com imensos recursos e uma ampla estrutura de pesquisa disponibilizados pelo investimento da Monsanto, que condiciona todas suas pesquisas a seus interesses, o outro lado chega a resultados científicos que contradizem todos os estudos difundidos pela empresa interessada na venda de sementes e herbicidas. Qual dos dois resultados é mais científico e qual é mais ideológico?

Os agricultores são influenciados por ambos os lados e procuram adequar o conhecimento disponível aos seus interesses. A junção de conhecimento com interesse se transforma em ideologia e as diversas organizações da sociedade se posicionam de um lado ou de outro seguindo esta mesma lógica. O governo, que é composto por partidos políticos e procura ampliar sua base de aliados, os quais também se posicionam diferentemente com relação à polêmica, é desafiado a posicionar-se diante de uma situação criada: parte dos agricultores plantou a soja transgênica ilegalmente, utilizando sementes contrabandeadas da Argentina e descumprindo o acordo feito no ano anterior, em que a comercialização da safra foi excepcionalmente liberada com o compromisso, por parte dos agricultores, de não plantá-la novamente neste ano. Diante disso, o governo, pressionado pela mídia, por parlamentares e governadores, por integrantes do próprio governo, pela Monsanto, por pesquisadores que defendem a soja transgênica e por organizações dos agricultores que afrontaram a lei, editou uma medida provisória, liberando o plantio da soja contrabandeada.

Quais foram os critérios utilizados para esta decisão? O governo Lula anunciou que sua decisão estaria baseada em critérios científicos. Mas, quais foram os critérios científicos utilizados que permitem a liberação de um cultivo sem a prévia apresentação do Estudo de Impacto Ambiental previsto legalmente neste caso? Quais são os resultados “científicos" apresentados pela Monsanto que já não tenham sido cientificamente refutados pelos pesquisadores críticos à adoção desta tecnologia? Na verdade, ao ceder à pressão política, permitindo o plantio da soja transgênica, este governo ignorou o princípio da precaução e tomou sua decisão mais ideológica até o momento que é, por ironia, contrária ao seu programa e à classe social que o elegeu.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Tailândia - Governo rejeita acordo para cessar-fogo. Milhares nas ruas rejeitam ordens de evacuar Bangcoc


A crise revolucionária que tomou conta da Tailândia no último período está longe de um desfecho. As lideranças dos camisas vermelhas não conseguiram um acordo com o governo para um cessar-fogo. Enquanto isso, milhares continuam nas ruas, apesar das ordens e da repressão para dispersar as manifestações


Pelo menos cinco mil pessoas continuavam nas ruas de Bangcoc, enfrentando a repressão do governo e o toque de recolher imposto à capital tailandesa, até o fechamento desta edição. Pelo menos 10 manifestantes foram presos durante a madrugada de segunda para terça-feira. Outros nove foram condenados e sentenciados, segundo a polícia.

Pelo menos 36 pessoas, a maioria das quais desarmadas, foram mortas pela polícia desde que os conflitos voltaram a se intensificar na última quinta-feira (dia 13). Desde o início dos protestos, em março deste ano, pelo menos 65 pessoas já morreram, segundo o ministério da Saúde tailandês.

Apesar dos apelos da ONU para que manifestantes e o governo cessem as hostilidades, o porta-voz do primeiro-ministro, Satit Wongnongtaey, afirmou que o governo não pretende negociar enquanto os manifestantes não pararem com os protestos.

“Confirmo que o governo sempre quis discutir, mas foi decepcionado pela Frente Única pela Democracia contra a Ditadura - isto é, as lideranças dos “camisas vermelhas” - dada a intervenção de uma liderança vinda do exterior”, disse Satit (CNN, 18/5/2010).

A polícia retirou mais de nove mil pneus colocados pelos manifestantes nas ruas para formar barricadas. A fumaça dos pneus queimando foi usada pelos manifestantes para encobrir os seus atiradores durante os conflitos com a polícia.

Os dois principais grupos liderando os protestos, os camisas vermelhas e os camisas negras, reivindicam que o governo dissolva a câmara baixa do parlamento e convoque novas eleições.

A situação chegou a um impasse. A ONU - e detrás dela, todo o imperialismo mundial - pressiona o governo para que chegue a uma resolução através de negociações. Entre as duas principais facções dirigindo os protestos, há tendências que vão desde à moderação dos camisas vermelhas, cujos protestos são, em geral, pacíficos, à radicalização dos camisas negras, que defendem o uso da violência contra as forças paramilitares colocadas pelo governo nas ruas para reprimir a população.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Irlanda: Igreja Católica recebe 197 novas denúncias de pedofilia


Irlanda: Igreja Católica recebe 197 novas denúncias de pedofilia


A Igreja Católica da Irlanda recebeu 197 novas acusações de pedofilia e maus tratos cometidos por padres contra crianças. As denúncias são mais uma demonstração da enorme crise da Igreja Católica, que se apresenta como a “defensora da vida”, mas que já possui centenas de milhares de processos de pedofilia, mostrando não só o cinismo como o caráter criminoso da instituição.

As denúncias foram levantadas pelo National Board for the Safeguarding of Children in the Catholic Church (NBSCCC), que fez o balanço do número de acusações levadas contra a Igreja no ano passado. De acordo com o NBSCCC, os relatos em sua grande maioria se referem aos anos 50 e 60, e estão relacionados com 97 dioceses e 110 instituições religiosas.

FORA O PADRE PELADO DE LONDRINA PRESO EM IBIPORÃ!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Evo Morales enfrenta a primeira greve geral de trabalhadores



Mais uma vez a Bolívia vive uma jornada de intensas lutas. Mas agora não estamos falando das mobilizações da ultra-direita no Leste do país, defendendo a “autonomia” ou massacrando camponeses, como ocorreu em Pando. Ou das mobilizações camponesas em apoio a Evo Morales e sua Constituição. Estamos falando da combativa e histórica classe trabalhadora da Bolívia, que desperta como um leão adormecido, após cinco anos de expectativa e paciência com o governo de Evo Morales.

Como não acontecia há muitos anos, a classe operária boliviana, sobretudo os trabalhadores das fábricas e os professores estão protagonizando mobilizações radicalizadas, contrárias às políticas anti-operárias do governo. Nas últimas semanas, as principais cidades do país foram palco de marchas e protestos de diferentes setores de trabalhadores, em rejeição ao miserável aumento salarial de 5% e à proposta de Código de Trabalho apresentada pelo governo. Essas mobilizações se expandiram como um rastilho de pólvora.

Nos cinco anos à frente da administração do país, Evo procurou desmontar o processo revolucionário aberto em 2003. Como dirigente indígena, com autoridade e apoio nos movimentos sociais, Evo Morales logrou desviar a revolução pela via de sucessivos processos eleitorais. Em outubro de 2008 pactuou com a burguesia empresarial e rural, uma nova constituição. Quando pressionado, o governo realizou mornas nacionalizações (com suculentas indenizações às multinacionais), aumentou os rendimentos do Estado, mas este não foi revertido em melhores salários e condições de vida para os trabalhadores.

Mas, para além do discurso de que se está conduzindo “um processo de mudança” e uma revolução democrática e cultural, a Bolívia continua sendo um país capitalista semi-colonial. Hoje a Petrobrás controla 60% da produção de gás, e as empresas privadas multinacionais controlam quase 70% da exploração de minérios no país.

A realidade é que o processo de mudança anunciado pelo governo não passa de uma grande farsa que já começa a ser percebida por vários setores sociais. O desgaste e retrocesso do MAS em importantes cidades, nas eleições de 4 de Abril, foram uma clara demonstração de que a lua de mel entre o governo, a classe operária e os movimentos sociais está acabando.

Os recursos naturais continuam nas mãos das empresas estrangeiras, e nestes cinco anos as condições de vida da classe operária boliviana seguem piorando. O salário mínimo é um os mais baixos da América Latina, não atingindo os 100 dólares (647 bolivianos). Cerca de 31,4% dos trabalhadores bolivianos ganham menos de um salário mínimo. O aumento de 5% equivale a 32 bolivianos; estudos indicam que o salário mínimo básico deveria ser de 1800 bolivianos. O desemprego, nas principais cidades, atingiu 11% em 2009. Hoje o trabalho informal no país chega a 62%.

A explosão de raiva dos trabalhadores das fábricas, em protesto ao aumento salarial de 5%, contagiou outros setores. Este setor, que faz pouco tempo, era uma das principais bases de apoio do governo no movimento operário, agora está na vanguarda das lutas contra as medidas do governo.

As mobilizações enfrentam três grandes inimigos: o governo, os empresários que apóiam a proposta do mesmo governo, e a direção da COB. O acordo entre empresários e governo, em torno do aumento de 5%, demonstra de qual lado está Evo Morales. Ambos afirmam que um aumento maior significaria inflação, mas na verdade, os 5% é uma forma de preservar os interesses dos empresários.

O governo tem dinheiro suficiente para atender às reivindicações dos trabalhadores. Mas não lhe interessa melhorar as condições de vida da classe operária e também não lhe interessa enfrentar os empresários. Hoje as reservas da Bolívia atingem os 8 bilhões de dólares, no entanto este dinheiro é mantido nos grandes bancos estrangeiros, como uma forma de gerar segurança jurídica aos investimentos privados, e financiar os mega-projetos do IIRSA.

Ademais, os deputados e senadores do novo “Estado Plurinacional” recebem cerca de 15 mil bolivianos por três semanas de trabalho, enquanto a maioria dos trabalhadores não recebe este montante em um ano de trabalho duro nas fábricas. Este não é o processo de mudança que reivindicaram os trabalhadores em 2003.

A direção da COB paga o preço por trair os trabalhadores

Cedo ou tarde os trabalhadores reconhecem os traidores e burocratas em seu seio. Chegou a vez de Pedro Montes, atual presidente da COB. Nos últimos dois anos, a COB passou a ser um braço do governo no movimento operário, e um obstáculo às lutas. Em todos os atos oficiais estava Pedro Montes ao lado de Evo Morales, enquanto as reivindicações dos trabalhadores eram postergadas. A COB negociava com o governo cargos, sedes sindicais e carros, à custa de subordinar-se às suas medidas.

Mais recentemente, Pedro Montes calou-se diante do nefasto Código de Trabalho do governo e do aumento salarial de 5%; isso foi a gota d’água que fez transbordar o copo. Nas últimas mobilizações, era comum encontrar um trabalhador com um cartaz que dizia “Fora Pedro Montes da COB” ou “Pedro Montes Traidor”.

27 de abril: cerca de 14 dirigentes operários entram em greve de fome no Escritório da Federação dos Operários de La Paz. O objetivo era pressionar o governo por um aumento salarial de 12%.

29 de abril: massiva mobilização dos operários nas ruas da cidade de La Paz, onde exigiam a renúncia da Ministra de Trabalho, Carmen Trujillo. Os trabalhadores carregavam cartazes denunciando Pedro Montes, dirigente da COB, como traidor por ter negociado com o governo o aumento de 5%. Dezenas de balões foram lançados ao Ministério de Trabalho. Os operários e a COD (NdT: Central Operária Departamental) de La Paz ignoram Pedro Montes e convocam uma marcha para o 1º de maio, sem a presença da COB.

No mesmo dia, realiza-se uma reunião ampliada nacional da Central Operária Boliviana. Pressionado pela mobilização e pela greve de fome dos operários, a direção da COB retrocede, e convoca uma marcha unitária para o 1º de maio; além disso, a plenária ampliada, contra a posição do dirigente da COB, define uma greve nacional para 04 de maio, em rejeição aos 5%.

30 de abril: No departamento de Oruro, à cabeça da Central Operária Departamental, dirigida por Jaime Solares, os trabalhadores, de maneira antecipada, realizam uma marcha pelo 1º de maio. É visível o descontentamento da classe operária de Oruro com o governo; também se ignora a Pedro Montes.

1º de maio: Pela primeira vez, em cinco anos, Evo Morales não participa dos atos do 1º de maio. Diferente do ano passado, os trabalhadores não estavam dispostos a marchar lado a lado com o governo. Temendo a reação dos operários, Pedro Montes, dirigente da COB, não participa do 1º de maio de La Paz (Vai para Huanuni, alegando problemas pessoais).

Na concentração do ato, os fabris realizam um comício. Ramiro Condori, fala em nome da COB, mas a massa operária, com apitos, não permite que ele continue sua intervenção. A marcha se divide. Por um lado estão a direção da COB, a FSTMB e outros setores sindicais ligados ao governo. Do outro estão os operários, as organizações e partidos de esquerda. Era visível a superioridade numérica da marcha dos operários comparada à marcha da COB, mas também por sua radicalização.

4 de maio: Os dias que antecederam à greve foram de intensas discussões entre os trabalhadores e o governo. Os ministros acusavam os trabalhadores de estarem contra com o “processo de mudança” e de haver infiltrados da direita nas mobilizações. A raiva dos trabalhadores aumentava ainda mais com as declarações e acusações oficialistas. A COB, para evitar a greve e maiores confrontos com o governo, buscava a negociação pelos bastidores. Mas o governo mantém-se irredutível no aumento de 5%. A primeira greve geral dos trabalhadores, durante os cinco anos do governo de Evo Morales, foi contundente, apesar do freio da COB.

As escolas e a maioria de fábricas de La Paz, Oruro e Cochabamba pararam. A partir das 11 da manhã, os operários e professores protagonizaram bloqueios e marchas por toda a cidade. Pela tarde, diferentes setores sociais, sem a presença da COB, realizaram uma grande marcha. Ao dar-se conta de que a greve foi de massas em diferentes setores, o governo partiu para reprimir os bloqueios. Os polícias, encapuzados, em motocicletas lançavam gás lacrimogêneo para dispersar a mobilização, que ainda assim continuava. Ao final da tarde os operários dirigiram-se aos escritórios do Ministério de Trabalho e tentaram ocupá-lo. O confronto teve como saldo a prisão de 15 trabalhadores e dois feridos.

Continuar a mobilização e exigir à COB uma Greve Geral por tempo indeterminado

Após a vitoriosa greve geral, é necessário continuar com as mobilizações para fazer retroceder o governo. Só com a unidade do conjunto da classe operária boliviana, podemos atingir a vitória nesta luta. Os setores combativos devem exigir à COB, uma Greve Geral por tempo indeterminado como única forma de impor os 12% de aumento.

O governo e a burocracia da COB tentam dividir os trabalhadores. Na marcha do 1º de maio os dirigentes da FSTMB lançaram cartuchos de dinamite contra os operários. Os mineiros devem passar por cima de suas direções e se unirem à luta.

Diante da cooptação da maioria das direções sindicais, a classe operária boliviana deve dar os primeiros passos na construção de uma nova alternativa de direção à COB, que esteja à altura de suas necessidades e não subordinada ao governo. Para isso os trabalhadores devem exigir a imediata convocação do congresso da COB, para tirar Pedro Montes e a burocracia oficialista.

· Continuar com a mobilização rumo a uma Greve Geral por tempo indeterminado, para derrotar o aumento salarial de 5%!
· Pela imediata liberdade dos 15 trabalhadores presos na greve!
· Derrotar o nefasto código de trabalho do governo!
· Exigir a imediata aprovação de uma nova lei de pensões solidária, com idade de 55 anos, contribuição tripartite e sob o controle dos trabalhadores!

domingo, 16 de maio de 2010

Crise política e econômica - Cortes por toda a Europa e mobilização na Tailândia


A política de cortes nos gastos públicos está se alastrando por toda a Europa. Depois da Grécia adotar as tais medidas de “austeridade fiscal” agora é a vez da Espanha, Portugal, Reino Unido e França anunciarem políticas semelhantes que colocam em evidência o caráter absolutamente geral desta nova etapa da crise capitalista mundial. Já na Tailândia novos confrontos entre os camisas vermelhas e o exército reacendem a crise no País



Na última semana a Comissão Européia reunida com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e os 16 países da zona do euro aprovaram a criação de um novo pacote para todo o continente europeu.

Este novo pacote, na verdade um megapacote de quase um trilhão de dólares tem como objetivo conter a crise generalizada dos estados falidos da zona do euro. Segundo o ministro das Finanças da Inglaterra, Alistar Darlin, o mais importante, independente do método, é manter a estabilidade da economia européia, ou seja, em linguagem, normal, evitar a falência em cadeia dos estados europeus: “no que diz respeito à Europa, há uma proposta separada para disponibilizar ajuda para os membros do grupo do euro como existe para países de fora da zona, como a Hungria e a Romênia. Faremos o que for necessário para garantir a estabilidade” (BBC 10/5/2010).

O valor total do pacote será de 750 bilhões de euros ou o mesmo que 975 bilhões de dólares que servirá como um mecanismo para financiar as dívidas dos países.

De longe, esta é a maior intervenção estatal realizada na história da Europa. Segundo economistas, "essa é a maior tentativa já realizada pelo BCE de dar suporte à Europa e pode marcar um ponto de virada na crise de confiança que atingiu a periferia da zona do euro nas últimas semanas" (Reuters, 10/5/2010).

Este montante será divido entre a Comissão Européia que vai pagar 60 bilhões de euros, isto inclui ajuda de todos os países europeus, os 16 países da zona do euro vão desembolsar outros 440 bilhões de euros e o FMI 250 bilhões de euros.

O requisito básico para que os países sejam beneficiados com o pacote aprovado é se enquadrarem nas “regras” impostas pela Comissão Européia que visa implantar de maneira agressiva a política de cortes nos gastos públicos ou chamado plano de austeridade fiscal, isto é, um ataque em profundidade contra as condições de vida das massas. Esta exigência é para que os déficits públicos dos países sejam reduzidos até 2013 a 3% do PIB (Produto Interno Bruto) e para isso vão apertar o cerco contra os trabalhadores.

Na última semana, três países da zona do euro aprovaram estes planos,Grécia, Espanha e Portugal. As medidas vão atacar diretamente os trabalhadores promovendo o corte e congelamento de salários, demissões, aumento e criação de impostos, aumento da idade para aposentadoria etc.

São todas medidas que vão fazer os países economizar à custa da expropriação e maior exploração da classe operária européia para sustentar o lucro dos capitalistas. Todos estes países tem déficits públicos acima de 9% chegando a ter até 13,7% como é o caso da Grécia. Os cortes servem para diminuir a dívida nos próximo três anos.

As bolsas não reagiram muito bem à adesão da Espanha e Portugal ao plano de austeridade. Na Espanha, as ações dos principais bancos despencaram, o Santander teve queda de 9,8%, o BBVA caiu 8,4% e na França o Société Générale desvalorizou 8,6%.

Na última sexta-feira, dia 14, todas as bolsas européias caíram, em Frankfurt a perda foi de 3,12%, em Paris, 4,59%, em Madri a bolsa despencou 6,64%, pior resultado em dois anos. Em Londres a perda também foi grande, baixa de 3,14%. Na bolsa de Atenas a queda foi de 3,41% e Lisboa as perdas foram de 4,27%.

A crise, bem como a solução inevitável, encontrada para evitar o colapso geral jogaram um balde de água fria nas otimistas expectativas alardeadas desde o final do ano passado. Segundo um analista da CMC Markets, "Persiste uma verdadeira preocupação de que, com o pacote de ajuda europeu anunciado no início da semana, as perspectivas de crescimento para a Europa caiam num buraco negro, com os governos do continente cortando gastos e elevando impostos para recolocar sob controle seus enormes déficits". Ou seja, não há esperanças nem mesmo para os economistas burgueses de que mesmo as medidas de cortes vão efetivamente solver a crise.

Na realidade, a eficácia dos pacotes de austeridade não pode ser estabelecida sobre uma base exclusivamente econômica. O decisivo é a luta de classes. A reação das massas, em particular da classe operária, aos ataques dos seus governos imperialistas impõe um limite infranqueável a uma política de “recuperação” baseada nesse mesmo ataque.

A implantação deste pacote tem o claro objetivo de tentar impedir o agravamento da crise na zona do euro, pois o endividamento da Grécia, Espanha e Portugal coloca em risco a própria existência do euro. Há ainda os países fora desta região, como a Grã-Bretanha que também se está endividado o que pode causar um colapso em toda a Europa.

Ainda dentro da zona do euro, a França, um dos principais países imperialistas da região já anunciou redução de gastos públicos para 2011. O primeiro-ministro francês, François Fillon, disse que os gastos públicos serão integralmente congelados durante nos próximos três anos. E esta decisão será tomada independente da inflação do País.

Obviamente que o governo Sarkozy apresentou estes cortes como algo diferente do plano de austeridade adotado pela Grécia dizendo que na França os cortes serão mais “brandos”. Mas o fato é que o ataque se dirige, assim como no caso grego, aos trabalhadores e que nada impede que de cortes mínimos o plano passe para uma contenção generalizada com demissões, aumento de aposentadoria e outras perdas de benefícios trabalhistas.

Estes exemplos indicam que há uma política internacional de ataque às condições de vida dos trabalhadores e as massas exploradas de toda a Europa. É mais um aprofundamento da crise capitalista que para sustentar os parasitas financeiros precisa cada vez mais atacar a classe operária. Por outro lado os trabalhadores da Espanha, Portugal e Grécia já estão se organizando para promover novas paralisações.

Os sindicatos gregos convocaram uma nova greve geral no País para ainda este mês. Será quinta paralisação este ano. A greve geral está sendo convocada para o dia 20 de maio. Em Portugal, os sindicatos estão convocando uma paralisação para o dia 29 de maio onde uma greve geral será proposta. Já na Espanha foi anunciada uma greve geral para o próximo dia 2 de junho.

Reino Unido: crise política e econômica

O impasse da formação do novo governo inglês foi “solucionado” na última semana. O ex-primeiro-ministro do Partido Trabalhista Gordon Brown renunciou e possibilitou a aliança entre os Conservadores e os Liberal-democratas.

Com esta renúncia ficou claro que os Trabalhistas aliados aos Liberal-democratas teriam grandes dificuldades em governar. Além disso, o desgaste do Partido Trabalhista nos últimos 13 anos apenas iria se aprofundar ainda mais caso compusessem uma aliança com os Liberal-democratas. Outro fator é que o Partido Liberal-democrata, “o fiel da balança”, não seria tão beneficiado com uma aliança com os Trabalhistas, pois não obteriam a maioria absoluta do Congresso, 326 cadeiras, apenas teriam um número pouco maior que o dos Conservadores. Na realidade, a opção mostra o esgotamento do governo trabalhista, responsável pela continuidade da política neoliberal em novas condições e pela política imperialista no Iraque.

A renúncia de Brown para que a formação de um novo governo fosse agilizada também foi uma saída para evitar que o regime político britânico, bastante debilitado, sofresse um desgaste ainda maior.

De qualquer forma mesmo este novo governo expressa uma crise profunda no regime bi-partidário da Grã-Bretanha, pois nem o partido Trabalhista e nem o partido Conservador conseguiram a maioria nas eleições para governar e isso coloca em risco o regime político. Para governar foi necessário se aliar aos Liberal-democratas, mas esta aliança e a composição deste governo são mais instáveis que o regime estabelecido até então. Caso esta aliança não se concretizasse estava em risco a paralisação do próprio Parlamento britânico.

Para o partido Trabalhista, a derrota nas eleições e o fracasso na aliança com os Liberal-democratas na formação do novo governo, o que forçou a renúncia de Gordon Brown, demonstra o completo esgotamento da política do “novo trabalhismo” de Tony Blair e talvez o mais relevante, a incapacidade dos Trabalhistas em levar adiante a contenção das massas britânicas.

O Partido Trabalhista vai tentar no próximo período recuperar o “terreno perdido” sobre as massas britânicas, principalmente os votos para tentar se eleger nas próximas eleições, mas para isso precisarão apagar, não se sabe como, os anos de apoio à política imperialista norte-americana no Afeganistão, Iraque etc. e os inúmeros ataques contra os trabalhadores que resultaram na derrota nas últimas eleições.

O novo governo de coalizão na Grã Bretanha já se reuniu e declarou que a política principal será adotar o corte de gastos públicos para a diminuição do déficit do País que é maior que 11% do PIB. Como medida inicial, declarou o corte de 5% dos salários de todos os ministros do governo e do seu próprio salário. Uma medida demagógica e pouco efetiva já que em um ano o corte será de 8 mil libras no salário do novo primeiro-ministro David Cameron. Mas já é um sinal de que os próximos serão os salários dos trabalhadores que serão atacados.

Estes ataques e a composição bastante debilitada do governo entre Conservadores e Liberal-democratas coloca novas perspectivas para o desenvolvimento das mobilizações operárias no Reino Unido.

Reabert a a crise na Tailândia

A tensão na Tailândia iniciada no mês passado com as enormes mobilizações populares voltou à tona na última semana. O período de negociação entre os camisas vermelhas e o governo não durou muito tempo. Quando tudo parecia caminhar para um acordo novos confrontos entre o exército e a população agravaram a situação política no País.

As negociações caminhavam para o restabelecimento da “ordem” com eleições que seriam realizadas em 14 de novembro, as forças armadas voltariam a ter o controle da situação e o parlamento seria dissolvido.

Um dos motivos que desencadearam o desacordo foi uma reivindicação de punição dos assassinatos de mais de 25 pessoas no dia 10 de abril que também deixou 800 feridos. Os manifestantes pedem a punição do número dois do governo, Suthep Thaugsuban. Esta reivindicação foi a discórdia, pois o primeiro-ministro Abhist se recusou a aceitar a exigência e recuou nas negociações reabrindo a crise no País. A direção do movimento de oposição tentou evitar a apresentação desta reivindicação, mas a pressão popular foi tanta que não foi possível não apresentá-la.

Com a decisão de Abhist em não negociar mais, os camisas vermelhas permaneceram no centro de Bangcoc e a crise foi novamente reaberta. Mesmo sob ameaças do corte de energia elétrica, água e alimentos em toda a capital, os camisas vermelhas reagiram dizendo que só sairiam mortos.

O primeiro-ministro Abhist então organizou uma operação para retirar à força os camisas vermelhas do centro da capital tailandesa. Na última quinta-feira, dia 13, foi iniciada uma operação militar que fechou quatro estações do metrô e todo o perímetro central que está ocupado pelos manifestantes. Mais de 5.000 famílias foram atacadas pelo exército.

Cerca de 50 tanques de guerra estão sendo usados na operação militar e a comunicação foi cortada com o auxílio das operadoras de celular. Foi também implantado o estado de exceção em pelo menos 15 províncias tailandesas para facilitar a repressão sobre os camisas vermelhas.

Deste confronto inicial houve uma morte e pelos menos 12 feridos, um deles foi Seh Daeng, líder estrategista militar dos camisas vermelhas. Ele foi atingido por um franco atirador com um tiro na cabeça e até o fechamento desta edição estava em estado grave, com poucas chances de sobreviver. Cinicamente as autoridades militares da Tailândia negaram a autoria do tiro.

Até o fechamento desta edição o conflito estava em andamento.

sábado, 15 de maio de 2010

Estelionato eleitoral - O pacote econômico da burguesia contra a população


Um novo anúncio feito por articuladores da candidatura de José Serra (PSDB) de que por trás de sua candidatura está um “pacotaço” contra os trabalhadores, joga luz novamente sobre quais são os planos da burguesia contra os trabalhadores diante da crise



No dia 26 de abril a agência Reuters noticiou algo que até então permanecia oculto ou tratava-se apenas de especulação de analistas políticos da imprensa burguesa.

Interlocutores do candidato à presidência da República pelo PSDB, José Serra, revelaram que este possui um pacote econômico para as eleições. Estas medidas seriam colocadas em prática assim que assumisse a presidência.

"Ele vai entrar com medidas fiscais e até renegociação de alguns contratos. As despesas da máquina pública estão sob um controle muito frouxo (...) "chegou a dizer um destes interlocutores, sem se identificar, à agência.

Os representantes de Serra disseram também que o papel dos bancos públicos seria “relativizado”, pois “a decisão de fortalecer essas instituições financeiras funcionou naquele período. Agora, porém, contribuem para aumentar a pressão inflacionária ao aquecer em demasia a atividade”.

Segundo a agência “há simpatia na equipe de Serra para que Banco do Brasil, Banco Central e Tesouro Nacional (visando compor o Fundo Soberano) comprem dólares além do fluxo excedente para evitar uma apreciação expressiva do real”

"Ele amaria ser o pai da reforma tributária, mas só tentaria se tivesse controle total do processo."

As medidas imediatas deste governo, segundo os interlocutores seriam “desonerar investimento e folha de pagamento”.

Essas medidas anunciadas significam mais ataques às condições de vida da população trabalhadora.

Estelionato eleitoral tucano

Segundo os próprios articuladores da campanha de José Serra está em marcha um estelionato eleitoral do PSDB. O verdadeiro programa de José Serra, que este procura omitir de toda a população é a volta, na mesma medida, dos ataques contra a classe trabalhadora que o governo FHC desferiu durante seus dois mandatos.

A desoneração na folha de pagamento, ou seja, cortes salariais, e a redução da intervenção dos bancos estatais, que teriam que ser substituídas pelo aumento acordos financeiros com bancos internacionais com o FMI, além do aumento dos impostos, chamados de medidas fiscais pelos correligionários de Serra, são escondidos da população, pois estas medidas impopulares foram rejeitadas completamente pela população na derrota eleitoral do PSDB.

O governo de FHC se aproveitou do refluxo da classe operária no final dos anos 80 e na década de 1990 para atacar os trabalhadores e para investir na maior onda de privatizações da história do País.

Da parte de Serra este é um estelionato eleitoral, porque os eleitores votam totalmente iludidos, uma questão gravíssima nas eleições. Trata-se da volta do estelionato eleitoral de governos que foram profundamente rejeitados pela população, como de José Sarney e Fernando Collor. Estes realizaram verdadeiros golpes contra o povo iludindo as massas de que seriam governos que trariam melhorias à população.

Uma eleição de Serra se assemelharia à eleição do governo do PMDB de José Sarney em 1988 (que ganhou as eleições em todos os estados do país exceto no Rio Grande do Sul). Naquele governo, depois do auge do Plano Cruzado criado em 1986, em 1989 a inflação foi a mais alta da história do Brasil.

O Plano Cruzado adotou como medidas o congelamento da taxa de câmbio, a reforma monetária, o congelamento dos salários pela média de seu valor dos últimos seis meses. O Plano Cruzado II, os Planos Bresser e Verão, lançados em seguida, levaram o país a um colapso. Entre fevereiro de 1989 e março de 1990, a inflação chegou a atingir nada menos que 2.751%.

Depois destas medidas o PMDB não se recuperaria até então de sua impopularidade, e foi um governo marcado por inúmeras greves.

Dilma também tem um pacotaço?

O “pacotaço” secreto de Serra teria como objetivo imediato esfriar a economia. O pacote mostra que a burguesia investe em medidas de ataque aos trabalhadores para prevenir-se de um colapso econômico capitalista.

O objetivo seria o de prevenir a crise como a que ocorre em países como Espanha, Portugal e Grécia, com medidas que estes estados procuram adotar contra a classe trabalhadora, impondo retrocessos trabalhistas e de condições de vida da população sem precedentes.

No entanto, resta a pergunta: se José Serra tem este pacote secreto, Dilma Rousseff, candidata do PT, teria seu próprio pacote?

São lançados às vésperas destas eleições e ao final do mandato de Lula diversos ataques, como o anúncio de novas privatizações (Correios, hidrelétricas, portos e aeroportos) e de um acordo militar do Brasil com os EUA. Os candidatos do PT e PSDB declararam juntos que não haverá nem mesmo diálogo com os sem-terra, anunciando que ambos os candidatos irão intensificar ainda mais a ofensiva contra os trabalhadores do campo. Em um evento dos latifundiários, considerada a maior feira agropecuária do País, no início de maio, Dilma Rousseff e José Serra compareceram e receberam uma lista de reivindicações da senadora Kátia Abreu (DEM-TO), conhecida como a líder dos latifundiários no Congresso Nacional. Na lista está o apoio a medidas em favor dos latifundiários que está sendo votada para a implantação de um novo Código Florestal.

Lula dá o primeiro passo para que os governos continuem tais medidas. Assim, anunciou o que é uma garantia à burguesia de que esta política deverá ser seguida por qualquer um dos candidatos que se elegerem, tanto do PSDB como do PT.

Se ambos os governos anunciam que irão atacar os trabalhadores, Dilma Rousseff também oculta de todos os trabalhadores, que possui um pacote “anticrise” para receber o apoio de uma parcela da burguesia que impulsiona sua candidatura.

Trata-se de um estelionato eleitoral do partido que diz defender os trabalhadores para defender os patrões de um colapso. Este fato deve ser debatido e denunciado a toda a classe trabalhadora, que será a primeira a pagar. Será a classe trabalhadora a ser esfolada ainda mais com estes pacotes econômicos em favor dos capitalistas.

Contra estes ataques, a classe trabalhadora deve levantar seu próprio programa contra a crise e contra os ataques dos governos dos patrões. Nestas eleições e em todos os locais de trabalho, nas universidades e nos bairros deve ser realizada uma ampla campanha contra os governos dos patrões, contra as privatizações, contra os cortes salariais e que tenha em seu centro um programa de necessidades básicas da população. Entre estas devem estar a redução da jornada de trabalho para 35 horas semanais, sem redução dos salários. Não às privatizações! Estatização das empresas entregues aos capitalistas durante os últimos governos; reforma agrária já; punição aos assassinos dos sem-terra!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pelo fim do monopólio da burguesia e de sua imprensa sobre as eleições

O maior monopólio do País, o da imprensa capitalista, garante aos partidos burgueses seu completo controle sobre a máquina eleitoral


Um dos argumentos que o jornal O Estado de S. Paulo defendeu, em artigo publicado no dia 10 de maio contra os partidos “nanicos”, é o de que a propaganda eleitoral custa ao governo, que paga à imprensa burguesa para garantir o horário eleitoral. Para isso condena os partidos que chama de “nanicos” por receberem o que afirmam ser um “subsídio” em forma de renúncia fiscal.

O que esta tribuna reacionária deseja - e reivindica em suas páginas - é a supressão do já ínfimo espaço que têm os partidos sem representação parlamentar, que terão nestas eleições, de um bloco de 25 minutos para a propaganda eleitoral para a presidência, cerca de 38 segundos cada.

Além de não citar sequer o fato de que uma minoria dos partidos burgueses domina completamente o tempo de propaganda eleitoral, O Estado de S. Paulo procura estabelecer que o governo paga caro os monopólios da TV do rádio por usar este tempo diariamente durante a campanha. Este é, na verdade, um acordo nefasto do governo com a imprensa capitalista, já que este paga para que as empresas que deveriam prestar um serviço público, não deixem de perder seus lucros.

Embora o artigo 54 da Constituição proíba parlamentares de terem concessões públicas, somando-se as duas casas da atual legislatura do Congresso até 2006 eram quase 80 parlamentares sendo 28 senadores - mais de um terço dos do Senado e 51 deputados federais os que possuíam empresas televisivas e de rádios em seu nome.

A imprensa burguesa, dominada em maior parte diretamente por estes partidos ou por capitalistas que a apóiam, é a que dá o suporte para manter este monopólio em suas páginas cotidianamente e nas eleições de maneira decisiva, dando ampla cobertura aos partidos burgueses desproporcionalmente, nos debates televisivos suprimindo a participação dos partidos pequenos.

O jornal O Estado de S. Paulo é uma das principais peças da burguesia para dominar o jogo parlamentar, e como não poderia deixar de ser, é instrumento para suas campanhas mais cínicas como pela supressão dos direitos da população.

Por eleições verdadeiramente democráticas

O verdadeiro custo ao Estado, que deveria ser suprimido é o dado aos partidos burgueses e às redes de televisão e rádio capitalistas, como maneira de impedir o golpe que é dado nas eleições contra toda a população.

Permitir o amplo direito de escolha à população e de debate político deveria começar por derrubar todas as concessões do Estado aos partidos burgueses que garantam seu monopólio nas eleições como o fundo partidário e tempos televisivos desiguais, o fim da censura das legendas em debates, o fim do monopólio econômico da burguesia nas eleições e o fim da concessão estatal a toda a imprensa burguesa, com o amplo direito dos trabalhadores e suas organizações de possuírem a concessão estatal para promover seus próprios órgãos de comunicação de massa.

Aos trabalhadores, que são a imensa maioria da população contra os quais é impedido hoje qualquer poder de decisão sobre as eleições para que os juízes biônicos decidam, é preciso defender a supressão dos órgãos biônicos da justiça e que a população decida sobre o funcionamento eleitoral.

sábado, 8 de maio de 2010

Greve geral e manifestações incendeiam Grécia


Gregos realizam maior e mais radicalizada onda de protestos



A quarta greve geral na Grécia este ano paralisou o país e incendiou a capital Atenas nesse dia 5 de maio. A greve paralisou os serviços públicos e os transportes, fechando os aeroportos, o que ocasionou o cancelamento dos vôos no país. Até mesmo setores da imprensa aderiram, paralisando as transmissões de TV e rádio.

Na capital, relatos dão conta que os protestos reuniram de 100 a 200 mil pessoas. Na frente do parlamento, a polícia reprimiu os manifestantes, que tentavam entrar no prédio. Na maior e mais radicalizada onda de protestos desde o início da crise, prédios públicos e bancos foram ocupados e atacados com coquetel molotov. A radicalização dos protestos segue a própria radicalização do pacote de arrocho fiscal do governo, pressionado pela União Europeia para cortar ainda mais as aposentadorias, os salários e gastos sociais.

O presidente do sindicato do funcionalismo público, Spyros Papaspyros, declarou à imprensa que “essa manifestação é duas vezes maior que a maior já vista na Grécia reunindo funcionários públicos”. A polícia grega permaneceu sob estado de “alerta geral”, ou seja, mobilizou praticamente todo o seu efetivo para conter os protestos.

Uma jornalista da revista Alana, Matou Papadimitri, que acompanhou os protestos, relatou o clima da manifestação: “a sensação é que todo o centro de Atenas era uma grande manifestação, super densa, quase claustrofóbica. Ali estavam os sindicatos oficiais, os sindicatos de base, professores, estudantes, funcionários, empregados privados, partidos e grupos políticos de esquerda, libertários, anarquistas, etc. Também havia gente que nunca havia saído às ruas para se manifestar”.

A jornalista relata ainda que, apesar da grande quantidade de gás lacrimogêneo lançado pela polícia, os manifestantes não se intimidaram e gritavam com todas as suas forças: “ladrões, mentirosos”; “que se queime o bordel do Parlamento”; “Fora todos”; “Que paguem os responsáveis”.

Reação
Durante os protestos, o governo e parte da imprensa anunciaram com alarde que três pessoas haviam morrido, vítimas de asfixia supostamente causado por um incêndio provocado por coquetéis molotovs lançados ao banco em que trabalhavam. Foi o que bastou para que o primeiro ministro Papandreous criminalizasse os protestos e os manifestantes.

Já os governos da Europa acompanham com bastante atenção o que se desenrola nas ruas da Grécia. O comissário de Assuntos Econômicos e Monetários da Europa, Olli Rehh, afirmou que “é absolutamente essencial conter o fogo na Grécia para que ele não se torne um incêndio e uma ameaça à estabilidade financeira da União Europeia e à sua economia como um todo” .

As vítimas fatais eram funcionárias do Marfin Bank, uma das maiores redes bancárias do país. Outro jornalista grego, Dimitris Pantoulas, afirmou que, segundo informações de rádios locais. “os empregados do banco denunciaram que os gerentes do banco não só não permitiram que saíssem da sucursal antes da marcha como, inclusive, trancaram as portas com chave para que ninguém pudesse sair nem entrar”. Ou seja, direta e indiretamente, os responsáveis pelas mortes foram o governo e os bancos, os responsáveis pela crise.

O que vem a seguir
Assim como a União Europeia pressiona a Grécia para impor um brutal ajuste fiscal aos trabalhadores, vai pressionar agora para que o país reprima exemplarmente a onda de protestos que se generaliza cada vez mais. Mais do que a crise, o que a UE teme realmente que se espalhe é a resistência.

O conflito social na Grécia, porém, se aprofunda cada vez mais. À radicalização do pacote de arrocho segue uma radicalização das paralisações e protestos, que vão ganhando cada vez mais apoio popular.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Tailândia - A crise está encerrada?


Uma complexa operação foi montada na Tailândia para acabar com a crise revolucionária que tomou conta do país


Nesta segunda-feira o governo do primeiro-ministro Abhisit Vejjajiva fez uma proposta para acabar com os conflitos que se seguiam na Tailândia há quase dois meses. O acordo proposto pelo governo possuía cinco pontos: O respeito à monarquia; Reforma nacional que resolva as injustiças sociais e econômicas; Garantia de uma comunicação social livre, mas “responsável”; Investigação sobre os incidentes do dia 10 de abril e da invasão do Hospital de Chulalongkorn e Revisão da Constituição de modo a que seja aceite por todas as partes

Os lideres dos “camisas vermelhas” que fazem parte da UDD (Frente Unida para a Democracia contra a Ditadura) assinaram positivamente a favor do governo, apenas com algumas ressalvas que compõem mais quatro pontos:A definição da data das eleições e a dissolução do parlamento; Prova real da sinceridade do governo em querer acabar com todas as ameaças; Nenhuma anistia no que respeita as acusações de que os seus líderes são terroristas e promovem um movimento anti-monarquia, pois querem fazer a sua defesa em tribunal; O Governo deve parar de envolver a monarquia em questões políticas.

Comparando as duas reivindicações de trégua, é visível a capitulação dos líderes da UDD, que tem uma proposta mais rebaixada que a primeira. O acordo aceito pela UDD e colocam todos os trabalhadores que aderiram ao movimento nas mãos do governo para serem julgados.

O movimento não foi derrotado nos enfretamentos com a polícia e o exército. Aceitar as acusações de terrorismo por parte do governo é uma traição sem tamanho contra o movimento.

Aceitar a negociação com o governo de Abhisit já é uma capitulação. Pois este estava para ser derrubado pela mobilização, que desencadeou uma crise em todo aparelho governamental que ia do exército a aliados do próprio governo.

Os trabalhadores foram traídos vergonhosamente, e a direção da UDD pode pagar caro por isso.

Apesar de a UDD entregar a mobilização, ouve uma crise interna muito grande dentro do exército.

A intenção de Abhisit não era negociar. Para ele, o exército usaria de todo o poder militar para acabar com os “camisas vermelhas”. Seu desejo era promover o confronto e esmagar as manifestações.

O general Anupong, chefe do exército, resistiu às ordens de Abhisit de atacar os “camisas vermelhas” naquelas circunstâncias. Muitos dos soldados, vindo de regiões pobres, poderiam aderir o movimento dos “camisas vermelhas”. No geral, o corpo militar, em sua maioria, concordava com Anupong, procurando promover um acordo político para solucionar a crise.

Sem força no exército, e com a pressão dos “camisas vermelhas”, Abhisit foi obrigado e fazer a proposta para a UDD. O primeiro ponto da proposta da UDD foi atendido: as eleições serão no dia 14 de novembro, e a dissolução do parlamento em setembro. Mas esta era também uma intenção do exército, e não houve nenhuma polêmica quanto a esse ponto.

As duas alas da burguesia em disputa se enfraqueceram, mas evitaram a revolução.

Resta saber se a crise da Tailândia, que já dura anos, será encerrada facilmente. O acordo ainda não superou a crise que existe. Apaziguou, por hora, o conflito, mas a miséria real dos camponeses, e suas reivindicações que não foram atendidas podem levar a uma retomada das mobilizações e à reabertura da crise revolucionária no país.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Grécia: terceira greve geral do ano e cinco dias de protestos


Para aprovar o pacote de 110 bilhões de euros no último domingo em uma tentativa de salvar o sistema financeiro do país, o governo grego teve que se comprometer a colocar em prática uma série de ataques contra os trabalhadores. A resposta está sendo dada pela classe operária nas ruas

O pacote que foi aprovado no último domingo será um empréstimo de 110 bilhões de euros, divididos entre a União Européia e o Fundo Monetário Internacional. Para isso o governo grego teve que se comprometer a reduzir seu déficit a menos de 3% do PIB até 2014, diante dos atuais 13,6. A “solução” encontrada pela burguesia européia foi o corte de 30 bilhões de euros nos próximos três anos afetando empregos, salários, condições de trabalho e vida das massas populares do país.

Os 30 bilhões de euros que o governo pretende conseguir serão retirados principalmente através do corte de benefícios dos trabalhadores e de impostos que passarão por reajustes.

O plano de austeridade contra os trabalhadores inclui cortes e congelamentos de salários até 2013, flexibilização das leis trabalhistas, eliminação do bônus dado aos trabalhadores do setor público, aumento da idade para a aposentadoria e redução dos investimentos públicos.

Diante das medidas extremamente repressivas que o governo pretende impor, os trabalhadores gregos organizaram nesta quarta-feira, dia 5, a terceira greve geral deste ano, onde mais setores se incorporaram e em uma das manifestações realizadas no centro de Atenas, participaram mais de 100 mil trabalhadores.

Desde terça-feira, dia 4, alguns setores já haviam entrado em greve a partir do meio-dia, foi o caso dos professores e dos funcionários públicos. Na quarta-feira entraram em greve os trabalhadores dos transportes e os funcionários de empresas privadas.

Com os setores que aderiram à greve, a Grécia ficou sem meios de transportes incluindo aviões. Os transportes como ônibus, trens e táxis só foram usados para levar os grevistas para a manifestação no centro de Atenas. Escolas, universidades e o comércio foram fechados, o único setor que se manteve em fucionamento, porém apenas em caráter de urgência, são os hospitais. A imprensa também foi paralisada, onde a maioria dos operários aderiu ao movimento..

A greve engloba várias organizações, mas só as duas maiores centrais sindicais já somam mais da metade dos trabalhadores do país. A Adedy, uma delas, possui 375.000 afiliados e a Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos (GSEE), um milhão de afiliados.

Ainda na terça-feira, dia 4, militantes do Partido Comunista Grego (KKE), em um grupo de cerca de 200 pessoas invadiram a Acrópole de Atenas e penduraram no monumento uma faixa em inglês e outra em grego com os seguintes dizeres: "Povos da Europa, levantem-se".

O chamado poderia até soar exagerado em outras épocas, mas não na que estamos vivendo atualmente, pois outros países também estão prestes entrar na mesma situação, como é o caso de Espanha e Portugal.

Além disso, para tentar tirar a Europa da crise, outros países pretendem aderir a planos similares ao aplicado pelo governo grego, o que significa que, de um modo geral, todos os trabalhadores europeus passarão por cortes, demissões entre outras coisas.

A Grécia ao que parece está sendo usada como exemplo, e para muitos líderes europeus o resultado tem sido preocupante, pois há sim a possibilidade de trabalhadores de outros países se levantarem, o que levará a uma situação incontrolável para os governos europeus.

O plano de austeridade irá ainda passar pelo parlamento grego que dará uma resposta nesta quinta-feira, dia 6. Além disso, o próprio auxílio à Grécia em que a União Européia ficou responsável por 80 bilhões de euros terá que ser aprovado.

A Alemanha que possui a economia mais forte no bloco ficou responsável pelo maior empréstimo, que será no valor de 22.400 bilhões de euros. Por conta disso, a chanceler Angela Merkel pretendia conseguir a aprovação no Parlamento ainda nesta quarta-feira, enfrentando inclusive a oposição que critica a chanceler por achar que a mesma agiu de forma muito lenta e deu pouca atenção para o problema.

Para convencer até mesmo seus opositores Merkel procurou ser clara em relação a gravidade da crise e em sua intervenção no Parlamento, “o futuro da Europa e da Alemanha estão em jogo, estamos em uma encruzilhada”. (El País, 5/5/2010)

Além de Merkel outros governos e investidores estão preocupados com o que tem acontecido na Grécia. Chris Lowe da FTN Financial disse à BBC que a comunidade financeira está chocada com os violentos protestos.

Ele disse ainda que “se os gregos estão chateados, então talvez a gente precise se preocupar com os portugueses, os espanhóis e os italianos que também poderão ficar chateados com os cortes que vão ter que enfrentar”. (BBC, 5/5/2010)

Os confrontos na Grécia estão mais radicais, pois os manifestantes estão tentando invadir o parlamento para evitar a votação do plano e mostrar ao governo que não vão aceitar as medidas.

Por conta disso, os manifestantes que se aproximavam nesta última terça-feira do local onde fica o parlamento, foram recebidos pela polícia de choque e o confronto mais violento desde o início da crise ocorreu o que resultou na morte de três pessoas, inúmeros feridos e presos, prédios como o ministério da agricultura e bancos foram queimados em uma demonstração de revolta contra o governo e os responsáveis pela crise.A intensa luta travada pelas massas trabalhadoras na Grécia contra o governo e a consipiração da cúpula da União Européia é um sinal do colapso da tentativa de evitar o aprofundamento da crise econômica em todo o continente. Mais grave ainda, a luta é uma demonstração de que o plano de “salvamento” da economia grega fracassou antes mesmo de ter sido colocado em prática. Os trabalhadores gregos e as massas operárias em toda a Europa deixaram claro que não vão aceitar que os capitalistas joguem sobre suas costas todo o peso da crise que criaram. O próximo período será, sem dúvidas, de grandes lutas e intensa mobilização das massas não só na Grécia, mas em toda a Europa. A ação dos trabalhadores gregos aponta as tendências revolucionárias presentes no conflito atual.