"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

sábado, 27 de junho de 2009

O que está detrás dos protestos no Irã?

Queda de braço entre o imperialismo e o nacionalismo burguês

A resistência da oposição e a pressão sobre o governo e as autoridades nacionais islâmicas mantém a situação tensa no Irã podendo levar a uma profunda desestabilização regional

A manutenção dos protestos no Irã revela uma profunda crise social aberta pela pressão do imperialismo mundial para impor seu candidato nas eleições e evitar a continuidade do governo de Mahmoud Ahmedinejad।
O Conselho dos Guardiões, uma cúpula de 12 membros do clero xiita responsável pela apuração das eleições, declarou nesta segunda-feira que, apesar da fraude identificada – urnas com mais votos do que votantes inscritos em 50 cidades, afetando três milhões de votos – o resultado não foi afetado.
Hassan Qashqavi, porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores, afirmou que o comparecimento de 85%, cerca de 40 milhões de votos, é “uma pedra preciosa que está brilhando no alto da dignidade da nação iraniana” e acrescentou que “ninguém encorajou o povo norte-americano a iniciar uma revolta” porque discordavam da reeleição de George W. Bush (The New York Times, 22/6/2009). Uma declaração que é uma verdadeira capitulação diante do imperialismo, porque a própria população dos EUA protestou contra a eleição fraudulenta de Bush.
Para colocar uma pedra sobre o assunto, o porta-voz do Conselho de Guardiões, Abbas Ali Kadkhodaei, afirmou que a aparição de um número de votos maior do que o de eleitores é um “fenômeno normal” porque as pessoas podem, pela lei iraniana, votar em áreas além daquelas nas quais estão registradas. “Além disso, alguns analistas em Teerã afirmaram que o número de pessoas viajando no dia da eleição pareceu anormalmente alto” (Idem).
O resultado oficial foi de 63% dos votos para a reeleição do presidente Ahmadinejad; cerca de 11 milhões de votos a mais do que o adversário, Mir Hussein Mousavi, que ficou com 34%.
O candidato derrotado nas eleições procurou estimular novos protestos no último domingo, desafiando o Conselho de Guardiões, a Guarda Revolucionária e o líder supremo do país, o aiatolá Khamenei, que já haviam se pronunciado pelo caráter ilegítimo das manifestações e ameaçado reprimi-las. Mousavi afirmou a seus eleitores em sua página na Internet que “é direito seu protestar diante das mentiras e da fraude” (Idem).
O que significam os protestos?
As manifestações que se realizaram desde a divulgação do resultado das eleições, há quase duas semanas, são apresentadas pela imprensa imperialista como sendo a expressão das tendências mais profundas da população a rejeitar o governo nacionalista moderado e conciliador com o imperialismo de Mahmoud Ahmadinejad.
Dia após dia, jornais como o New York Times e Le Monde insistem em afirmar que a juventude iraniana está desesperada por informação, procurando em todos os cantos sobretudo na Internet, por notícias e relatos que não tenham sido divulgados pela imprensa estatal. “As manifestações estão sendo organizadas pela Internet” (...) “Têm seu centro no descontentamento da juventude com o regime”, afirmam.
A semelhança com o que disseram sobre as manifestações contra o governo Hugo Chávez, tanto durante o golpe militar de 1998 quanto mais recentemente, com relação ao plebiscito convocado por Chávez sobre a nova Constituição proposta para o país, não está apenas nos fatos dispersos reunidos para sustentar sua tese.
O interesse maior em derrubar o governo nacionalista burguês é do imperialismo mundial, tendo à frente o norte-americano.
Impossibilitado de intervir diretamente no regime iraniano, como pretendia antes da fragorosa derrota no Iraque e no Afeganistão, e da eclosão da crise mundial, o recurso usado para impor sua vontade é o mesmo.
O governo norte-americano não tem mais condições políticas de, mais ou menos abertamente, organizar um golpe militar e derrubar um governo em qualquer parte do mundo a seu bel prazer. Esse recurso já foi levado ao esgotamento.
Os protestos derrotados na Venezuela e agora confrontados pelo governo iraniano são o produto de um esquema alternativo, que funcionou no Leste Europeu, na Ucrânia em 2004, Geórgia, Sérvia e Quirguízia depois que a crise revolucionária aberta na Alemanha Oriental havia sido controlada. Em crise, o governo da Ucrânia, por exemplo, já foi forçado, novamente, a se recompor.
O roteiro é simples: com o apoio do imperialismo, um candidato “alternativo” surge de dentro do regime – é o caso, por exemplo, de Mousavi, ex-primeiro ministro do Irã até 1989. Em seguida, sobre a alegação de que o resultado eleitoral foi fraudado para dar a vitória ao governo, iniciam-se protestos que têm como corpo principal a pequena burguesia universitária. Os protestos se intensificam com organização e assiduidade constantes até que um ponto crítico seja atingido. O resultado esperado é que o governo recue e ceda espaço a novas eleições, quando não ao candidato derrotado.
O imperialismo utiliza como combustível o descontentamento de setores da população com a política pró-imperialista e conciliadora, portanto antipopular do próprio governo que quer derrubar “democraticamente”. O êxito relativo das mobilizações mostra o caráter reacionária da política dos governos nacionalista.
O que está em marcha no Irã não é senão a repetição da receita, em um terreno ainda mais explosivo. A repressão aos protestos pela Guarda Revolucionária foi um recado claro para a oposição e o imperialismo norte-americano ansioso pela derrota do governo: o regime nacionalista burguês não vai ceder tão facilmente.
Como ficou demonstrado pela derrota imposta pelo governo venezuelano aos protestos anti-chavistas, um após o outro, os esquemas montados pelo imperialismo para se impor sem conflito direto sobre os países semi-coloniais que considera decisivos para seus interesses têm fracassado e se esgotado cada vez mais rapidamente.
"Democracia” em abstrato?
A repressão contra a ameaça levantada pela ala pró-imperialista ao governo iraniano fez a burguesia internacional entoar a defesa da “democracia”. No entanto, como em qualquer parte, não se trata da democracia em abstrato, mas da “democracia” do regime imposto pelo imperialismo aos países atrasados.
Fosse um movimento revolucionário das massas iranianas, e não da pequena burguesia mais abastada do país insuflada pelo imperialismo, a “democracia” estaria do lado do regime de Ahmadinejad, hoje execrado. Assim é em toda a parte devido ao verdadeiro colapso em marcha do imperialismo norte-americano.
O nacionalismo religioso foi colocado na defensiva no conflito com o imperialismo. Os protestos revelam a crise da política de Ahmadinejad, que se impõe ditatorialmente sobre o país, apoiado no clero ultra-reacionário e substitui a defesa dos interesses das massas por demagogia religiosa, fanatismo e nacionalismo de fachada.
Crise do nacionalismo, crise do imperialismo, crise capitalista
O imperialismo também não foi capaz de levar adiante de maneira conseqüente os protestos contra o governo iraniano, sendo obrigado a recuar e atuar de maneira discreta.
A causa para isso é clara. A crise cria a ameaça de uma mobilização revolucionária, que o imperialismo não quer colocar em marcha porque não tem força nem para evitá-la, nem para contê-la.
Em última instância, a crise iraniana e seu impasse revelam o temor conjunto do nacionalismo e do imperialismo do agravamento da crise através de uma intervenção da classe operária na situação.

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