"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

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Henry Ward Beecher

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A vitória de Ollanta Humala e o esgotamento do nacionalismo burguês na América Latina

O voto em Humala representou o anseio da população pelas reformas agrária, econômicas e sociais, e contra a depredação do país pelas mineradoras estrangeiras, mas... poderá o governo da esquerda burguesa atender às reivindicações do povo?



Ollanta Humala é um militar nacionalista e pró-indígena moderado. Entrou na vida política no Peru no final do ano 2000, quando à frente de um grupo de soldados se levantou contra o presidente Alberto Fujimori. Em outubro de 2005, já retirado da vida militar, tornou-se líder do Partido Nacionalista Peruano. Em 2006, participou das eleições presidenciais com um discurso de esquerda e um programa que originalmente contemplava a convocação de uma Assembleia Constituinte, algumas estatizações, algumas modificações no sistema tributário e a aproximação com os países da ALBA (Aliança Bolivariana), principalmente a Bolívia e o Equador. Apesar de ter vencido o primeiro turno, foi derrotado no segundo pelo direitista Alan García.
Nas recentes eleições de 2011, aproximou-se de posições de centro-direita, com um discurso moderado e adotando o Brasil de Lula como modelo, e acabou derrotando por pequena margem à candidata representante da direita recalcitrante, Keiko Fujimori, cuja candidatura contava com o apoio dos elementos que participaram da ditadura do seu pai, Alberto Fujimori.
Keiko Fujimori teve o seu apoio eleitoral principalmente entre as camadas pobres mais atrasadas das cidades, a maioria das classes médias urbanas, a grande burguesia peruana e do imperialismo norte-americano. Logo após a vitória de Humala, a Bolsa de Lima teve uma queda tão grande que teve que ser fechada.
Ollanta Humala teve o seu principal reduto eleitoral entre os indígenas das serras e do Sul do país, os trabalhadores pobres da Amazônia e da costa Norte, assim como nas camadas da classe média assustadas com a possibilidade de uma nova ditadura fujimorista. Ele contou com o apoio de figuras como o escritor e ex-esquerdista Mario Vargas Llosa e do ex-presidente indígena Alejandro Toledo.
Humala deverá enfrentar pressões das massas contra reformas que beneficiarão, em última instância, os interesses das grandes mineradoras e do imperialismo, o que poderá dificultar sua realização. Entre 1968 e 1975, o governo do general nacionalista Juan Velasco Alvarado, com o intuito de modernizar o Peru e facilitar a modernização capitalista, implementou reformas que limitaram o latifúndio e nacionalizaram o petróleo e setores-chave da economia. Humala não tem condições de implementar nem uma caricatura das reformas velasquistas devido a que ele conta com apoio apenas parcial dentro do Exército. 
As raízes históricas da crise atual 
Para Humala se manter no poder precisará do apoio popular das massas, principalmente, dos Aymaras de Puno e dos Quechuas do restante do país. Na Bolívia há uma forte tendência ao estreitamento dos laços com esses mesmos indígenas por razões de proximidade histórica, social e cultural, e visando a possibilidade de pressionar o Chile para obter a saída ao mar, revivendo a efêmera Confederação peruano-boliviana, que existiu entre 1836 e 1839, e que foi derrotada pela aliança do imperialismo britânico e das oligarquias chilena e peruana.
No final do século XIX, o general Andrés Avelino Cáceres, o “herói dos Andes”, acabou reprimindo os mesmos indígenas em quem tinha se apoiado contra os chilenos. O “cacerista” Humala segue a mesma política fracassada do governo do ex-presidente Alejandro Toledo, com a única nova pretensão de aumentar os impostos às mineradoras, o que certamente ele terá enorme dificuldades de conseguir.
Nestas circunstâncias, o novo governo de Humala, também um aprendiz de Lula, deverá evoluir à direita na tentativa de organizar em torno a uma alternativa “popular” os interesses da burguesia nacionalista peruana.
Somente a luta independente dos trabalhadores peruanos poderá conseguir as reformas que o voto em Humala representou.

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