"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

domingo, 22 de maio de 2011

Obama assassina, PSTU quer que as vítimas sejam julgadas

Este texto de certa forma não se adequá a proposta deste Blog, mas por sua importância, qualidade e elucidação, decidi coloca-lo


Em um novo artigo sobre o caso Bin Laden, o PSTU mostra que deixou de apresentar uma política vagamente contra-revolucionária para se converter em ala esquerda, “revolucionária”, da chamada “guerra ao terror” da direita imperialista



No último dia 16, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) publicou um novo artigo (“O imperialismo, a execução de Osama bin Laden e o movimento operário”) sobre o assassinato do líder da Al Qaeda pelo governo norte-americano, em sua página na Internet.
Já criticamos, em duas oportunidades, nas páginas deste jornal as concepções apresentadas por este partido no artigo “Assassinato de Bin Laden não vai impedir massacres do imperialismo”, publicado no início deste mês (leia os artigos “O PSTU contra a luta antiimperialista dos povos árabes” e “Adotando as posições ideológicas do imperialismo, opressor dos povos”). 
Em seu novo artigo sobre o caso Bin Laden, o PSTU, no entanto, foi ainda mais longe em sua política abertamente contra-revolucionária. Não só se mostraram absolutamente incapazes de condenar, em si, o assassinato do líder da Al Qaeda pelo imperialismo norte-americano, como adotaram abertamente as posições do próprio imperialismo, ao exigir que “os terroristas presos e suspeitos de ataques” sejam julgados por “tribunais árabes soberanos e independentes, compostos por organizações e personalidades da sociedade civil daqueles países”! Isto é, pelo próprio imperialismo e seus cúmplices nos países árabes pois, para quem não sabe, a “sociedade civil” é apenas um nome pedante para a sociedade burguesacapitalista. A sociedade civil dos países árabes são, em modo geral, os elementos pró-imperialistas pseudo democráticos dos países árabes.
Sociologia de botequim
O artigo do PSTU, assinado por David Cavalcante, membro do Instituto Latino-Americano de Estudos Sociecômicos (Ilaese), procura, antes de chegar à sua insólita conclusão, elaborar algo que pretende ser uma “tese sociológica”. Mostraremos aqui porque trata-se apenas de “sociologia de botequim” com a habitual carga de pedantismo acadêmico historicamente utilizada para esconder o vazio na delicada área do conteúdo:
“A execução do líder da rede terrorista Al Qaeda, Osama Bin Laden, pelos Estados Unidos, no dia 2 de maio, pela gravidade e abrangência da temática, deve ser pautada nas organizações operárias e socialistas do mundo inteiro. A operação militar executada de forma clandestina no território de outro país, comandada e transmitida ao vivo e online, diretamente pelo presidente Barack Obama e pelo seu staff de ministros, revela a velha e real, e cada vez mais, natureza intervencionista do Estado imperialista norte-americano”.
Em outras palavras, nada além do óbvio ululante: a intervenção ilegal do governo norte-americano revela... a sua natureza intervencionista. Todo o resto não passa de um palavreado vazio destinado a tornar palatável para jovens esquerdistas universitários confusos a indigesta conclusão que será apresentada mais adiante.
O autor vai ainda mais fundo em sua “análise”:
“Aos analistas, jornalistas, cientistas políticos, líderes políticos e acadêmicos em geral que criaram referenciais de análises pautados numa suposta superação do conceito de imperialismo, substituindo-o por referenciais de prevalência da multilateralidade das relações internacionais após a queda do Muro de Berlim; da valorização da ONU como instância democrática; do tão propalado Direito Internacional dos tratados internacionais, ou ainda, que a globalização teria criado uma ‘aldeia global’ e outras globobagens, tão presentes no modismo nas centenas de publicações das Ciências Sociais, agora não resta dúvida.
“Não se trata de mais uma ação intervencionista dos Estados Unidos em outro país. O Estado imperialista norte-americano, ao intervir e executar um indivíduo, líder de massas (concordemos ou não com sua ideologia), no território do Paquistão, busca dar um recado a todo o Oriente Médio e ao Mundo Árabe em particular: ponham-se de joelhos! Aos vossos regimes, sejam democracias ou ditaduras, monarquias ou repúblicas: não ousem ser soberanos!”
Ou seja, a intervenção dos EUA no Paquistão, que havia revelado o caráter “intervencionista” do imperialismo norte-americano não é “mais uma” “ação intervencionista” dos EUA... é um “recado”, destinado às nações árabes dizendo: “nós vamos intervir se vocês tentarem desafiar nossa natureza intervencionista”. Entenderam? Não? Não faz mal... Provavelmente o próprio autor também não entendeu o que quis dizer com tamanha bobagem.
O importante a ser ressaltado nesta passagem, no entanto, é a descrição feita de Osama bin Laden como um “líder de massas”. Note-se que, até duas semanas antes da publicação deste artigo, o líder da Al Qaeda era, para o PSTU, apenas o líder da “organização terrorista Al Qaeda”, organização esta que “não tem como objetivo organizar as massas, tampouco tem algum respeito com a vida de inocentes” (Assassinato de Bin Laden não vai impedir massacres do imperialismo, PSTU, 2/5/2011). Veremos de que se trata esta mudança mais adiante, na segunda parte deste artigo a ser publicada na próxima edição de Causa Operária.
Não trataremos aqui dos parágrafos seguintes do artigo do PSTU, destinados a “analisar” os fundamentos do intervencionismo norte-americano, para economizar o tempo e a paciência do leitor. Basta, para tornar compreensível a profundidade da ignorância do PSTU em matéria de política, assinalar que, para este partido, a única importância do assassinato de Osama bin Laden foi ter elucidado uma importante tese sociológica: a de que o imperialismo não acabou... e isso quando temos a ocupação militar do Iraque, do Afeganistão, da Líbia, da Costa do Marfim, do Iêmen, da Colômbia etc. etc. etc. Agora, sim! Atravessaram a fronteira do Paquistão! Quelle horreur!
Deixando a verborragia acadêmica de lado, o fundamental continua sendo evitado. Em seu artigo, o PSTU não consegue nem mesmo condenar o governo norte-americano por ter assassinado um líder de oposição. O governo, por sua vez, pode até mesmo assassinar, segundo o PSTU, mas o fato de ter invadido o Paquistão é inconveniente demais para não se falar nada a respeito. Eis a origem da chanchada sociológica do autor do artigo e da direção do PSTU.
É preciso ser implacável... com os terroristas
As únicas conclusões realmente importantes tiradas pelo PSTU em seu artigo são as que dizem respeito ao problema do terrorismo e sobre como devem se posicionar os revolucionários diante dele.
“(...) Ao passo que diante da luta pela soberania dos povos árabes não poderá haver nenhuma complacência com as ações terroristas individuais, isoladas das decisões das organizações representativas, sob pena da luta anti-imperialista se desmoralizar perante os trabalhadores do Ocidente. Partindo do repúdio político das ações terroristas isoladas das organizações do movimento de massas, faz-se necessário também a exigência de julgamento dos terroristas presos e suspeitos de ataques, por tribunais árabes soberanos e independentes, compostos por organizações e personalidades da sociedade civil daqueles países”(grifos nossos).
O governo norte-americano invadiu o Paquistão, executou sumariamente Osama bin Laden dentro de sua própria casa, sem julgamento, sem cerimônias, na frente dos seus filhos e, diante destes fatos, o PSTU pede um julgamento... De quem? Obama? Hillary Clinton? Não! Dos membros da Al Qaeda (e, por consequência, também os do Talibã, do Hamas, do Hizbollah, das FARC, do ETA, da guerrilha da Chechênia etc.).
O PSTU conseguiu ir além sua capitulação vergonhosa diante do imperialismo de condenar o terrorismo como método ao melhor estilo da pequena burguesia hipocritamente pacifista, para pedir a condenação de todos os grupos que lutam contra o imperialismo de armas na mão.
A política proposta pelo PSTU para “lidar” com os terroristas, além de ridícula e absurda em si, revela mais sobre o caráter reacionário desta facção da esquerda pequeno-burguesa.
O PSTU é incapaz de condenar o assassinato de Osama bin Laden pelo imperialismo, uma ação criminosa que é o ponto de partida natural para qualquer crítica ao imperialismo. Pelo contrário, o PSTU, com seu novo artigo sobre o problema, reforçou o coro com o imperialismo que grita histericamente pela condenação moral, política e criminal dos “terroristas” e na tentativa de descaracterizar sua luta contra o imperialismo.
Simplificando: na verdadeira guerra civil que se desenvolve neste exato momento em diversos países do mundo árabe, em que de um lado estão as “organizações terroristas” Al Qaeda, Talibã, Hamas, Hizbollah etc., e, do outro, o imperialismo norte-americano, o PSTU escolheu quem apoiar: o governo dos Estados Unidos da América. Não há como tergiversar: o PSTU sequer denuncia o ato criminoso do governo do Estado mais poderoso do mundo, opressor dos povos, mas quer a condenação formal de “todos” os que lutam contra por meio da violência.
Poder-se-ia pensar que apenas este último (isto é, o governo dos EUA) conseguiria ser indecente o suficiente para propor o julgamento póstumo de suas vítimas pelos “crimes” que elas cometeram contra a “democracia”. O PSTU, por sua vez, se esforça para mostrar que também nos meios “de esquerda” é possível propor a condenação do “terrorismo” como política para aqueles que lançam mão deste recurso na sua luta contra o imperialismo.
Além disso, é necessário afirmá-lo novamente; se se pudesse levar minimamente a sério o julgamento por qualquer tribunal internacional, os primeiros no banco dos réus deveriam ser justamente os responsáveis pelo massacre de milhões de pessoas, pelas guerras, pela fome e a miséria de bilhões de pessoas, os membros dos governos imperialistas de todo o mundo e, principalmente, os membros do governo norte-americano e não os “terroristas” que lutam com seus próprios meios contra a opressão imperialista.
O próprio imperialismo norte-americano, por sua vez, mostrou de que vale um julgamento passando por cima de todos os tratados internacionais, do “devido processo legal” e das garantias democráticas do Estado de direito que diz defender para invadir o Paquistão e executar sumariamente Osama bin Laden. Nem mesmo o “democrático” imperialismo norte-americano é capaz de sustentar por muito tempo a farsa de um julgamento de suas vítimas, saltando esta inconveniente etapa e indo diretamente à execução da sentença determinada por ele próprio quando mais lhe convém e, isso, contra cidadãos de outro país!
Por que, então, o “democrático” PSTU insiste na reprodução de uma farsa que teria como único resultado o reforço da opressão imperialista sobre os árabes oprimidos, dos quais a luta dos “terroristas” é uma expressão legítima? A resposta será dada por um exame minucioso das concepções deste partido.
A única explicação para a política proposta pelo PSTU – que somente pode ser considerada como policialesca e pró-imperialista - está nas suas próprias concepções burocráticas, contra-revolucionárias e antioperárias e sua defesa extrema da democracia burguesa de fachada do imperialismo.
Para este partido, “as ações terroristas unicamente reforçam a catarse da cruzada imperialista contra os povos e a cultura árabe cujo verdadeiro objetivo é garantir o controle do petróleo e do território árabe nas mãos das multinacionais. Por outro lado, as demonstrações de solidariedade de setores da população árabe com Bin Laden e com organizações fundamentalistas, revelam que o justo sentimento anti-imperialista das nações oprimidas foi depositado de forma distorcida nas mãos destas organizações, pois a única bandeira que pode derrotar o imperialismo é aquela que unificará os povos árabes com a classe trabalhadora europeia e norte-americana: a bandeira da solidariedade internacional dos oprimidos e dos direitos da classe explorada no mundo inteiro, a classe trabalhadora.
“Um consequente movimento operário e socialista necessita lutar pela direção das aspirações anti-imperialistas (sic) dos povos árabes. A luta pela libertação nacional, pela democracia, pela liberdade de imprensa e de organização, pelos direitos civis, tão evidentes nas ruas da Tunísia, do Egito, da Líbia, da Síria e de todos os países árabes, só terá credibilidade se partir do repúdio de qualquer intervenção militar, econômica e da espionagem da CIA nos países imperialistas na região”.
Segundo o PSTU, os “atentados terroristas” das organizações que estão lutando contra o imperialismo no mundo árabe “desorganizam” e “desmoralizam” os trabalhadores. Não é esta, no entanto, nem a demonstração da realidade atual e histórica nem a posição da IV Internacional na época de Trótski, da qual o mesmo PSTU procura de modo falaz dar a impressão de seguir. Segundo a revista norte-americana da IV Internacional na época de Trotski, The New International, publicada pelos trotskistas da Liga Comunista da América (Communist League of America - CLA) e, posteriormente do Partido Socialista dos Trabalhadores (Socialist Workers Party - SWP) de 1934 a 1936 e de 1938 a 1940, os “atentados terroristas” podem justamente marcar o início da revolução. Na análise do levante das massas irlandesas em 1939, um dos redatores da revista, William Morgan, assinalou o seguinte:
“Bombas estão explodindo novamente na Irlanda e na Inglaterra. Sob o próprio nariz do Ministério do Interior em Londres, sob o monumento aos reis ingleses em Belfast, sob as paredes das prisões onde milhares de patriotas irlandeses cumpriram suas penas e sob os escritórios alfandegários ao longo da fronteira do Ulster, explosões altas e repentinas marcam o 23º aniversário da Semana da Páscoa. E estas explosões não são meramente comemorativas. Elas servem para lembrar o mundo da luta pela independência nacional de um povo que combate sem tréguas por setecentos anos contra o mais poderoso e impiedoso opressor de todos os povos coloniais: a classe dominante do Império Britânico.
(...)
“Ao compreender que, sem as forças combinadas da classe operária irlandesa e dos trabalhadores ingleses e as forças revolucionárias nas colônias, a independência nacional não pode ser conquistada completamente, não podemos simplesmente dispensar os bombardeios atuais como inúteis ou reacionários. Eles não são meros atos isolados de violência cometidos por indivíduos consternados e frustrados. Eles são, pelo contrário, cuidadosamente planejados e conduzidos de acordo com um plano organizado elaborado por revolucionários que, eles mesmos, admitem que as bombas são apenas o primeiro passo na renovação da luta. Estes homens sabem e estão se planejando para os passos necessários para unir as forças de oposição. As bombas estão servindo para chamar a atenção para o Exército de Ocupação agora na Irlanda e o retorno da repressão que precedeu a última guerra. Os revolucionários em toda parte devem se mobilizar para apoiar o movimento para arrancar a liberdade e a independência do ‘maior senhor de terras da Europa’ e, assim, ao desferir um golpe no coração da maior potência imperialista do mundo, liberar as forças da revolução em todos os países coloniais antes que a guerra engolfe a humanidade em uma luta para destruir a si mesma pelos lucros e o poder do capitalismo” (The New International, vol. V, nº 4, abril de 1939).
Ao que parece, o trotskismo histórico, não a sua caricatura morenista, não estava exatamente disposto a julgar os terroristas irlandeses ou, até mesmo, a condenar em princípio o terrorismo como faz o PSTU. Ocorre que aqueles eram verdadeiros revolucionários e não democráticos professores universitários inebriados pela propaganda pseudo democrática do imperialismo mundial.
Esta tarefa, atribuída pelos trotskistas de 1939 aos revolucionários do seu tempo tem sua importância renovada pela luta das massas árabes nos dias de hoje. É dever dos revolucionários em todo o mundo se mobilizar em apoio à luta das massas árabes em sua presente revolução e, inclusive, à luta das “organizações terroristas”, nacionalistas árabes, muçulmanas ou de qualquer outra ideologia no seu combate armado em meio à verdadeira guerra civil que se desenvolve no Afeganistão, no Paquistão, na Palestina, na Síria, na Líbia e nos demais países árabes. É preciso, ressaltamos, apoiar inclusive o método dos “atentados terroristas” promovidos por estas organizações na sua luta pela independência nacional e o fim da opressão imperialista sobre seus países, não porque estas saibam exatamente o que estão fazendo, não por sua ideologia, mas porque são a demonstração do seu atual estado de organização e consciência da necessidade de lutar contra o imperialismo e não ao ladodeste e com um método revolucionário de luta.
O pacifismo e o democratismo cinicamente pró-imperialista que o PSTU procura traficar como trotskismo coloca-se aquém de todos os democratas pequeno-burgueses que apoiaram estas lutas.

Este texto de certa forma não se adequá a proposta deste Blog, mas por sua importância, qualidade e elucidação, decidi coloca-lo

Nenhum comentário: