"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

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Henry Ward Beecher

domingo, 29 de maio de 2011

Petróleo: Os grandes especuladores lucram transformando o mundo em um verdadeiro cassino

O capital financeiro especulativo tem migrado para os mercados futuros de petróleo em busca de altos lucros
A movimentação do capital financeiro especulativo das bolsas de valores para os mercados de commodities(matérias-primas), principalmente o do petróleo, em busca de maiores taxas de rentabilidade, tem como prática comprar nos mercados futuros para vender o mais rapidamente possível a preços mais altos, e é um fator determinante na atual escalada dos preços do petróleo.
A grande maioria das transações com commodities, e com o petróleo em particular, é feita nos mercados futuros, ao invés de no mercado spot, à vista, e por esse motivo, um mesmo barril de petróleo acaba sendo comercializado dezenas de vezes antes de ser efetivamente vendido. Os especuladores seguram os contratos, que alcançam volumes enormes (maiores que a demanda da China!), para esperar pelo aumento do preço, aumentando desta maneira a distância entre os contratos e o mercado real.
Custo de produção e formação dos preços do petróleo
Perante a forte alta que os preços do petróleo têm experimentado nos últimos anos surge, como ponto de partida, a pergunta: qual é o seu custo de extração (produção)?
O custo de extração do óleo leve on-shore (em terra) é de aproximadamente 5 dólares por barril; no Oriente Médio, o custo varia entre 3 e 5 dólares. O óleo leve apresenta um conteúdo menor de enxofre, o que reduz os custos de refino.
Em águas profundas, off-shore, o custo oscila de 8 a 20 dólares.
A extração a partir do xisto (areias que contém petróleo) oscila entre 15 e 20 dólares.
Nos dois últimos casos, em geral, o óleo extraído tem alta densidade, podendo chegar a ter a consistência de asfalto, e tem que passar por processos sofisticados de quebra de moléculas por aquecimento (processo conhecido como craqueamento) para a produção dos seus derivados. O óleo encontrado no Brasil é pesado ou ultra-pesado, tem em torno de 19 graus de API (escala utilizada para medir a densidade relativa de líquidos), o que exige a sua mistura com óleos leves para o processo de refino devido a que, apesar dos investimentos feitos entre 2004 e 2008, as refinarias brasileiras não conseguiram superar o modelo focado na produção de gasolina a partir de óleo leve importado, introduzido pelos norte-americanos desde a década de 1940, o que leva o país a ter a necessidade de importar óleo diesel devido a base do transporte de mercadorias ser rodoviária. O petróleo tipo Brent usa como referência a produção do Mar do Norte com grau de API em torno de 37,8.
A partir desses dados, passamos à análise da seguinte questão: como os preços do petróleo são determinados?
Até agosto de 1985, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) tinha uma forte influência na determinação dos preços do petróleo através do estabelecimento de quotas de produção e exportação para os seus membros. A Arábia Saudita funcionava como país regulador. Naquele momento, e perante a queda dos preços e o aumento da produção por países não membros da OPEP, os sauditas aumentaram a sua produção de 2 milhões de barris diários para 5 milhões; os preços despencaram para abaixo de 10 dólares, e eles conseguiram manter os seus ingressos com a produção aumentada. Em 1986, começou a ser adotada a precificação através de mecanismos de mercado, o que se generalizou e tem sido mantido até hoje; as referências principais são o óleo tipo Brent, o WTI e o Dubai/Oman.
Hoje, os preços do petróleo são determinados pela NYMEX (New York Mercantile Exchange) para o óleo WTI/Leve e pela ICE (Intercontinental Exchange) para o óleo tipo Brent. Elas controlam os principais índices mundialmente para oscontratos spot (preços a vista), e, principalmente, os contratos futuros. A NYMEX é controla a maior parte dos índices do mercado futuro de commodities nas área de energia, metais e outras.
Os contratos futuros de petróleo: fonte de especulação e altíssimos aumentos de preços
Os contratos futuros de petróleo movimentam um volume financeiro duas a três vezes maior que a produção real. Entre 2005 e 2010, a demanda por contratos futuros aumentou 500% enquanto a demanda mundial cresceu a uma taxa média anual de 2%. Em 2011, o seu crescimento, em relação a 2010, tem sido de 25% devido às incertezas criadas principalmente a partir das revoluções nos países árabes. Os derivativos financeiros potencializam a especulação a níveis estratosféricos mediante a negociação de contratos derivados dos contratos futuros, através da criação de novos fundos (cestas de contratos futuros) de investimento estruturados a partir de vários contratos futuros provenientes de fontes muito diferentes, ou mesmo incluindo outros fundos, com intrincadas operações de seguros e qualificação de riscos, e que frequentemente podem até perder o rastro dos contratos futuros originais. Eles são um dos principais instrumentos do verdadeiro “casino” em que os grandes especuladores financeiros têm transformado o mundo.
Em dezembro de 2010, o jornal norte-americano The New York Times publicou um artigo sobre a recém criada ICE Trust, empresa da ICE (Intercontinental Exchange) localizada em Nova York, que passou a ser um membro do Federal Reserve System e a atuar com foco no mercado créditos do tipo swap default security (CDS), que são seguros que permitem a proteção dos especuladores que atuam em mercados financeiros futuros. “Estruturada a partir de gigantes como o JPMorgan Chase, o Goldman Sachs e o Morgan Stanley, os banqueiros formam um comitê poderoso que ajuda a controlar o mercado de derivativos, uma das mais rentáveis – e controversas – áreas de investimentos financeiros”. “O mercado como funciona hoje 'aumenta em altos custos para todos os norte-americanos' disse Gary Gensler, presidente da CFTC (Comissão que controla a Negociação de Commodities nos Mercados Futuros), que regula a maioria dos derivativos”.
Nos últimos anos, têm acontecido várias fusões no mercado de comercialização de contratos futuros. Em 2001, a ICE comprou a International Petroleum Exchange, com sede em Londres, que originalmente tinha como controladores grandes bancos e empresas do setor de energia: Royal Dutch Shell, BP Amoco, Total, Fina Elf, Goldman Sachs, Morgan Stanley, Deutsche Bank, Societé Generale, American Electric Power, Aquila Energy, Duke Energy, El Paso Energy, Reliant Energy e Mirant. Em 2011, a ICE e a Nasdaq (bolsa de valores dos EUA com foco em empresas de tecnologia) se juntaram para enfrentar a Deutsche Borse que, por sua vez, tinha comprado a NYSE Euronext por 9,5 bilhões de dólares.
Em 27 de abril de 2011, o deputado Democrata Joe Courtney declarou que a especulação adiciona em torno de 27 dólares ao preço do barril e pediu que a CFTC acelerasse a adoção de regulamentação para o setor, que na prática nunca foi implementada.
Em maio de 2008, o governo alemão estimava que 25% do preço de 135 por barril se relacionava a especulação. Testemunhos dados na Comissão de Energia do Senado norte-americano indicavam que especuladores haviam aumentado a demanda artificialmente em 848 milhões de barris nos últimos cinco anos. O banco de investimentos Lehman Brothers declarou que “a cada US$100 milhões” que os fundos de riqueza soberana (baseados nas reservas internacionais de determinados países) investiam, “o preço West Texas Intermediate [óleo tipo WTI], o ponto de comparação dos EUA, aumentava em 1,6%”. Em junho de 2008, Abdullah al-Badri, Secretário Geral da OPEP, declarou que o consumo mundial de petróleo de 87 milhões de barris diários, estava longe do “mercado de papel” estimado em 1,36 bilhões de barris diários, ou mais de 15 vezes a demanda do mercado real. Um estudo da Masters Capital Management (administradora de fundos hedge) de setembro de 2008 mostrou que mais de U$60 bilhões tinham sido investidos no mercado financeiro relacionado ao petróleo durante o primeiro semestre do ano, o que teria ajudado a aumentar o preço de US$95 para US$147 por barril. Os investimentos nos mercados futuros de commodities passaram de US$13 bilhões em 2003 para mais de US$250 bilhões no primeiro semestre de 2008.
As previsões do Goldman Sachs, amplamente divulgadas, de que o preço do barril deveria chegar aos 200 dólares fortaleceram a especulação ainda mais, pois os fornecedores seguravam o fornecimento na espera de preços mais altos. Em testemunho na Comissão de Comercio, Ciência e Tecnologia do Senado norte-americano em 3 de junho de 2008, o ex diretor da CFTC, Division of Trading & Markets, Michael Greenberger disse que a Intercontinental Exchange, baseada em Atlanta, e fundada pelo Goldman Sachs, Morgan Stanley e BP, teve um papel fundamental na especulação nos mercados futuros de petróleo. No início de setembro de 2008, os especuladores retiraram do mercado financeiro do petróleo investimentos na ordem de 39 bilhões, o que teria ajudado ao preço despencar para 33.
A ciranda financeira criada em torno à especulação com o petróleo tem sustentado por anos o parasitismo de bancos e especuladores. A perspectiva de escassez da matéria prima em um futuro próximo lançou o mercado mundial em um movimento convulsivo que vem afetando todos os ramos da economia internacionalmente.

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