"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Evo Morales enfrenta a primeira greve geral de trabalhadores



Mais uma vez a Bolívia vive uma jornada de intensas lutas. Mas agora não estamos falando das mobilizações da ultra-direita no Leste do país, defendendo a “autonomia” ou massacrando camponeses, como ocorreu em Pando. Ou das mobilizações camponesas em apoio a Evo Morales e sua Constituição. Estamos falando da combativa e histórica classe trabalhadora da Bolívia, que desperta como um leão adormecido, após cinco anos de expectativa e paciência com o governo de Evo Morales.

Como não acontecia há muitos anos, a classe operária boliviana, sobretudo os trabalhadores das fábricas e os professores estão protagonizando mobilizações radicalizadas, contrárias às políticas anti-operárias do governo. Nas últimas semanas, as principais cidades do país foram palco de marchas e protestos de diferentes setores de trabalhadores, em rejeição ao miserável aumento salarial de 5% e à proposta de Código de Trabalho apresentada pelo governo. Essas mobilizações se expandiram como um rastilho de pólvora.

Nos cinco anos à frente da administração do país, Evo procurou desmontar o processo revolucionário aberto em 2003. Como dirigente indígena, com autoridade e apoio nos movimentos sociais, Evo Morales logrou desviar a revolução pela via de sucessivos processos eleitorais. Em outubro de 2008 pactuou com a burguesia empresarial e rural, uma nova constituição. Quando pressionado, o governo realizou mornas nacionalizações (com suculentas indenizações às multinacionais), aumentou os rendimentos do Estado, mas este não foi revertido em melhores salários e condições de vida para os trabalhadores.

Mas, para além do discurso de que se está conduzindo “um processo de mudança” e uma revolução democrática e cultural, a Bolívia continua sendo um país capitalista semi-colonial. Hoje a Petrobrás controla 60% da produção de gás, e as empresas privadas multinacionais controlam quase 70% da exploração de minérios no país.

A realidade é que o processo de mudança anunciado pelo governo não passa de uma grande farsa que já começa a ser percebida por vários setores sociais. O desgaste e retrocesso do MAS em importantes cidades, nas eleições de 4 de Abril, foram uma clara demonstração de que a lua de mel entre o governo, a classe operária e os movimentos sociais está acabando.

Os recursos naturais continuam nas mãos das empresas estrangeiras, e nestes cinco anos as condições de vida da classe operária boliviana seguem piorando. O salário mínimo é um os mais baixos da América Latina, não atingindo os 100 dólares (647 bolivianos). Cerca de 31,4% dos trabalhadores bolivianos ganham menos de um salário mínimo. O aumento de 5% equivale a 32 bolivianos; estudos indicam que o salário mínimo básico deveria ser de 1800 bolivianos. O desemprego, nas principais cidades, atingiu 11% em 2009. Hoje o trabalho informal no país chega a 62%.

A explosão de raiva dos trabalhadores das fábricas, em protesto ao aumento salarial de 5%, contagiou outros setores. Este setor, que faz pouco tempo, era uma das principais bases de apoio do governo no movimento operário, agora está na vanguarda das lutas contra as medidas do governo.

As mobilizações enfrentam três grandes inimigos: o governo, os empresários que apóiam a proposta do mesmo governo, e a direção da COB. O acordo entre empresários e governo, em torno do aumento de 5%, demonstra de qual lado está Evo Morales. Ambos afirmam que um aumento maior significaria inflação, mas na verdade, os 5% é uma forma de preservar os interesses dos empresários.

O governo tem dinheiro suficiente para atender às reivindicações dos trabalhadores. Mas não lhe interessa melhorar as condições de vida da classe operária e também não lhe interessa enfrentar os empresários. Hoje as reservas da Bolívia atingem os 8 bilhões de dólares, no entanto este dinheiro é mantido nos grandes bancos estrangeiros, como uma forma de gerar segurança jurídica aos investimentos privados, e financiar os mega-projetos do IIRSA.

Ademais, os deputados e senadores do novo “Estado Plurinacional” recebem cerca de 15 mil bolivianos por três semanas de trabalho, enquanto a maioria dos trabalhadores não recebe este montante em um ano de trabalho duro nas fábricas. Este não é o processo de mudança que reivindicaram os trabalhadores em 2003.

A direção da COB paga o preço por trair os trabalhadores

Cedo ou tarde os trabalhadores reconhecem os traidores e burocratas em seu seio. Chegou a vez de Pedro Montes, atual presidente da COB. Nos últimos dois anos, a COB passou a ser um braço do governo no movimento operário, e um obstáculo às lutas. Em todos os atos oficiais estava Pedro Montes ao lado de Evo Morales, enquanto as reivindicações dos trabalhadores eram postergadas. A COB negociava com o governo cargos, sedes sindicais e carros, à custa de subordinar-se às suas medidas.

Mais recentemente, Pedro Montes calou-se diante do nefasto Código de Trabalho do governo e do aumento salarial de 5%; isso foi a gota d’água que fez transbordar o copo. Nas últimas mobilizações, era comum encontrar um trabalhador com um cartaz que dizia “Fora Pedro Montes da COB” ou “Pedro Montes Traidor”.

27 de abril: cerca de 14 dirigentes operários entram em greve de fome no Escritório da Federação dos Operários de La Paz. O objetivo era pressionar o governo por um aumento salarial de 12%.

29 de abril: massiva mobilização dos operários nas ruas da cidade de La Paz, onde exigiam a renúncia da Ministra de Trabalho, Carmen Trujillo. Os trabalhadores carregavam cartazes denunciando Pedro Montes, dirigente da COB, como traidor por ter negociado com o governo o aumento de 5%. Dezenas de balões foram lançados ao Ministério de Trabalho. Os operários e a COD (NdT: Central Operária Departamental) de La Paz ignoram Pedro Montes e convocam uma marcha para o 1º de maio, sem a presença da COB.

No mesmo dia, realiza-se uma reunião ampliada nacional da Central Operária Boliviana. Pressionado pela mobilização e pela greve de fome dos operários, a direção da COB retrocede, e convoca uma marcha unitária para o 1º de maio; além disso, a plenária ampliada, contra a posição do dirigente da COB, define uma greve nacional para 04 de maio, em rejeição aos 5%.

30 de abril: No departamento de Oruro, à cabeça da Central Operária Departamental, dirigida por Jaime Solares, os trabalhadores, de maneira antecipada, realizam uma marcha pelo 1º de maio. É visível o descontentamento da classe operária de Oruro com o governo; também se ignora a Pedro Montes.

1º de maio: Pela primeira vez, em cinco anos, Evo Morales não participa dos atos do 1º de maio. Diferente do ano passado, os trabalhadores não estavam dispostos a marchar lado a lado com o governo. Temendo a reação dos operários, Pedro Montes, dirigente da COB, não participa do 1º de maio de La Paz (Vai para Huanuni, alegando problemas pessoais).

Na concentração do ato, os fabris realizam um comício. Ramiro Condori, fala em nome da COB, mas a massa operária, com apitos, não permite que ele continue sua intervenção. A marcha se divide. Por um lado estão a direção da COB, a FSTMB e outros setores sindicais ligados ao governo. Do outro estão os operários, as organizações e partidos de esquerda. Era visível a superioridade numérica da marcha dos operários comparada à marcha da COB, mas também por sua radicalização.

4 de maio: Os dias que antecederam à greve foram de intensas discussões entre os trabalhadores e o governo. Os ministros acusavam os trabalhadores de estarem contra com o “processo de mudança” e de haver infiltrados da direita nas mobilizações. A raiva dos trabalhadores aumentava ainda mais com as declarações e acusações oficialistas. A COB, para evitar a greve e maiores confrontos com o governo, buscava a negociação pelos bastidores. Mas o governo mantém-se irredutível no aumento de 5%. A primeira greve geral dos trabalhadores, durante os cinco anos do governo de Evo Morales, foi contundente, apesar do freio da COB.

As escolas e a maioria de fábricas de La Paz, Oruro e Cochabamba pararam. A partir das 11 da manhã, os operários e professores protagonizaram bloqueios e marchas por toda a cidade. Pela tarde, diferentes setores sociais, sem a presença da COB, realizaram uma grande marcha. Ao dar-se conta de que a greve foi de massas em diferentes setores, o governo partiu para reprimir os bloqueios. Os polícias, encapuzados, em motocicletas lançavam gás lacrimogêneo para dispersar a mobilização, que ainda assim continuava. Ao final da tarde os operários dirigiram-se aos escritórios do Ministério de Trabalho e tentaram ocupá-lo. O confronto teve como saldo a prisão de 15 trabalhadores e dois feridos.

Continuar a mobilização e exigir à COB uma Greve Geral por tempo indeterminado

Após a vitoriosa greve geral, é necessário continuar com as mobilizações para fazer retroceder o governo. Só com a unidade do conjunto da classe operária boliviana, podemos atingir a vitória nesta luta. Os setores combativos devem exigir à COB, uma Greve Geral por tempo indeterminado como única forma de impor os 12% de aumento.

O governo e a burocracia da COB tentam dividir os trabalhadores. Na marcha do 1º de maio os dirigentes da FSTMB lançaram cartuchos de dinamite contra os operários. Os mineiros devem passar por cima de suas direções e se unirem à luta.

Diante da cooptação da maioria das direções sindicais, a classe operária boliviana deve dar os primeiros passos na construção de uma nova alternativa de direção à COB, que esteja à altura de suas necessidades e não subordinada ao governo. Para isso os trabalhadores devem exigir a imediata convocação do congresso da COB, para tirar Pedro Montes e a burocracia oficialista.

· Continuar com a mobilização rumo a uma Greve Geral por tempo indeterminado, para derrotar o aumento salarial de 5%!
· Pela imediata liberdade dos 15 trabalhadores presos na greve!
· Derrotar o nefasto código de trabalho do governo!
· Exigir a imediata aprovação de uma nova lei de pensões solidária, com idade de 55 anos, contribuição tripartite e sob o controle dos trabalhadores!

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