"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

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Henry Ward Beecher

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Shell é julgada por envolvimento em massacres na Nigéria


A companhia anglo-holandesa foi a maior empresa no país considerado um dos maiores produtores de petróleo da África. Ao longo das décadas em que atuou no país contribuiu decisivamente nos massacres e repressões contra a população que reivindicava direitos sobre a exploração petrolífera.

Diante da imensa pressão que a população está exercendo na Nigéria, a multinacional petrolífera anglo-holandesa Shell está no banco dos réus desde o dia 26 de maio em um tribunal de Nova Iorque respondendo pelas acusações de cumplicidade nos massacres e torturas cometidos pelo governo nigeriano contra a população ogoni que vive no delta no Níger, a região mais rica em petróleo do país e uma das maiores reservas do mundo.
“Execuções sumárias, torturas, detenções ilegais e tratamento inumano” são algumas das acusações que pesam contra a Shell, incluindo a bárbara morte de uma das figuras mais célebres da Nigéria, o poeta e ativista ambiental Ken Saro. O fundador do Movimento para a Sobrevivência do Povo Ogoni (MOSOP, na sigla em inglês) foi enforcado pelo governo do ditador Sani Abacha em 10 de novembro de 1995 junto com mais oito companheiros que dedicaram sua vida à luta contra a exploração capitalista. Todos eles haviam se empenhado numa campanha pacífica para denunciar a exploração das riquezas do país e a destruição do modo de vida ogoni como resultado da produção petrolífera.
Depois do MOSOP outros grupos se formaram, como o Conselho da Juventude Ijow, o MORETO (Movimento para a Reparação dos Ogbia) e o mais recente MEND (Movimento de Emancipação do Delta da Nigéria), conhecidos por seus seqüestros de funcionários das companhias petrolíferas e sabotagens às instalações. Recentemente, o grupo declarou guerra ao governo e está dando continuidade à guerrilha pela luta de seu povo.
“Esperamos que o jurado decida que a Shell esteve implicada no processo que levou às execuções”, disse Paul de Clerk, um dos coordenadores do grupo Amigos da Terra Internacional. “Acreditamos que a Shell foi cúmplice do governo nigeriano e forneceu armas às Forças Armadas para reprimir os protestos dos ogoni. A Shell poderia ter evitado as mortes, pois era a maior empresa do país” (Público.es, 1/6/2009).
Na realidade, o que procuram ocultar, é que a Shell não apenas vendeu as armas e apoiou o golpe, como foi responsável, junto com outras companhias de petróleo pela organização do golpe, que servia a seus interesses.
O petróleo é a principal fonte econômica da Nigéria desde que vastas reservas foram descobertas no país na década de 50. Atualmente, mais de 95% de sua receita vem da venda do petróleo para o mercado mundial. No entanto, companhias estrangeiras dominam a exploração, a perfuração e o transporte. Só a Shell, por exemplo, controlava cerca de 60% da produção nacional.
A Shell operou na rica região do delta nigeriano. Os povos ogonis, um grupo étnico predominante na região, teve seu modo de vida violentamente destruído em razão da devastação produzida pela produção petrolífera.
Desde 1956, quando a companhia anglo-holandesa se instalou na região, décadas de luta deixaram mais de um milhão de mortos, mas em julho do ano passado, o governo nigeriano anunciou “outro operador para assumir os interesses da Shell Petroleum em Ogoniland".
"Há uma total perda de confiança entre a Shell e o povo ogoni. Ninguém ganha com o conflito", disse o governo em um comunicado. A decisão reflete o pavor de um levante popular numa região chave para o domínio imperialista na África e uma tendência revolucionária em todo o continente negro.
A concessão da exploração está hoje nas mãos da Nigerian Petroleum Development Company (NPDC), uma subsidiária da companhia estatal Nigeria Nacional Petroleum Comporation (NNPC).
Mesmo assim, os ogonis reivindicam direitos do petróleo explorado. Além da Shell, operam também outras companhias estrangeiras, como a Chevron, Elf, Movil, Texaco e Agip.
O Delta da Nigéria conta com cerca de cinco mil quilômetros de oleodutos e gasodutos. Ao menos 500 mil barris diários são extraídos desta região, o equivalente a um quarto de toda a produção petrolífera do País.
Os ogonis ficaram conhecidos mundialmente na época do general Sani Abacha (presidente da Nigéria entre 1993 e 1998).
No entanto, a situação no delta não melhorou após o fim da ditadura militar. A população continuou sob o domínio da marginalização, da violência e da exploração, continua tendo suas condições de vida rebaixadas pelas empresas petrolíferas e sem nenhum direito sobre os recursos naturais.
Desde o ano 2000, a crise política causada pelos confrontos entre o Exército e grupos militantes está desestabilizando toda a região e é fator de grande preocupação para o imperialismo norte-americano, que busca aprofundar a exploração sobre o continente africano para não depender tanto das crises na América Latina e no Oriente Médio, mas que já está encontrando resistência, como a situação na Nigéria está indicando.

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