"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

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Henry Ward Beecher

domingo, 23 de agosto de 2009

Crise do imperialismo e capitulação do nacionalismo burguês

O imperialismo e a direita latino-americana tentam uma ofensiva para barrar o avanço do nacionalismo burguês, que ganha força, no marco da crise capitalista

O imperialismo e a direita latino-americana tentam uma ofensiva para barrar o avanço do nacionalismo burguês, que ganha força, no marco da crise capitalista.
O Ministério Público de Honduras ordenou os primeiros requerimentos contra elementos das Forças Armadas por violação dos direitos humanos por incidentes ocorridos após o golpe de 28 de junho. As ações ocorrem contra dois membros das Forças Armadas, um tenente e um cabo, acusados de detenção ilegal.
O processo é uma figuração para fazer parecer que providências estão sendo tomadas contra os abusos dos golpistas, pois os crimes cometidos pelos golpistas foram generalizados e muito mais graves, como assassinatos e torturas.
No entanto, o fato é produto da enorme desmoralização do golpe. O governo foi obrigado, na quinta-feira dia 20, a soltar 24 presos políticos que haviam sido detidos em manifestações contra o golpe.
A Frente Nacional Contra o Golpe continua organizando enormes protestos nas ruas da capital, Tegucigalpa, e de San Pedro Sula, a segunda cidade em importância no país, com milhares de pessoas. Os manifestantes esperam que a volta de Zelaya aconteça nesta semana. Em San Pedro Sula, os manifestantes exigiram que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos tomasse providências contra os abusos das autoridades.
Os golpistas têm que enfrentar cada vez mais as manifestações populares nas ruas, que estão debilitando completamente o regime político, e uma pressão diplomática internacional. Desde o golpe, em 28 de junho, o governo de Roberto Micheletti, sofre pressão contrária de vários países, com declarações em apoio a Zelaya e atos como a retirada de embaixadores em Honduras. A Espanha, a França e o Brasil foram um dos países que retiraram os respectivos embaixadores de Honduras. O Brasil, além do apoio explícito de Lula a Zelaya, rompeu todos os acordos econômicos com Honduras, até que o presidente deposto seja restituído.
Nessa semana, o governo golpista de Honduras rompeu relações diplomáticas com a Argentina, depois que a presidente do País, Cristina Kirchner, expulsou a embaixadora hondurenha em Buenos Aires, Carmem Eleonora Ortez Williams. As relações com a Argentina serão feitas agora através da embaixada de Israel na Argentina, segundo um comunicado do Ministério de Assuntos Exteriores do Governo do golpista Roberto Micheletti.
Israel é um dos poucos países que mantém relações com o governo surgido do golpe. A decisão foi tomada, segundo os golpistas, com base no princípio da “estrita reciprocidade”, ou seja, igual trato, prazo e facilidades que se conceda aos funcionários hondurenhos na Argentina serão dados aos funcionários argentinos em Honduras.
A decisão do governo argentino de expulsar a embaixadora hondurenha de Buenos Aires é um resultado da visita que o presidente deposto, Manuel Zelaya, fez pela América do Sul. Zelaya pediu que Kirchner tomasse tal decisão, tendo em vista que Carmen Eleonora apoiou o golpe militar de 28 de junho.
A mesma decisão foi tomada pelo governo de Costa Rica, que anunciou que vai retirar credenciais diplomáticas da embaixadora de Honduras em San José, Koritza Suazo. O pedido foi feito por Zelaya, alegando o apoio aberto de Suazo aos golpistas.
O próprio imperialismo norte-americano foi obrigado a condenar, ainda que apenas em palavras, o golpe, e tomando o máximo cuidado para não cair em contradição, já que a direita norte-americana e imperialista foi a responsável pela orquestração do golpe que depôs Manuel Zelaya do poder.
Um jornal burguês hondurenho, apoiador do golpe, publicou uma matéria em sua página na Internet onde relata que em entrevista ao programa “Frente a frente”, Roberto Micheletti afirmou que o embaixador dos EUA em Honduras, Hugo Llorens, sabia do golpe. “Nos reunimos os três cidadãos liberais que acreditamos amantes da democracia com o senhor Hugo Llorens em sua casa na Embaixada norte-americana, com seu assistente apelidado Simons, Patrícia Rodas, Enrique Flores Lanza e o ex-presidente Zelaya e o tema era não haver a pesquisa colocando a palavra ‘Constituinte’, dizíamos a Manuel Zelaya diante do senhor embaixador” (La Prensa, 18/8/2009).
O mesmo jornal já havia noticiado a visita que dois congressistas norte-americanos do Partido Republicano fizeram a Roberto Micheletti no final do mês de julho. Os deputados “puderam observar a paz da cidade de Tegucigalpa”, como afirma um jornal hondurenho apoiador do golpe. O mesmo jornal afirma que “Mack, o republicano de maior importância na subcomissão para a América Latina e da Câmara de Representantes e Bilbray se reuniram em Honduras com o presidente Roberto Micheletti, com representantes da Suprema Corte e do Congresso, empresários e membros de igrejas e da sociedade civil” (La Prensa, 13/8/2009). Os dois rejeitaram chamar o ocorrido em 28 de junho de “golpe de estado. As conclusões dos dois deputados da direita norte-americana mostram que a principal apoiadora do golpe foi a ala direita do imperialismo, sob a cobertura do “democrático” governo Obama.
O apoio ao golpe em Honduras faz parte de uma tentativa de organizar uma ofensiva do imperialismo norte-americano no marco da crise capitalista e da própria dominação imperialista. No mesmo sentido está a instalação das sete bases militares norte-americanas na Colômbia.
Na sexta-feira, dia 14, foi anunciado que as negociações para o acordo militar entre Colômbia e EUA foram encerradas e só faltaria agora uma etapa de conclusão. Os detalhes do documento não foram divulgados, o que deixa claro que o acordo é uma violação aos direitos da população não só dos países envolvidos, mas de todos os povos da América do Sul.
A ofensiva imperialista visa a barrar o avanço do nacionalismo burguês em todo o continente latino-americano.
Essa semana, o Senado colombiano aprovou projeto de lei que prevê a realização de um referendo popular para decidir sobre a modificação da Constituição do país. O interesse é permitir um terceiro mandato para Álvaro Uribe, o principal aliado do imperialismo na região. Sem receio algum de parecer incoerente, o imperialismo e a direita latino-americana, que condenaram as mudanças constitucionais promovidas pelos governos nacionalistas como Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, para permitir sua reeleição, agora aplaudem a decisão do governo colombiano.
A manobra faz parte do “pacote” que o imperialismo e a direita da região estão tentando colocar em prática. Trata-se de garantir um governo de total confiança para esses setores para ter uma posição estratégica diante do avanço do nacionalismo.

A atuação do nacionalismo

Do outro lado está o nacionalismo burguês, liderado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que ganha cada vez mais terreno na região. A preocupação do imperialismo em tentar conter esse avanço, é menos um medo dos próprios chavistas, mas um temor do desenvolvimento revolucionário das massas, que está ligado ao nacionalismo.
Isso porque o nacionalismo é uma política que representa os interesses das burguesias nacionais dos países, mas que justamente por isso não consegue ser totalmente independente do imperialismo. Haja vista a enorme fraseologia contra o golpe em Honduras e contra as bases, mas sem que nada de concreto seja feito para derrotar o imperialismo.
O ascenso do nacionalismo é um produto da mobilização das massas. À medida que avança a crise capitalista e, conseqüentemente, a mobilização revolucionária das massas como uma reação a esta, governos burgueses de tipo nacionalista sobem ao poder e ganham terreno sobre o atraso político e a inexperiência das camadas populares. No entanto, por representarem interesses opostos aos das massas, por levarem fundamentalmente uma política burguesa, dividida entre o imperialismo e os interesses da burguesia nativa, colidem com elas, o que pode levar a uma radicalização ainda maior da situação política.
A situação em Honduras, por exemplo, dá o tom do problema. O imperialismo e a direita não conseguem sustentar o golpe, que conta com protestos cada vez maiores e mais radicalizados da população. A situação pode sair do controle do imperialismo e avançar mais à esquerda do que representa o governo nacionalista de Manuel Zelaya.

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