"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O próximo capítulo da crise: recessão geral

Não tardou até que o desmoronamento do sistema financeiro internacional se refletisse na chamada “economia real”, ou seja, afetasse diretamente a produção e o emprego. O mundo está em recessão. E esta é a mais generalizada recessão de todos os tempos.

O anúncio da situação falimentar da gigante automobilística norte-americana General Motors, acompanhado do fechamento de unidades de outra gigante, a Ford, além de demissões em outras empresas ao redor do mundo como a japonesa Nissan, deram um sinal claro do esgotamento cada vez mais próximo de todo um ramo da economia.
A GM reivindica algo entre 25 e 50 bilhões de dólares para cobrir o buraco em seu caixa e manter-se em níveis “normais” de operação. Os argumentos contrários a um plano de resgate patrocinado pelo governo norte-americano apareceram ao longo da semana na imprensa especializada. O próprio presidente eleito Barack Obama reuniu-se com George W. Bush a fim de encontrar uma solução para a falência e a conseqüente demissão em massa na empresa.
A falência das três grandes companhias norte-americanas, GM, Ford e Chrysler poria de imediato entre dois e três milhões de trabalhadores na rua, e outros um milhão nas indústrias que estão associadas às montadoras, como autopeças e serviços.
O ocorrido na última semana na Espanha, onde 1.680 trabalhadores foram demitidos da Nissan e em uma manifestação à frente à sede comercial da empresa em Barcelona investiram agressivamente contra o edifício, sendo dispersados pela burocracia sindical enquanto a polícia de choque se manteve dentro do prédio durante toda a manifestação, deu uma mostra do tipo de perigo que os Democratas norte-americanos querem evitar: as demissões e a falência das montadoras colocam em pauta a ocupação das fábricas e o controle operário da produção.


A crise em Detroit


As vendas das montadoras norte-americanas vêm caindo sistematicamente. Perderam 30% em relação ao ano passado em 12 meses consecutivos de queda. A GM teve queda de 45% nas suas vendas, a Chrysler perdeu 35% e a Ford 30%.
Esta última entregou na sexta-feira, dia 7, os números do seu mais recente balanço. São mais de três bilhões de dólares perdidos nas operações do terceiro trimestre deste ano. A GM conseguiu ser ainda pior, perdendo 4,2 bilhões no mesmo período.
Os preços das ações de cada uma das duas companhias também despencaram ao longo do último ano. A GM perdeu 82% do seu valor, enquanto a Ford caiu 70% em 2008.
As comparações entre a situação atual e a crise por que passaram as empresas trinta anos atrás surgiram em praticamente todos os jornais econômicos. A Chrysler foi posta de joelhos pela crise do petróleo no final dos anos 70, quando produzia carros com alto consumo de combustível. Recebeu do governo 1,5 bilhão de dólares, cortou empregos e deu prejuízo a investidores.
A perda de valor das empresas é, na realidade, um ajuste inevitável entre o capital fictício que se criou e a realidade.
Os argumentos contrários a um resgate giram em torno à máxima “Detroit não é Wall Street”, cunhada pelo periódico britânico Financial Times, daqueles que defendem que apenas os banqueiros e especuladores deveriam receber dinheiro do governo por ter uma importância para o funcionamento geral do sistema financeiro, ou mais especificamente, porque poderiam derrubar todo o sistema com a sua queda.
As companhias automobilísticas já são pesadamente subsidiadas há muito pelo governo norte-americano. Com tarifas pesadas impostas à importação de veículos estrangeiros – particularmente os japoneses – subsídios bilionários dados diretamente às empresas norte-americanas, isenções fiscais etc. e apesar de todo o esforço a indústria norte-americana está perdendo espaço (de 41% do mercado em 1985 para 25% hoje). No mesmo período, as ações da GM despencaram e as da Honda e da Toyota subiram 600% e 800% respectivamente.
Atrelada diretamente às oscilações do dólar e dos preços do petróleo, a GM viu uma breve recuperação entre 1997 e 2000, quando o dólar estava caro e os combustíveis baratos.
A situação atual, em meio à maior crise financeira e a incerteza que tomou conta dos mercados internacionalmente, lança sobre as montadoras o temor da falência, enquanto o governo tem muito pouco a fazer. Um subsídio bilionário dado diretamente à produção, ou um empréstimo feito a seus ramos financeiros, todas as medidas que possam ter que consumir os recursos do governo têm sobre si um freio imposto pelo temor de estar colocando o dinheiro em um saco sem fundo.


Desemprego em massa


Como dissemos acima, o receio do governo norte-americano não é propriamente lidar com a falência das três grandes companhias de Detroit que, embora possam representar uma perda considerável para a economia norte-americana – são responsáveis por cerca de 4% do PIB – têm à espera de sua falência outras tantas empresas estrangeiras ansiosas por tomar conta do mercado.
Não será a falta de carros com a “tradição” e o “estilo” norte-americanos o maior dos problemas a ser enfrentado em meio à crise, mas a onda de protestos e manifestações contra as demissões causadas pelas falências que o governo tenta evitar.


A economia européia vem a baixo


Com a economia da Zona do Euro tendo oficialmente entrado em recessão na última semana, com o PIB de 15 países tendo encolhido 0,2% no terceiro trimestre, repetindo o trimestre anterior em função do aperto de crédito, a redução do consumo, investimentos e exportações, o temor de falências e demissões se espalha por praticamente todo o mundo capitalista desenvolvido.
Segundo o Valor Econômico, “a Alemanha, que não teve uma bolha imobiliária e cujos consumidores não exageraram nos gastos a crédito, está se transformando numa das maiores vítimas da desaceleração mundial. Sua economia, a quarta maior do mundo, teve uma contração maior que a esperada, de 0,5%, no terceiro trimestre, depois de uma queda de 0,4% no segundo. As encomendas industriais estão em queda livre, e pesquisas com as empresas mostram que o problema mal começou: o país está diante do que pode ser a sua mais longa recessão desde a fundação da República Federal da Alemanha, em 1948”.
A Alemanha é o país central da economia européia em seu conjunto e vai, com certeza, arrastar os demais países da região, como já se vem aunciando.
Uma avaliação OCDE revela que as 30 economias mais industrializadas do mundo terão crescimento negativo no conjunto.
A recente crise financeira, empurrando para o precipício as empresas e empreendimentos da chamada “economia real”, já deixou mais sombrias as perspectivas para o próximo período. Nos EUA, as montadoras prevêm o fechamento de fábricas, como duas unidades da GM e a demissão de cerca de três mil funcionários. A Ford norte-americana terá demitido ao menos 700 funcionários até o final deste ano.
Na Europa, segundo a própria imprensa capitalista, particularmente no Reino Unido, o nível de desemprego da população é o maior em 16 anos. Somente neste ano, 1,8 milhão de pessoas perderam seus empregos. A taxa cresce a um ritmo de 10 mil novos desempregados por dia. Os anúncios de novas demissões sucedem uns aos outros. Empresas como a British Telecom, Continental, Opel e BMW já anunciaram novas demissões, férias coletivas e o fechamento de fábricas no velho continente até o final do ano. Calcula-se que desemprego dos maiores países industrializados atingirá a marca de 250 milhões de desocupados.
Entre agosto e outubro, o desemprego cresceu sobre uma base de 1,5 mil postos de trabalho fechados por dia. Os números são semelhantes na França, com 1,2 mil demitidos por dia. A Espanha teve 192 mil novos desempregados apenas em outubro. Uma estimativa da Organização Internacional do Trabalho concluiu que pelo menos 20 milhões de pessoas serão diretamente atingidas pela crise até o final do ano que vem. A recessão está varrendo 10 mil postos de trabalho por dia na Europa!
Em oposição aos beatos do capitalismo que diziam que a crise não tinha importância ou era passageira, o mundo revela todo o enorme ataque capitalista às condições de vida das massas e isso nos principais países capitalistas do mundo.
As taxas de desemprego atingem 5,8% no Reino Unido, 7,5% na Zona do Euro e uma perspectiva de que atinja a marca dos 9% em 2009.
No Brasil, a onda de choque desencadeada pela crise nos EUA e na Europa atingiu a indústria paulista causando 10 mil demissões em outubro. A FIESP estimou uma retração de 0,41% nas contratações no último mês, o pior resultado desde 2003. As demissões em outubro contrastam com a situação recorrente de aumento da produção às vésperas das vendas de natal e seguem uma tendência que já se manifestava em setembro.
Como era inevitável, também a General Motors do Brasil fechará postos de trabalho em função da crise que já tomou conta da matriz em Detroit. O Programa de Demissões Voluntárias (PDV) foi anunciado na primeira semana de novembro na unidade de São José dos Campos e em São Caetano do Sul (SP). Sem divulgar, no entanto, quantos pretende demitir, a GM de São José, por exemplo, conta com 9,4 mil funcionários e já teve neste ano três períodos de férias coletivas.
Outras indústrias também já sinalizaram com o fechamento de unidades e possivelmente demissões como “solução” para a crise. O setor de celulose e papel, representado no Brasil por empresas como a Aracruz, Votorantim e Klabin, abaladas pela variação do dólar – a Aracruz perdeu R$ 2 bilhões, a Klabin, mais de R$ 250 milhões – já anunciaram a redução de suas operações e o cancelamento de planos de expansão.


Nova etapa da crise?


Tendo passado pela maior onda de falências de bancos e empresas do sistema financeiro dos últimos tempos, a crise do crédito e o início da recessão e seus impactos sobre a economia real, alguns economistas e políticos burgueses avaliam que o mundo está se aproximando de uma nova etapa da crise, a “terceira etapa” como chamaram, aquela na qual a crise econômica se transforma em crise social.
O receio de que a rapidamente crescente onda de demissões, aliada à incapacidade de sustentação da economia por parte dos bancos centrais, se transforme em cataclismo social se justifica por si próprio. Que capitalista vai querer lidar com multidões enfurecidas pelas demissões, a recessão e uma perspectiva de miséria iminente diante da crise?
Diante da nova etapa, em que a produção começa a ser afetada drasticamente pela crise, o que fica expresso através das inúmeras falências, reestruturações e demissões que tomam conta do panorama, a política dos governos capitalistas continua a mesma: investimento estatal para financiar os prejuízos. Os governos de dois dos três estados mais desenvolvidos do Brasil, em total sintonia com o governo federal, anunciaram uma ajuda financeira de R$ 5,5 bilhões às montadoras.
Os cofres públicos estarão à disposição das multinacionais em meio à crise, mas não há qualquer alternativa capitalista para a população trabalhadora e o crescente desemprego.
A crise avançou de um ramo a outro no mercado financeiro, afetou os bancos e a disponibilidade de crédito comprometendo o funcionamento das empresas e negócios da “economia real”, como previmos inúmeras vezes. Estamos diante do seu desenvolvimento lógico: falências, fábricas fechando, demissões e uma situação de profunda recessão tomando conta da economia mundial. Trata-se de um colapso generalizado que vai atingir todos os ramos da economia capitalista em todos os países.
É importante acrescentar que esta nova onda da crise está atingindo uma economia mundial que não cresce de fato há 30 anos, economias debilitadas pela crise prolongada e massas de trabalhadores que perderam muito nestes 30 anos, como se pode ver pelo brutal agravamento da situação social nos EUA e vários outros exemplos.


Um programa revolucionário diante da crise


Os militantes e organizações do movimento operário e o proletariado em geral devem levantar um programa econômico e político como resposta de classe e revolucionária à crise. Não se trata apenas de lutar por medidas de defesa parcial dos salários ou do emprego, dos quais não se deve abrir mão em nenhuma circunstância, mas colocar esta luta como parte de um programa econômico radical, profundo, que impeça a destruição operada pela ditadura dos banqueiros e aponte uma verdadeira saída para os trabalhadores em todas as questões centrais levantadas pela crise neste momento, um programa de reivindicações transitórias cujo sentido é colocar em pauta a luta pelo governo operário em todos os países e não obter reformas sociais.
Diante dos argumentos insistentes dos capitalistas de que “não há outra solução” e que “todos” (na realidade, a classe operária) devem se sacrificar para salvar o “bem comum” (na verdade, a propriedade capitalista), a classe operária deve lutar para impedir que o peso da crise caia sobre seus ombros na forma do desemprego, do arrocho salarial, da miséria e da fome como querem os que ganharam durante tanto tempo com a sua exploração e, ao contrário, para que sejam os próprios capitalistas que paguem pela sua própria crise.
Os capitalistas devem pagar pela crise que eles mesmos criaram. Neste sentido, a classe operária precisa de um programa que, entre outras coisas, promova o confisco do sistema financeiro privado e a criação de um banco estatal único que coloque sob o controle dos trabalhadores o acesso ao crédito. Da mesma forma, apenas a estatização do comércio exterior e a centralização do câmbio pode por um fim à especulação com a moeda estrangeira e garantir que os subsídios hoje dados aos exportadores possam ser revertidos ao atendimento de necessidades populares como saúde, educação, aposentadoria etc.
Os trabalhadores não devem se intimidar diante da pressão por maior produtividade e das demissões provocadas pela crise financeira. Diante da ameaça do desemprego em massa e das “falências” arquitetadas para preservar as propriedades dos empresários e banqueiros, os trabalhadores devem lutar pela redução da jornada de trabalho e a criação de milhares de novos empregos públicos para atender à demanda da população por serviços essenciais.
Contra as demissões em massa, ocupar as fábricas e colocar a produção sob o controle da classe operária.
É preciso levantar, contra o desemprego e a miséria da superexploração em meio à crise, a palavra-de-ordem de escala móvel das horas de trabalho, ou seja, garantir emprego para todos, aliada à redução da jornada para 35 horas semanais em todos os ramos da produção, com o dia de trabalho de, no máximo, sete horas, sem redução dos salários; eliminar os bancos de horas, os contratos temporários e a terceirização. Embora a economia neste momento caminhe claramente para uma deflação, é preciso diante da instabilidade geral levantar a reivindicação de escala móvel de salários.
A crise econômica tem como conseqüências inevitáveis a inflação, a alta dos preços, que deve ser combatida com a exigência de que os patrões paguem as perdas através de uma escala móvel de salários, reajustados automaticamente de acordo com a inflação. O salário mínimo deve ser o suficiente para atender às necessidades básicas de uma família trabalhadora e não deve ser inferior a R$ 2.500,00.
É preciso colocar na ordem do dia, também, como uma questão central, a expropriação do latifúndio a uma reforma agrária real com a distribuição geral da terra e confisco das grandes empresas agrárias.
Em meio às turbulências que tomaram conta da economia mundial nestes últimos anos, o governo Lula arquitetou, como fiel representante dos interesses do capital estrangeiro no País, um plano para a entrega das riquezas naturais como o petróleo e os recursos da Amazônia às empresas estrangeiras. Estes não devem ter outro destino que não seja a garantia do desenvolvimento nacional e o atendimento das necessidades do povo brasileiro. É preciso estatizar todo o petróleo nacional em todas as etapas de sua produção sob o controle dos trabalhadores, cancelando os leilões e os contratos para exploração das reservas nacionais pelos abutres estrangeiros. Assim como a Cia. Vale do Rio Doce, a Petrobrás deve ser reestatizada e reorganizada de acordo com os interesses da classe operária. São ramos fundamentais da economia do país que devem ser voltados a atender as necessidades do seu desenvolvimento.
Estas medidas, aliadas à suspensão de qualquer pagamento das dívidas externa e interna, o fim das privatizações e o cancelamento das já realizadas sem indenização colocarão um fim à sustentação do parasitismo das economias imperialistas sobre o País e abrirão um caminho para o desenvolvimento, até então bloqueado, da economia nacional.
Somente um governo dos trabalhadores da cidade e do campo pode colocar em funcionamento este programa. Somente a mobilização massiva, consciente de amplos setores da classe operária e dos demais explorados pode sustentar este governo em oposição aos governos dos exploradores do povo nas mãos das organizações e partidos oportunistas da esquerda burguesa e pequeno-burguesa.

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