"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

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Henry Ward Beecher

quarta-feira, 10 de março de 2010

A crise européia - Grécia: quem vai pagar?

Após ter aprovado as medidas que promovem cortes de salários e benefícios contra os trabalhadores no início deste mês, o primeiro-ministro George Papandreu recorreu à Alemanha e outros países da União Européia para cobrar a ajuda financeira prometida pelo bloco


A burguesia européia tem se mostrado desconfiada e ainda vê a crise econômica grega como algo extremamente perigoso para os seus próprios bolsos, mesmo que não tenham dado um centavo até agora para o colapso do país.

A população trabalhadora grega, que já estava insatisfeita com a política do governo, intensificou as greves e manifestações em todo o país, com destaque a capital de Atenas onde até mesmo o ministério das Finanças foi ocupado pelos trabalhadores.

Apesar de toda a crise interna que está se formando na Grécia por causa do plano, o primeiro-ministro grego não adiou sua viagem para mostrar ao bloco que as novas medidas e ainda mais duras seriam capazes de levar o país à meta de reduzir 4% do déficit ainda este ano.



O fim dos “bailouts”?



No encontro do dia 6 em Luxemburgo entre George Papandreu e os outros líderes europeus, os representantes do bloco afirmaram que a Grécia terá o apoio político que precisar, mas não houve nenhuma proposta concreta de ajuda financeira.

O único país que ofereceu ajuda financeira, mas ainda assim com desconfiança e receoso dos resultados do plano aplicado pelo governo grego, foi a França.

Após o encontro onde o primeiro-ministro grego não conseguiu a ajuda que esperava mesmo depois de colocar os trabalhadores gregos contra a parede como o bloco havia pedido, Papandreu resolveu viajar por diversos países para tentar, nas relações diretas com cada governo, levantar fundos extras para estancar a sangria econômica da Grécia.

O primeiro país visitado por George Papandreu foi a França. Após a reunião entre o primeiro-ministro e o presidente francês Nicolas Sarkozy, o segundo afirmou que a Grécia pode contar com o apoio dos principais agentes da União Européia, além disso, Sarkozy declarou que tanto a França como a Alemanha e o Banco Central Europeu (BCE) estão unidos para lutar contra a especulação que tem sofrido a Grécia” (El País, 7/3/2010)

O presidente francês disse também que a Grécia não precisa de uma ajuda especial, mas mesmo assim o presidente anunciou que estão preparando medidas para socorrer a Grécia caso seja necessário, porém não detalhou o plano para não dar vantagem aos especuladores.

Já o primeiro-ministro George Papandreu disse em uma coletiva de imprensa na França que a especulação não se dirige só contra Grécia, mas também contra todos os países do euro.

Depois de passar pela França, o primeiro-ministro viajou para os Estados Unidos onde se reuniu com a secretária de Estado, Hillary Clinton na segunda-feira (dia 8) e iria se encontrar com o presidente norte-americano, Barack Obama na terça-feira. O intuito da viagem é pedir o apoio dos EUA para brecar a especulação no mercado.

Durante o encontro Hillary elogiou o plano contra os trabalhadores gregos e disse que Papandreu tem dirigido bem e agido rápido para conter a crise.

A secretária declarou em uma coletiva de imprensa que os EUA não ajudarão a Grécia financeiramente, pois nem o primeiro-ministro e muito menos o governo grego fizeram tal solicitação. O que, segundo ela, demonstra a capacidade do governo grego de se reerguer sem ajuda internacional.

Apesar da afirmação um tanto quanto exagerada, Clinton não se declarou a respeito do plano de contenção da especulação, o que demonstra não haver interesse na proposta. Na realidade, o que o imperialismo norte-americano deseja é forçar os países da Europa Ocidental a pagar pela crise grega.

O primeiro-ministro grego disse que é necessário conter os especuladores que atualmente aumentaram injustamente seus custos de financiamento para a Grécia.

Além disso, Papandreu afirmou que o país já detém uma crise muito alta e, portanto, fica inviável sustentar as taxas que estão sendo duas vezes maiores do que as oferecidas pela Alemanha, por exemplo.

Em outro discurso realizado na última terça-feira, dia 9, o primeiro-ministro grego pediu regras mais rígidas para CDS (credit default swaps, os títulos emitidos sobre a dívida que originou a crise) e para que o G20 imponha limites e mantenha os especuladores na linha.

Caso o presidente Barack Obama e os outros líderes do G20 não aceitem a iniciativa, a Europa irá agir isoladamente, comentou um jornal alemão.

Enquanto a questão não é resolvida e os especuladores continuam a cobrar os preços que querem, a Grécia segue em uma condição onde um empréstimo para aliviar um pouco os efeitos da crise pode ser algo arriscado demais tanto para a Grécia, que estará se endividando ainda mais para pagar suas dívidas, quanto para os demais países europeus, que também estão com suas economias fragilizadas pela crise e correm o risco de não ter de volta o dinheiro investido.

Além disso, a Grécia pensou em recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI), mas o restante do bloco europeu se voltou contra a idéia, pois acreditam que o país deve resolver a crise sozinho.

Outro problema é que apesar de o primeiro-ministro não ter pedido abertamente uma ajuda financeira à Alemanha, o que todos esperavam é que isso fosse ocorrer no último encontro em Luxemburgo, mas não houve e isso porque muitos membros do governo alemão são contrários à ajuda.

A nova etapa da crise capitalista mundial está expondo o limite dos governos burgueses que tentaram cobrir os primeiros buracos do sistema financeiro e dos governos mais abalados pela crise com uma enorme injeção de dinheiro público.

Não parece mais ser uma opção realizar operações de resgate bilionárias, como as que salvaram os maiores bancos de investimentos e grandes companhias como a General Motors, e inclusive países inteiros no Leste Europeu. Na segunda onda da crise, os governos vão tentar forçar os trabalhadores a pagar pelos lucros exorbitantes que banqueiros e especuladores obtiveram nos últimos anos à custa das suas próprias condições de vida.

O desfecho da crise será dado pela intervenção da própria classe operária que já se levantou no país exigindo que os verdadeiros responsáveis paguem por ela.

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