"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

domingo, 16 de maio de 2010

Crise política e econômica - Cortes por toda a Europa e mobilização na Tailândia


A política de cortes nos gastos públicos está se alastrando por toda a Europa. Depois da Grécia adotar as tais medidas de “austeridade fiscal” agora é a vez da Espanha, Portugal, Reino Unido e França anunciarem políticas semelhantes que colocam em evidência o caráter absolutamente geral desta nova etapa da crise capitalista mundial. Já na Tailândia novos confrontos entre os camisas vermelhas e o exército reacendem a crise no País



Na última semana a Comissão Européia reunida com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e os 16 países da zona do euro aprovaram a criação de um novo pacote para todo o continente europeu.

Este novo pacote, na verdade um megapacote de quase um trilhão de dólares tem como objetivo conter a crise generalizada dos estados falidos da zona do euro. Segundo o ministro das Finanças da Inglaterra, Alistar Darlin, o mais importante, independente do método, é manter a estabilidade da economia européia, ou seja, em linguagem, normal, evitar a falência em cadeia dos estados europeus: “no que diz respeito à Europa, há uma proposta separada para disponibilizar ajuda para os membros do grupo do euro como existe para países de fora da zona, como a Hungria e a Romênia. Faremos o que for necessário para garantir a estabilidade” (BBC 10/5/2010).

O valor total do pacote será de 750 bilhões de euros ou o mesmo que 975 bilhões de dólares que servirá como um mecanismo para financiar as dívidas dos países.

De longe, esta é a maior intervenção estatal realizada na história da Europa. Segundo economistas, "essa é a maior tentativa já realizada pelo BCE de dar suporte à Europa e pode marcar um ponto de virada na crise de confiança que atingiu a periferia da zona do euro nas últimas semanas" (Reuters, 10/5/2010).

Este montante será divido entre a Comissão Européia que vai pagar 60 bilhões de euros, isto inclui ajuda de todos os países europeus, os 16 países da zona do euro vão desembolsar outros 440 bilhões de euros e o FMI 250 bilhões de euros.

O requisito básico para que os países sejam beneficiados com o pacote aprovado é se enquadrarem nas “regras” impostas pela Comissão Européia que visa implantar de maneira agressiva a política de cortes nos gastos públicos ou chamado plano de austeridade fiscal, isto é, um ataque em profundidade contra as condições de vida das massas. Esta exigência é para que os déficits públicos dos países sejam reduzidos até 2013 a 3% do PIB (Produto Interno Bruto) e para isso vão apertar o cerco contra os trabalhadores.

Na última semana, três países da zona do euro aprovaram estes planos,Grécia, Espanha e Portugal. As medidas vão atacar diretamente os trabalhadores promovendo o corte e congelamento de salários, demissões, aumento e criação de impostos, aumento da idade para aposentadoria etc.

São todas medidas que vão fazer os países economizar à custa da expropriação e maior exploração da classe operária européia para sustentar o lucro dos capitalistas. Todos estes países tem déficits públicos acima de 9% chegando a ter até 13,7% como é o caso da Grécia. Os cortes servem para diminuir a dívida nos próximo três anos.

As bolsas não reagiram muito bem à adesão da Espanha e Portugal ao plano de austeridade. Na Espanha, as ações dos principais bancos despencaram, o Santander teve queda de 9,8%, o BBVA caiu 8,4% e na França o Société Générale desvalorizou 8,6%.

Na última sexta-feira, dia 14, todas as bolsas européias caíram, em Frankfurt a perda foi de 3,12%, em Paris, 4,59%, em Madri a bolsa despencou 6,64%, pior resultado em dois anos. Em Londres a perda também foi grande, baixa de 3,14%. Na bolsa de Atenas a queda foi de 3,41% e Lisboa as perdas foram de 4,27%.

A crise, bem como a solução inevitável, encontrada para evitar o colapso geral jogaram um balde de água fria nas otimistas expectativas alardeadas desde o final do ano passado. Segundo um analista da CMC Markets, "Persiste uma verdadeira preocupação de que, com o pacote de ajuda europeu anunciado no início da semana, as perspectivas de crescimento para a Europa caiam num buraco negro, com os governos do continente cortando gastos e elevando impostos para recolocar sob controle seus enormes déficits". Ou seja, não há esperanças nem mesmo para os economistas burgueses de que mesmo as medidas de cortes vão efetivamente solver a crise.

Na realidade, a eficácia dos pacotes de austeridade não pode ser estabelecida sobre uma base exclusivamente econômica. O decisivo é a luta de classes. A reação das massas, em particular da classe operária, aos ataques dos seus governos imperialistas impõe um limite infranqueável a uma política de “recuperação” baseada nesse mesmo ataque.

A implantação deste pacote tem o claro objetivo de tentar impedir o agravamento da crise na zona do euro, pois o endividamento da Grécia, Espanha e Portugal coloca em risco a própria existência do euro. Há ainda os países fora desta região, como a Grã-Bretanha que também se está endividado o que pode causar um colapso em toda a Europa.

Ainda dentro da zona do euro, a França, um dos principais países imperialistas da região já anunciou redução de gastos públicos para 2011. O primeiro-ministro francês, François Fillon, disse que os gastos públicos serão integralmente congelados durante nos próximos três anos. E esta decisão será tomada independente da inflação do País.

Obviamente que o governo Sarkozy apresentou estes cortes como algo diferente do plano de austeridade adotado pela Grécia dizendo que na França os cortes serão mais “brandos”. Mas o fato é que o ataque se dirige, assim como no caso grego, aos trabalhadores e que nada impede que de cortes mínimos o plano passe para uma contenção generalizada com demissões, aumento de aposentadoria e outras perdas de benefícios trabalhistas.

Estes exemplos indicam que há uma política internacional de ataque às condições de vida dos trabalhadores e as massas exploradas de toda a Europa. É mais um aprofundamento da crise capitalista que para sustentar os parasitas financeiros precisa cada vez mais atacar a classe operária. Por outro lado os trabalhadores da Espanha, Portugal e Grécia já estão se organizando para promover novas paralisações.

Os sindicatos gregos convocaram uma nova greve geral no País para ainda este mês. Será quinta paralisação este ano. A greve geral está sendo convocada para o dia 20 de maio. Em Portugal, os sindicatos estão convocando uma paralisação para o dia 29 de maio onde uma greve geral será proposta. Já na Espanha foi anunciada uma greve geral para o próximo dia 2 de junho.

Reino Unido: crise política e econômica

O impasse da formação do novo governo inglês foi “solucionado” na última semana. O ex-primeiro-ministro do Partido Trabalhista Gordon Brown renunciou e possibilitou a aliança entre os Conservadores e os Liberal-democratas.

Com esta renúncia ficou claro que os Trabalhistas aliados aos Liberal-democratas teriam grandes dificuldades em governar. Além disso, o desgaste do Partido Trabalhista nos últimos 13 anos apenas iria se aprofundar ainda mais caso compusessem uma aliança com os Liberal-democratas. Outro fator é que o Partido Liberal-democrata, “o fiel da balança”, não seria tão beneficiado com uma aliança com os Trabalhistas, pois não obteriam a maioria absoluta do Congresso, 326 cadeiras, apenas teriam um número pouco maior que o dos Conservadores. Na realidade, a opção mostra o esgotamento do governo trabalhista, responsável pela continuidade da política neoliberal em novas condições e pela política imperialista no Iraque.

A renúncia de Brown para que a formação de um novo governo fosse agilizada também foi uma saída para evitar que o regime político britânico, bastante debilitado, sofresse um desgaste ainda maior.

De qualquer forma mesmo este novo governo expressa uma crise profunda no regime bi-partidário da Grã-Bretanha, pois nem o partido Trabalhista e nem o partido Conservador conseguiram a maioria nas eleições para governar e isso coloca em risco o regime político. Para governar foi necessário se aliar aos Liberal-democratas, mas esta aliança e a composição deste governo são mais instáveis que o regime estabelecido até então. Caso esta aliança não se concretizasse estava em risco a paralisação do próprio Parlamento britânico.

Para o partido Trabalhista, a derrota nas eleições e o fracasso na aliança com os Liberal-democratas na formação do novo governo, o que forçou a renúncia de Gordon Brown, demonstra o completo esgotamento da política do “novo trabalhismo” de Tony Blair e talvez o mais relevante, a incapacidade dos Trabalhistas em levar adiante a contenção das massas britânicas.

O Partido Trabalhista vai tentar no próximo período recuperar o “terreno perdido” sobre as massas britânicas, principalmente os votos para tentar se eleger nas próximas eleições, mas para isso precisarão apagar, não se sabe como, os anos de apoio à política imperialista norte-americana no Afeganistão, Iraque etc. e os inúmeros ataques contra os trabalhadores que resultaram na derrota nas últimas eleições.

O novo governo de coalizão na Grã Bretanha já se reuniu e declarou que a política principal será adotar o corte de gastos públicos para a diminuição do déficit do País que é maior que 11% do PIB. Como medida inicial, declarou o corte de 5% dos salários de todos os ministros do governo e do seu próprio salário. Uma medida demagógica e pouco efetiva já que em um ano o corte será de 8 mil libras no salário do novo primeiro-ministro David Cameron. Mas já é um sinal de que os próximos serão os salários dos trabalhadores que serão atacados.

Estes ataques e a composição bastante debilitada do governo entre Conservadores e Liberal-democratas coloca novas perspectivas para o desenvolvimento das mobilizações operárias no Reino Unido.

Reabert a a crise na Tailândia

A tensão na Tailândia iniciada no mês passado com as enormes mobilizações populares voltou à tona na última semana. O período de negociação entre os camisas vermelhas e o governo não durou muito tempo. Quando tudo parecia caminhar para um acordo novos confrontos entre o exército e a população agravaram a situação política no País.

As negociações caminhavam para o restabelecimento da “ordem” com eleições que seriam realizadas em 14 de novembro, as forças armadas voltariam a ter o controle da situação e o parlamento seria dissolvido.

Um dos motivos que desencadearam o desacordo foi uma reivindicação de punição dos assassinatos de mais de 25 pessoas no dia 10 de abril que também deixou 800 feridos. Os manifestantes pedem a punição do número dois do governo, Suthep Thaugsuban. Esta reivindicação foi a discórdia, pois o primeiro-ministro Abhist se recusou a aceitar a exigência e recuou nas negociações reabrindo a crise no País. A direção do movimento de oposição tentou evitar a apresentação desta reivindicação, mas a pressão popular foi tanta que não foi possível não apresentá-la.

Com a decisão de Abhist em não negociar mais, os camisas vermelhas permaneceram no centro de Bangcoc e a crise foi novamente reaberta. Mesmo sob ameaças do corte de energia elétrica, água e alimentos em toda a capital, os camisas vermelhas reagiram dizendo que só sairiam mortos.

O primeiro-ministro Abhist então organizou uma operação para retirar à força os camisas vermelhas do centro da capital tailandesa. Na última quinta-feira, dia 13, foi iniciada uma operação militar que fechou quatro estações do metrô e todo o perímetro central que está ocupado pelos manifestantes. Mais de 5.000 famílias foram atacadas pelo exército.

Cerca de 50 tanques de guerra estão sendo usados na operação militar e a comunicação foi cortada com o auxílio das operadoras de celular. Foi também implantado o estado de exceção em pelo menos 15 províncias tailandesas para facilitar a repressão sobre os camisas vermelhas.

Deste confronto inicial houve uma morte e pelos menos 12 feridos, um deles foi Seh Daeng, líder estrategista militar dos camisas vermelhas. Ele foi atingido por um franco atirador com um tiro na cabeça e até o fechamento desta edição estava em estado grave, com poucas chances de sobreviver. Cinicamente as autoridades militares da Tailândia negaram a autoria do tiro.

Até o fechamento desta edição o conflito estava em andamento.

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