"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A Rede nacional de Advogados e Advogadas Populares/RN-CE, a Comissão Pastoral da Terra, o CRDH-RN, Via campesina, GEDIC, e diversas outras entidades ligadas a defesa dos direitos humanos protocolaram “dossiê-denuncia” (leia aqui) junto à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da Republica, Secretaria-Geral da Presidência da República, IPHAN, TCU, e mais dez órgãos do Governo Federal, apontando dezenas de violações aos direitos humanos, meio ambiente, patrimônio histórico e aos cofres públicos na instalação do Perímetro Irrigado da Chapada do Apodi/RN. O projeto, capitaneado pelo Departamento Nacional de Obras contra as Secas - DENOCS, consiste na desapropriação de 13.855 hectares para a implementação de um programa de fruticultura irrigada sob o comando de quatro grandes empresas, deslocando de maneira forçada cerca de 6 mil agricultores que vivem em 30 comunidades na região há cerca de 50 anos. Segundo as entidades denunciantes, o projeto de irrigação configura-se em uma “reforma-agrária ao contrário”, uma vez que a região da Chapada do Apodi/RN vêm se consolidando como uma das experiências mais exitosas de produção de alimentos de forma agroecológica e familiar do nordeste, destacando o arroz, frutas, criação de caprinos, ovinos e bovinos, projetos de piscicultura, além do mel de abelha, maior produtora de maneira orgânica do país. Conforme especialistas, a obra é, ainda, hidricamente inviável, já que a água disponível conseguirá irrigar o monocultivo por no máximo cinco anos, representando o mal uso de R$ 280 milhões (duzentos e oitenta milhões de reais) dos cofres públicos, valor orçado até o momento. A possível implantação do projeto será o fator de desarticulação da experiência agroecológica e de agricultura familiar ao priorizar a monocultura e a exploração de grandes extensões de terra, com grande utilização de agrotóxicos, causando diversos problemas aos recursos naturais e à vida humana. Representará, também, a implosão de um grave problema social, já que as indenizações a serem pagas aos agricultores serão em valores ínfimos, impossibilitando-os de ter nova moradia e outra forma de sustento. Os agricultores estão em estado de apreensão, se negam a deixar suas terras, e esperam que o governo federal reveja o modo como o projeto está sendo implantado.


O artista cubano Silvio Rodríguez interpretando uma canção em homenagem à Violeta Parra. Assim começou a comemoração do centenário do Partido Comunista do Chile, realizada no dia 08 de dezembro. O palco do evento não poderia ser mais simbólico: o Estádio Nacional, em Santiago. Esse local entrou na memória histórica da luta do povo latino-americano ao ser transformado em um centro de detenção e tortura pela ditadura do general Augusto Pinochet que, em setembro de 1973, depôs com um golpe militar o presidente eleito Salvador Allende.
Nesse estádio, o poeta e cantor Victor Jara foi assassinado pela brutalidade daquele regime. A festa do Partido Comunista, contando com a presença de mais de 70 mil pessoas, foi uma forma de lavar as arquibancadas do estádio com o suor da celebração, do congraçamento e do comprometimento militante. O futuro que se constrói com a força do presente leva em conta os caminhos abertos pelos caídos de ontem e hoje.
O Partido Comunista do Chile nasceu em 1912 a partir da união de trabalhadores organizados, dispostos a mudar as estruturas de dominação econômica e social que acometiam o Chile de então. Em sua história, sempre esteve comprometido com a luta de milhares de trabalhadoras e trabalhadores e nas mais variadas frentes de batalha empreendidas pelo povo chileno no último século. É o único dos partidos históricos do Chile que nunca formou parte e nem apoiou regimes ditatoriais no país. Por suas fileiras passaram cantores como Violeta Parra e Victor Jara. Poetas como Pablo Neruda. Dirigentes como Gladys Marín, dentre tantos outros militantes anônimos.
O Chile foi um país que sempre se destacou por possuir uma tradição cultural popular e de esquerda. Canções, painéis, consignas, teatro popular e mais uma variedade de formas de expressão artística sempre fizeram parte da luta desse povo como algo intrínseco à própria luta, não apenas como um apoio. Isso foi possível de ser verificado na participação popular no estádio, nos gritos e canções entoadas em coro, na presença de idosos, adultos e fundamentalmente jovens, e no posicionamento político dos artistas.
Lutas do passado e lutas do presente foram lembradas nessa noite, ressaltando a linha de continuidade existente entre elas. O grupo musical Cantata Rock interpretou a “Cantata de Santa Maria de Iquique”, opereta musical composta pelo músico Luís Advis em 1969 e que retrata o massacre de 3.600 trabalhadores do salitre na cidade Iquique, no ano de 1907, durante uma greve contra as más condições de trabalho.
Também durante a apresentação do grupo, foi exibido um filme com atos realizados durante o governo da Unidade Popular e um discurso de Salvador Allende. Após o discurso, palmas do passado, no filme, e do presente, no estádio, se mesclaram em uma só grande salva de palmas em homenagem ao presidente deposto. Em coro, a multidão entoou: “se siente, se siente, Allende está presente”.
Em sua apresentação, o conjunto musical Inti Illimani cantou em homenagem a Victor Jara. O grupo também deixou seu recado em forma de discurso, exortando a que o Chile deixe de ser um supermercado e passe a ser uma comunidade, fazendo uma critica ao modelo neoliberal vigente no país. O grupo também discorreu sobre temas espinhosos. Com consciência latinoamericanista e sem nacionalismos baratos, foi lembrado “o mar que o Chile deve a Bolívia”, fazendo referência a Guerra do Pacífico ocorrida no século XIX, quando o Chile tomou territórios bolivianos bloqueando a saída desse país ao mar.
Também foi lembrado que “o mar seja do povo, e não das empresas pesqueiras, aludindo a disputa jurídica levada a cabo no Tribunal de Haya, na qual o estado peruano reclama um território marítimo hoje pertencente ao Chile. Para muitos, essa disputa levada a cabo entre estados nacionais defende apenas o interesse que algumas poucas empresas de pesca que explorarão a área marítima em disputa.
Ovacionado com canções que faziam referência aos chilenos exilados na época da ditadura de Pinochet, o grupo Illapu elogiou os “estudantes valentes que fizeram o Chile sair às ruas” e pediu apoio à luta do povo Mapuche.
O grupo Sol y Lluvia fez uma apresentação memorável, fazendo o público dançar e transformando as arquibancadas do estádio numa grande festa. Logo após, a Internacional Socialista foi interpretada no piano, com profundo sentimento e com os setenta mil presentes levantado o punho esquerdo ao alto.
O momento mais solene da noite ficou a cargo do presidente do PC, Guillermo Teillier, que começou sua fala lembrando figuras históricas do partido. O dirigente pontuou também algumas importantes trincheiras de combate do Partido Comunista e do povo chileno atualmente. Teillier defendeu que a água seja um bem público, e que o mar chileno não seja propriedade de cinco empresas pesqueiras. Defendeu a despenalização do uso da maconha e o fim da discriminação contra qualquer tipo de orientação sexual. Exigiu educação pública, gratuita e de qualidade, e elogiou a brava luta dos estudantes chilenos que saíram as ruas e pararam o país com suas manifestações. Também lembrou as últimas eleições municipais, quando a direita foi derrotada.
Teillier exaltou o histórico de lutas das trabalhadoras e trabalhadores chilenos e terminou seu discurso agradecendo a solidariedade do poeta cubano Silvio Rodriguez, afirmando que suas canções foram rosas vermelhas que floresceram na clandestinidade, quando a obra do autor estava censurada no país.
Por fim, o evento se transformou numa grande cueca, gênero musical muito popular no Chile.
A festa dos 100 anos do Partido Comunista do Chile foi uma festa popular que se fez ouvir dos calcinantes desertos do norte aos blocos de gelo do sul do país. Das incomensuráveis e belíssimas alturas andinas ao mar enorme que se abre nos muitos quilômetros de costa junto ao Oceano Pacífico. Que o povo chileno siga firme em sua inquebrantável determinação por um futuro de dignidade, paz e justiça social.

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