"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Famílias acampadas continuam sob forte pressão dos pistoleiros

Em nota, movimentos sociais denunciam a ação violenta de latifundiários


Desde 2010, 280 famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais mobilizadas pelo MST se encontram acampadas em uma área rural no município de Curionópolis, conhecida como acampamento Frei Henri, a margem da rodovia PA-275, 16 km da cidade de Parauapebas, no sudeste do Pará.
A área conhecida como fazenda Fazendinha, de mais de 400 hectares, pertence à União. No entanto, o fazendeiro conhecido como Dão Baiano já tentou regularizar a área em nome de uma de suas filhas, mas o pedido foi negado por representantes do programa Terra Legal, tendo em vista que essa mesma terra já é assentada em um Projeto de Assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Diante da impossibilidade do fazendeiro em regularizar a área grilada como sua propriedade, em seu nome ou de um de seus familiares, o mesmo não aceita que os trabalhadores rurais sem terra acampados possam continuar na parte que ocupam, desenvolvendo o plantio de culturas de subsistência e de hortaliças, para garantir um pouco de renda e sustento alimentar.
No final do mês de setembro, as famílias acampadas, com o uso de um trator agrícola, iniciaram o preparo de área para o plantio, chegando a destocar e arar em torno de 10 hectares até o dia 5 de outubro. Neste momento, o fazendeiro enfurecido interviu no sentido de não permitir que mais áreas fossem preparadas, obrigando que as famílias se contentassem com apenas a área já trabalhada.
   
   Fazendeiro e pistoleiros nas imediações do acampamento - Foto: Reprodução
Diante da reação das famílias, o fazendeiro buscou apoio junto à organização criminosa dos fazendeiros da região, arregimentando todos seus pistoleiros para destruírem o acampamento dos trabalhadores rurais e expulsá-los da área. Para tanto, desde o dia 08 de outubro, começaram a se concentrar na sede, que fica a uns 500 metros do acampamento, e montar trincheiras próximas do acampamento.
Já foram três noites de tiroteio. Da noite do dia 9 para o dia 10, pistoleiros sob o comando de fazendeiros promoveram um grande tiroteio contra as famílias de acampados, que teve início às 21 horas do dia 09 e durou até às 07 horas do dia 10, com vários intervalos. Diante da situação, as famílias interditaram a rodovia PA-275, em frente ao acampamento, até o meio dia do dia 10, com a finalidade de chamar a atenção das autoridades para a solução do problema. Uma reunião promovida pela direção do MST contou com a presença do advogado do fazendeiro, um juiz da Vara Agrária, o superintendente do Incra, um ouvidor agrário, um advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o filho do fazendeiro, Sidinei Rubens de Oliveira Barreto, mas nenhuma decisão foi tomada.
O filho do fazendeiro defendeu de forma contundente a imediata retirada das famílias do acampamento, como se a terra fosse de sua propriedade. Por outro lado, o MST e a CPT defenderam a proposta de que fossem encerradas as agressões contra as famílias e que estas pudessem continuar preparando a terra para o plantio de suas roças.
   
   Pistoleiros construíram trincheiras em torno do acampamento - Foto: Reprodução
Na área, com o uso de tratores, os pistoleiros passaram o dia construindo trincheiras para garantir condições para melhor atacar as famílias. Enquanto os agricultores, muito aflitos e inseguros diante da ausência de posições das autoridades e do avanço dos pistoleiros, procuravam formas de resistirem a outros tiroteios que pudessem vir a acontecer.
Muitos policiais civis e militares estiveram na área, inclusive o delegado da Delegacia de Polícia Civil de Curionópolis, mas nenhuma atitude foi tomada no sentido de reprimir os pistoleiros ou de efetuar o desarmamento dos mesmos. Mas, como proteção aos fazendeiros e pistoleiros, a polícia militar montou duas barreiras na PA-275, próximas às cidades de Curionópolis e Eldorado de Carajás. Uma outra barreira foi montada na BR-222, às proximidades do acampamento Helenira Resende, do MST. Estas barreiras dificultam a passagem de militantes do MST para reforçar a resistência no acampamento.
Nas noites do dia 10 e do dia 11, os pistoleiros sob o comando dos fazendeiros promoveram novamente outros tiroteios contra o acampamento, queimando alguns barracos, provocando terror e medo. As famílias estão sendo protegidas pela resistência montada pelos trabalhadores.
   
   Em protesto, os sem terra trancaram a rodovia PA-275 - Foto: Reprodução
Enquanto tudo isto acontecia, a 100 km dali, a Escolta Armada do Grupo Santa Barbara, protegida pela Policia do estado, concentrada na fazenda Cedro, cercava o acampamento Helenira Resende, espancando trabalhadores e proibindo as famílias de prepararem a terra para fazer os seus plantios. Estas famílias reclamam, também, de venenos jogados de avião sobre o acampamento, causando doenças graves e morte de pessoas.
É uma verdadeira guerra, que se caracteriza por chacinas e massacres entre desiguais do campo e da cidade, na região da província mineral de Carajás. Guerra promovida e financiada pelo Estado e o capital - representado pelo latifúndio e a Vale - contra as famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais e os movimentos sociais que se manifestam contrários a esta situação de barbárie.
Com os investimentos cada vez maiores em rendas sobre terras e minérios, a estratégia fica bem clara: espoliação e exploração da classe trabalhadora, aumentando progressivamente a massa de despossuídos e miseráveis; e, por outro lado, o fortalecimento da classe patronal, latifundiária e empresarial nos campos e nas cidades.
Instituições públicas se transformam em postos de distribuição de migalhas aos pobres, instrumentos de forte repressão, assassinato e criminalização dos movimentos sociais populares, e, por fim, em balcões de negócios de arrecadação de fundos para campanhas eleitorais que acontecem a cada dois anos.
Este cenário aponta para mais um derramamento de sangue de trabalhadores(as), prisão e criminalização de lideranças, defesa e proteção dos latifundiários e assassinos do sul e sudeste do Pará, orquestrados pelo aparato jurídico e policial do estado. Pode resultar em mais um massacre ou uma chacina de desprotegidos da lei, que só tem sido aplicada em defesa do poder econômico.
Conclamamos a todos lutadores e todas lutadoras do povo a se unirem em defesa dos oprimidos, das famílias do acampamento Frei Henri, dos direitos primordiais necessários para garantia da vida e por um movimento forte para destruição do capitalismo e dos capitalistas, antes que seja tarde.

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