"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

domingo, 23 de maio de 2010

Crise permanente - Acordo Irã e Brasil e a convulsão popular na Europa e Ásia


O acordo nuclear assinado entre Brasil, Turquia e Irã é uma manobra capituladora diante da imposição do imperialismo. Pode, no entanto, facilitar um limitado programa nuclear iraniano por um período. O problema, no entanto, está em que os Estado Unidos e os demais países imperialistas estão determinados a manter o monopólio da produção de energia nuclear por motivos políticos (militares) e econômicos. Enquanto isso os trabalhadores gregos e tailandeses intensificam as lutas contra seus governos


Na última semana, o governo brasileiro em parceria com o governo turco formalizaram o acordo nuclear com o Irã. O fato foi destaque internacional que fez com que os Estados Unidos iniciassem uma articulação entre os países para impedir a viabilização do acordo, embora este se encontre totalmente na linha formal das decisões imperialistas da ONU.

O acordo, apesar das aparências e do desacordo com a política dos EUA é mais uma capitulação diante do imperialismo e foi o resultado de uma campanha internacional feita pelo imperialismo para aprovar sanções contra o Irã.

O acordo prevê que a Turquia seja um intermediário entre o Irã e os países que participam do acordo, como por exemplo, a França e a Rússia. O Irã vai enviar 1.200 quilos de urânio enriquecido a 3,5% para a Turquia e esta vai repassar para a França e a Rússia que irão devolver 120 quilos de urânio enriquecido a 20%. O prazo para esta “devolução” do urânio foi estipulado em um ano. O urânio enriquecido a 20% é de baixa intensidade já que para a construção de uma bomba atômica, precisaria de um enriquecimento maior que 90%. É um cumprimento das exigências formais do imperialismo, ou seja, a garantia da utilização para “fins pacíficos”, mas não vai deter a ofensiva norte-americana e do imperialismo em geral, que nunca sonharam em se deter nesse ponto.

Os governos dos países atrasados, inclusive os nacionalistas, como do Irã, sujeitam-se à exigência absurda dos grandes poderes coloniais que exigem o seu desarmamento.

Este acordo ainda delimita que o Irã e a Turquia serão supervisionados pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Os 20% de enriquecimento do urânio é permitido, inclusive, pela AIEA.

Os Estados Unidos, como se esperava, acusam o Irã de que não cumprirá o acordo e que terá em mãos um poder incontrolável.

Entre os países imperialistas, muitos estão fazendo coro com os Estados Unidos. O governo alemão declarou que a proposta original da AIEA não poderia ter sido trocada por um acordo entre países.

Outro ataque veio de Israel, por meio do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu que acusou o Irã de oportunista porque vai usar o acordo para ganhar tempo para construir armamento nuclear. Ainda classificou os governos turco e brasileiro de ingênuos. E chamou os outros países a boicotarem o Irã e manter as sanções contra o País.

Mas o acordo ainda terá que passar pelo crivo da AIEA que pode não aceitá-lo. De qualquer forma com a ameaça imperialista de um lado e com o acordo concluído pelo Irã, de outro, existe uma debilidade política dos dois lados.

Primeiro por parte dos Estados Unidos que não conseguiram impedir a realização do acordo e não têm sido bem sucedido na aprovação de sanções contra o Irã ao se aliar com os países que mantém acordos comerciais com o governo iraniano.

O Irã também teve que ceder, pois assinou um acordo onde terá urânio enriquecido fora do próprio país e isso dificultará o andamento do programa nuclear. Um acordo, nestes termos, demonstra certa fraqueza do governo Iraniano na tentativa de se impor contra o imperialismo norte-americano.

Mesmo com a assinatura do acordo entre Brasil, Turquia e Irã, é necessário que fique claro que ele ainda precisa ser aprovado pela AIEA e pelo Conselho de Segurança da ONU, ou seja, pelos Estados Unidos, que praticamente dominam estas instituições.

O impasse está no fato de que o Irã está se comprometendo em passar pela fiscalização da AIEA, o que coloca em xeque as alegações políticas dos Estados Unidos, pois o governo iraniano, com o acordo, estaria concordando em ser monitorado. Ou seja, estaria dentro das regras do Tratado de Não-Proliferação ditado pelo imperialismo, que indica a pesquisa e o desenvolvimento de energia nuclear para fins pacíficos e com a fiscalização da AIEA.

O imperialismo norte-americano alega, agora, que o acordo não vai ser seguido pelo Irã que continuará enriquecendo urânio no próprio País e vai impor novas capitulações do governo iraniano e dos demais governos dos países atrasados. A política norte-americana, portanto, não será a via pacífica, pois já informou que vai manter a aplicação de sanções contra o Irã. Resultado da “hábil” manobra de Lula e do governo do Irã: abrir caminho para uma ainda maior pressão imperialista.

O Brasil entrou na “jogada” como forma de viabilizar o acordo e adiar as sanções impostas ao Irã. O acordo, mesmo que ainda não aprovado pela AIEA já deixou o Conselho de Segurança da ONU abalado, pois a possibilidade de uma retomada das negociações com o Irã fez com que a China não adotasse a política norte-americana de sanções e pedisse pelo diálogo com o governo iraniano mostrando-se favorável à aprovação do acordo.

A insistência dos Estados Unidos em aplicar as sanções ao Irã mesmo com a disposição do governo iraniano em negociar e entrar em acordo deita por terra, na realidade, toda a aparência democrática imperialista do Tratado de Não-Proliferação, pois revela que não existem normas para esta ditadura dos países imperialistas, mas apenas a vontade e disposição arbitrária dos Estados Unidos em deixar ou não os países desenvolverem energia nuclear.

O que está por detrás deste ataque imperialista ao Irã com as sanções e a campanha de que o Irã vai produzir armamento atômico é a manutenção do monopólio sobre a produção de energia nuclear que garante, aos países imperialistas, liberdade irrestrita, enquanto os países de capitalismo atrasado passam por todos os tipos de proibições da parte dos donos do planeta. O imperialismo quer impedir que estes governos possam desenvolver energia nuclear para assegurar a sua dominação política e econômica sobre estes países.

Grécia em chamas

Em mais uma demonstração de força, os trabalhadores gregos realizaram mais uma gigantesca greve geral na última semana.

Na quinta-feira, dia 20, mais de 2,5 milhões de trabalhadores gregos pararam a Grécia para protestar pela quinta vez, este ano, contra o governo e as medidas de cortes de gastos que estão sendo impostas.

O chamado plano de austeridade implica nos cortes e congelamento de salários, corte do auxílio aos desempregados, aumento da idade da aposentadoria, entre outras medidas. Apesar da aprovação do governo, estas medidas ainda não foram colocadas em prática pelo governo grego, pois estão bastante apreensivos com a reação dos trabalhadores, pois a cada nova greve geral o número de manifestantes aumenta e a radicalização também.

O governo grego tenta a todo custo fazer com que os gregos aceitem as medidas para supostamente salvar a economia grega, mas os trabalhadores não estão dispostos a negociar

A greve desta última quinta-feira teve a participação de 2,5 milhões de trabalhadores. A paralisação aconteceu em escolas, bancos, meios de transportes, hospitais etc. Todos os comércios ficaram fechados. Os manifestantes foram transportados apenas para os locais das manifestações.

Desta vez a categoria dos jornalistas não paralisou, mas trabalhou apenas para cobrir a greve. O setor aéreo foi outro que também não aderiu totalmente, mas os trabalhadores da alfândega entraram em greve e prejudicaram mais de 50 vôos.

A greve reuniu tanto os sindicatos ligados aos setores públicos, principal alvo das medidas do governo grego quanto os sindicatos ligados ao setor privado.

Os manifestantes ocuparam diversos prédios públicos entre eles o Ministério do Trabalho impedindo a entrada de funcionários. No prédio do ministério foi pendurada uma faixa exigindo o fim das medidas de cortes públicos.

A greve gerou insegurança no mercado financeiro provocando a queda nas bolsas de valores. Na Ásia, por exemplo, a queda nas bolsas foi a maior em 18 meses. A desvalorização do euro também foi grande. O euro caiu em seu menor nível em 18 meses.

A situação da economia grega tem se agravado gradativamente, este ano, o número de trabalhadores com empregos é de 600 mil a menos que em 2009. No ano passado, 5 milhões de trabalhadores gregos estavam empregados, agora são apenas 4,4 milhões.

Entre as reivindicações levantadas, os trabalhadores passaram a exigir assistência para os que estão desempregados.

O policiamento também foi bastante intenso. Logo no início das manifestações, 36 jovens foram presos por serem considerados suspeitos. Os policiais gregos estavam também revistando, sem nenhum critério, homens, mulheres, crianças, idosos e etc.

Outras 1.500 pessoas foram consideradas, pela polícia, como “responsáveis” pela greve. As pessoas foram fichadas e caso houvesse algum incidente seriam penalizadas pelo ocorrido.

Mesmo com toda a pressão exercida pelo governo grego, seja com a força policial, com a imprensa burguesa ou com as medidas e os cortes, os trabalhadores já disseram que não irão recuar diante desta ofensiva que visa tirar direitos e atacar as condições de vida de milhões de gregos com a farsa da salvação do falido sistema econômico grego.

Tailândia: barril de pólvora

Os conflitos reiniciados na semana passada, na Tailândia, se intensificaram na última semana.

Com os constantes ataques do exército tailandês à capital, Bangcoc, os “camisas vermelhas” espalharam os ataques para mais de 21 províncias do País.

A ação dos vermelhos foi uma resposta a maneira como o exército atacou os trabalhadores, matando 19 pessoas na semana passada.

O governo de Abhisit perdeu o controle, e várias cidades foram tomadas pelos “camisas vermelhas”, ou seja, a maioria da população tailandesa.

Mesmo em Bangcoc os “camisas vermelhas” não deixaram por menos, depois do ataque do exército com tanques e armas pesadas, os vermelhos queimaram vários prédios.

As medidas repressivas não cessaram. O toque de recolher foi estendido para 23 províncias do Norte e Nordeste da Tailândia, além de estar sendo aplicado na capital.

Nestas cidades há ações dos "camisas vermelhas" contra diversos prédios do governo.

Em uma operação contra o acampamento vermelho localizado no centro da capital, pelo menos, quatro pessoas morreram e 50 ficaram feridas durante a operação militar.

Como forma de resistência aos incessantes ataques do exército, os “camisas vermelhas” provocaram mais de 20 focos de incêndios.

A crise no país é imensa e os manifestantes estão realizando incêndios e saqueando prédios comerciais enquanto deixam a cidade.

Os "camisas vermelhas" resistem à repressão como podem,queimaram o primeiro pavimento do prédio da Bolsa de Valores de Bangcoc,atacaram o "Canal 3" da televisão estatal, além de um teatro e o luxuoso centro comercial Central World. Os manifestantes colocaram nove mil pneus formando enormes barricadas.

A principal reivindicação dos manifestantes, os “camisas vermelhas” e os “camisas negras” é a dissolução da câmara baixa do parlamento tailandês. Exigem também a convocação de novas eleições.

O impasse ainda permanece na Tailândia e não tem hora para acabar. O imperialismo, por detrás da ONU (Organização das Nações Unidas) tenta acabar com o conflito, mas claramente defende a negociação para não intensificar ainda mais a situação. Entre os manifestantes, a tendência geral é de radicalização, apesar de alguns setores mais moderados, realizarem manifestações pacíficas. Este impasse na Tailândia só acentua a crise revolucionária que está se desenvolvendo na Ásia e na Europa. Um confronto inevitável que, à medida que avança, enfraquece ainda mais a burguesia mundial e o sistema capitalista como um todo.

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