"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

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Henry Ward Beecher

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Crise do Capital - Por que a quebra do sistema financeiro mundial é inevitável?

De acordo com dados publicados pelo BIS (Banco de Compensações Internacionais), espécie de banco supra-central para os bancos centrais nacionais, os principais bancos norte-americanos aumentaram a venda de seguros contra perdas creditícias relacionadas às dívidas públicas dos chamados PIIGs (do inglês, pigs=porcos: Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha - Spain). O total passou para US$ 518 bilhões, representando um 20% de aumento em relação aos últimos seis meses. Quase 70% são CDS (credit default swaps: título negociável contra o risco de não pagamento). Os empréstimos diretos a esses países acumulados até o mês de junho somavam US$ 181 bilhões.
Os bancos imperialistas JPMorgan, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Bank of America e o Citigroup são responsáveis pela emissão de 97% dos CDS nos EUA de acordo com o OCC (Office of the Comptroller of the Currency). A exposição líquida reportada pelos cinco bancos em relação às dívidas dos PIIGS é de US$ 45 bilhões. A exposição reportada pelo Morgan Stanley à dívida pública espanhola, pública e privada foi de apenas US$ 499 milhões no terceiro trimestre, mas de acordo com o FFIEC (Federal Financial Institutions Examination Council) era de US$ 25 bilhões já no segundo trimestre. Usando a mesma lógica, o banco reportou US$ 1,8 bilhões em exposição à dívida pública italiana, contra US$ 11 bilhões reportados pelo FFIEC, e US$ 39 bilhões para a dívida pública francesa.
74% das transações mundiais envolvendo CDS restringem-se a esses cinco bancos e mais 15 empresas financeiras, segundo dados do Depository Trust & Clearing, organismo que mantém um cadastro mundial de derivativos OTC.
Os especuladores financeiros divulgam que o risco estaria minimizado, pois eles compram CDS, e outros mecanismos de proteção swap, de outros bancos e asseguradoras, um mecanismo conhecido como “colaterização” ou rede bilateral (bilateral netting), muito dos títulos teriam vencimentos a curto prazo e a maioria das transações estaria coberta por outras. 
A extrema fragilidade da especulação financeira imperialista
O verdadeiro casino em que foi transformado o mundo pelos especuladores financeiros é tão frágil que o banco que vende uma determinada proteção (hedge), se protege comprando proteções (principalmente títulos swap, como osCDS) de quem ele vendeu! O secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, e o presidente da Reserva Federal, Ben Bernacke, têm declarado que não estariam preocupados com a forte exposição à divida soberana europeia, pois o sistema financeiro norte-americano teria comprado CDS suficientes para enfrentar falências financeiras. Mas foram exatamente esses enormes volumes de “colaterização” que precipitaram o colapso dos bancos Bear Stearns e Lehman Brothers em 2008, que acabou provocando o colapso em cascata dos sistemas financeiros norte-americano e europeu.
Na prática, o uso desses mecanismos especulativos pelo sistema financeiro mundial, aumenta os riscos de bancarrota de maneira exponencial. O colapso é inevitável quando os valores dos ativos financeiros, que são o foco da especulação (títulos da dívida pública, imobiliários, commodities), perdem o seu valor de maneira significativa devido à eminência da insolvência. Como ficou demostrado em 2008, com a quebra da maior asseguradora do mundo, a AIG, quando a rede é quebrada, todo o sistema financeiro colapsa em cadeia. A AIG quebrou, pois não conseguiu pagar os CDS relacionados aos títulos podres das hipotecas, que estavam encadeados (de aí o termo subprime) a outros pacotes de derivativos financeiros estruturados em cima deles.
A MF Global, gerenciada por um ex co-presidente do Goldman Sachs, quebrou recentemente deixando uma dívida de “apenas” US$ 39 bilhões, tornando-se a primeira vítima da dívida pública europeia nos EUA. Para o segundo trimestre deste ano, reportou uma exposição de 6,3 US$ bilhões à dívida pública europeia (1 US$ bilhão de exposição líquida à divida pública espanhola e US$ 3 bilhões à dívida italiana), que tinha sido protegida (hedge) através de US$ 1,3 bilhões de títulos de curto prazo da dívida francesa. Devido ao aumento da exposição ao risco dos títulos espanhóis e italianos, os especuladores financeiros exigiram um aumento da “colaterização” em relação esses títulos para recompra-los, o que a MF Global não teve solvência para fazer.
Na Europa, a quebra do banco Dexia aconteceu, em 7 de outubro, pois o banco não conseguiu pagar, os € 16 bilhões relacionados às margens negativas que foram requisitadas em relação aos swaps de taxa de juros (interest-rate swaps) que tinha vendido. Os governos belgas e francês assumiram essas dívidas que tinham como principais credores o Morgan Stanley e o Goldman Sachs de acordo com matéria do jornal norte-americano The New York Times de 23 de outubro.

O que está por trás do plano do imperialismo europeu para evitar a moratória grega?
Além da manutenção dos pagamentos relacionados aos títulos da dívida grega, os especuladores financeiros estão tentando adiar o disparo em cadeia dos contratos CDS e dos outros mecanismos de “proteção” a partir da moratória do governo grego. Com esse objetivo, aceitaram perder 50% nos títulos públicos gregos através de uma troca voluntária de títulos.
O ISDA (Swaps & Derivatives Association), que é uma associação cujo comitê executivo é controlado pelos principais grupos financeiros imperialistas, que decide se a restruturação de uma dívida deve disparar pagamentos de CDS, declarou, em 27 de outubro, que o acordo não será considerado uma bancarrota por ter sido voluntário.
Os bancos imperialistas apresentam os CDS, e os títulos swaps no geral, como investimentos brutos, sem valor contábil real, em oposição aos investimentos líquidos, que seriam os empréstimos diretos. Este truque contábil parte do princípio que os especuladores financeiros serão resgatados mediante recursos públicos tanto na Europa quanto nos EUA. Isto explica a queda generaliza nos mercados financeiros mundiais após o primeiro ministro grego, George Papandreu, ter anunciado que irá convocar um referendo, previsto para acontecer no início do mês de dezembro, com o objetivo de obter apoio popular em relação ao novo pacote de “resgate” anunciado pela UE (União Europeia), pois poderá dificultar o aumento do fundo de resgate na Europa de € 440 bilhões para € 2 trilhões.
No caso da Grécia entrar em moratória, acontecerá uma imediata correria para vender os títulos de outras dívidas públicas devido ao alto potencial de contaminação, principalmente dos outros países periféricos da zona do euro, o que levará a impossibilidade de efetivar as transações e ao colapso de todo o sistema financeiro mundial, que obtém o grosso dos seus lucros dos títulos de proteção, dos CDS e dos outros mecanismos de proteção swap, através de um disparo em cadeia que impedirá que os detentores desses títulos consigam atingir as margens necessárias, o que no cenário atual equivale ao acionamento de várias falências do tamanho da AIG em paralelo.
A dívida pública italiana atinge € 1,9 trilhões, e junto com a dívida interna ultrapassa os € 3,5 trilhões. Se a Itália quebrar, os bancos franceses, que estão muito descapitalizados, também quebrarão e carregarão em efeito cascata os bancos norte-americanos, britânicos, alemães e do mundo inteiro.
A especulação cresceu consideravelmente desde 2008: há mais de US$ 1.200 trilhões em derivativos financeiros circulando no mundo contra US$ 800 trilhões que havia na época. E a maior parte desses volumes não se relaciona com produtos materiais específicos, mas com os mecanismos de proteção.
O repasse de recursos públicos aos bancos imperialistas está cada vez mais comprometido. As dívidas dos governos e das multinacionais imperialistas aumentaram em mais de 40% nos últimos três anos, o caixa dos governos está quebrado, o crescimento econômico está estancado, os indicadores sociais são os piores dos últimos 50 anos e um país que representa apenas 0,5% da economia mundial (a Grécia) está ameaçando disparar o gatilho das bancarrotas em cadeia.
Nesse contexto, por que os especuladores imperialistas apostam em mecanismos que levarão a uma bancarrota generalizada em efeito dominó? A resposta é que o sistema capitalista está esgotado historicamente, não consegue mais extrair lucro do setor produtivo devido à ação das próprias leis que o levam à sua auto-implosão econômica, o que levou ao crescimento estratosférico dos capitais fictícios, aqueles que não são investidos na produção. Mas o objetivo dos especuladores financeiros é continuar obtendo os maiores lucros a qualquer custo, mesmo ao custo do eminente esgotamento das medidas monetaristas.
O curso da história não pode ser detido. A bancarrota do sistema capitalista mundial parasitário está cada vez mais próxima. O futuro pertence ao socialismo mundial.

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