"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Grécia: terceira greve geral do ano e cinco dias de protestos


Para aprovar o pacote de 110 bilhões de euros no último domingo em uma tentativa de salvar o sistema financeiro do país, o governo grego teve que se comprometer a colocar em prática uma série de ataques contra os trabalhadores. A resposta está sendo dada pela classe operária nas ruas

O pacote que foi aprovado no último domingo será um empréstimo de 110 bilhões de euros, divididos entre a União Européia e o Fundo Monetário Internacional. Para isso o governo grego teve que se comprometer a reduzir seu déficit a menos de 3% do PIB até 2014, diante dos atuais 13,6. A “solução” encontrada pela burguesia européia foi o corte de 30 bilhões de euros nos próximos três anos afetando empregos, salários, condições de trabalho e vida das massas populares do país.

Os 30 bilhões de euros que o governo pretende conseguir serão retirados principalmente através do corte de benefícios dos trabalhadores e de impostos que passarão por reajustes.

O plano de austeridade contra os trabalhadores inclui cortes e congelamentos de salários até 2013, flexibilização das leis trabalhistas, eliminação do bônus dado aos trabalhadores do setor público, aumento da idade para a aposentadoria e redução dos investimentos públicos.

Diante das medidas extremamente repressivas que o governo pretende impor, os trabalhadores gregos organizaram nesta quarta-feira, dia 5, a terceira greve geral deste ano, onde mais setores se incorporaram e em uma das manifestações realizadas no centro de Atenas, participaram mais de 100 mil trabalhadores.

Desde terça-feira, dia 4, alguns setores já haviam entrado em greve a partir do meio-dia, foi o caso dos professores e dos funcionários públicos. Na quarta-feira entraram em greve os trabalhadores dos transportes e os funcionários de empresas privadas.

Com os setores que aderiram à greve, a Grécia ficou sem meios de transportes incluindo aviões. Os transportes como ônibus, trens e táxis só foram usados para levar os grevistas para a manifestação no centro de Atenas. Escolas, universidades e o comércio foram fechados, o único setor que se manteve em fucionamento, porém apenas em caráter de urgência, são os hospitais. A imprensa também foi paralisada, onde a maioria dos operários aderiu ao movimento..

A greve engloba várias organizações, mas só as duas maiores centrais sindicais já somam mais da metade dos trabalhadores do país. A Adedy, uma delas, possui 375.000 afiliados e a Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos (GSEE), um milhão de afiliados.

Ainda na terça-feira, dia 4, militantes do Partido Comunista Grego (KKE), em um grupo de cerca de 200 pessoas invadiram a Acrópole de Atenas e penduraram no monumento uma faixa em inglês e outra em grego com os seguintes dizeres: "Povos da Europa, levantem-se".

O chamado poderia até soar exagerado em outras épocas, mas não na que estamos vivendo atualmente, pois outros países também estão prestes entrar na mesma situação, como é o caso de Espanha e Portugal.

Além disso, para tentar tirar a Europa da crise, outros países pretendem aderir a planos similares ao aplicado pelo governo grego, o que significa que, de um modo geral, todos os trabalhadores europeus passarão por cortes, demissões entre outras coisas.

A Grécia ao que parece está sendo usada como exemplo, e para muitos líderes europeus o resultado tem sido preocupante, pois há sim a possibilidade de trabalhadores de outros países se levantarem, o que levará a uma situação incontrolável para os governos europeus.

O plano de austeridade irá ainda passar pelo parlamento grego que dará uma resposta nesta quinta-feira, dia 6. Além disso, o próprio auxílio à Grécia em que a União Européia ficou responsável por 80 bilhões de euros terá que ser aprovado.

A Alemanha que possui a economia mais forte no bloco ficou responsável pelo maior empréstimo, que será no valor de 22.400 bilhões de euros. Por conta disso, a chanceler Angela Merkel pretendia conseguir a aprovação no Parlamento ainda nesta quarta-feira, enfrentando inclusive a oposição que critica a chanceler por achar que a mesma agiu de forma muito lenta e deu pouca atenção para o problema.

Para convencer até mesmo seus opositores Merkel procurou ser clara em relação a gravidade da crise e em sua intervenção no Parlamento, “o futuro da Europa e da Alemanha estão em jogo, estamos em uma encruzilhada”. (El País, 5/5/2010)

Além de Merkel outros governos e investidores estão preocupados com o que tem acontecido na Grécia. Chris Lowe da FTN Financial disse à BBC que a comunidade financeira está chocada com os violentos protestos.

Ele disse ainda que “se os gregos estão chateados, então talvez a gente precise se preocupar com os portugueses, os espanhóis e os italianos que também poderão ficar chateados com os cortes que vão ter que enfrentar”. (BBC, 5/5/2010)

Os confrontos na Grécia estão mais radicais, pois os manifestantes estão tentando invadir o parlamento para evitar a votação do plano e mostrar ao governo que não vão aceitar as medidas.

Por conta disso, os manifestantes que se aproximavam nesta última terça-feira do local onde fica o parlamento, foram recebidos pela polícia de choque e o confronto mais violento desde o início da crise ocorreu o que resultou na morte de três pessoas, inúmeros feridos e presos, prédios como o ministério da agricultura e bancos foram queimados em uma demonstração de revolta contra o governo e os responsáveis pela crise.A intensa luta travada pelas massas trabalhadoras na Grécia contra o governo e a consipiração da cúpula da União Européia é um sinal do colapso da tentativa de evitar o aprofundamento da crise econômica em todo o continente. Mais grave ainda, a luta é uma demonstração de que o plano de “salvamento” da economia grega fracassou antes mesmo de ter sido colocado em prática. Os trabalhadores gregos e as massas operárias em toda a Europa deixaram claro que não vão aceitar que os capitalistas joguem sobre suas costas todo o peso da crise que criaram. O próximo período será, sem dúvidas, de grandes lutas e intensa mobilização das massas não só na Grécia, mas em toda a Europa. A ação dos trabalhadores gregos aponta as tendências revolucionárias presentes no conflito atual.

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