"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

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Henry Ward Beecher

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Bolívia - Governo propõe comissão para investigar violência policial contra indígenas


O mandatário boliviano, Evo Morales, propôs, nesta quinta-feira (29), a formação de uma comissão de alto nível para investigar a repressão policial ocorrida no último domingo (25) contra a marcha indígena que se opõe à construção da segunda etapa da estrada Villa Tunari (Cochabamba) – San Ignacio de Moxos (Beni). Comunidades indígenas afetadas pelo projeto estão em marcha desde o mês passado pedindo que a estrada não passe pelo Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis).
Hoje, a ministra de Transparência Institucional e Luta contra a Corrupção, Nardi Suxo, declarou que o Governo boliviano quer a participação de representantes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) na comissão de alto nível que investigará o episódio de domingo passado. A ideia é formar uma comissão composta por instituições de defesa dos direitos humanos nacionais e internacionais.
"Através da Chancelaria, convidou-se a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a Relatora sobre Direitos Humanos dos Povos Indígenas, o Fórum Permanente sobre Questões Indígenas e a Secretaria Técnica da Unasul”, afirmou.
Conforme noticia da Agência Boliviana de Informações (ABI), o objetivo da comissão é investigar o caso "de maneira imparcial e objetiva” e descobrir os responsáveis pela violência policial. O episódio ocorreu no último domingo, quando centenas de policiais reprimiram com gás lacrimogêneo os indígenas da VIII Grande Marcha que estavam em um acampamento montado próximo a Yucumo. Até agora, informações revelam que três indígenas permanecem desaparecidos.
A repressão recebeu críticas de organizações e movimentos sociais e indígenas do país. Nesta semana, a Coordenadora Andina de Organizações Indígenas (CAOI) e a Coordenadora de Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica) divulgaram um comunicado em que rechaçam a violência policial contra os manifestantes.
"Rechaçamos profundamente esta repressão, a obsessão por impor uma estrada, os interesses mesquinhos de empresários brasileiros dispostos a atropelar tudo por simples negócios, a cegueira de dirigentes que se comportam como ‘colonizadores' ironicamente em nome de uma ‘descolonização'”, destacaram.
As organizações lembraram que a suspensão da obra não solucionará o impasse, já que apenas adiará o problema "por um tempo indeterminado”. Para elas, o ideal é mudar a rota da estrada a fim de que ela não passe por Tipnis e, com isso, não cause danos ao meio ambiente nem à vida dos indígenas.
"Porque a estrada no Tipnis faz parte das políticas de expansão do Brasil através de megaprojetos de infraestrutura financiados por seu Banco de Desenvolvimento (BNDES), dentro dos planos de iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA)”, denunciaram.
Em uma coletiva de imprensa realizada na noite de ontem (28), o mandatário boliviano pediu desculpas pela ação policial e prometeu corrigir os erros. Na ocasião, Evo Morales afirmou que a repressão não partiu de ordens dele nem do Governo.
"Novamente quero dizer às famílias vítimas (da repressão) que nos desculpem, que me perdoem, mas quero que saibam: não houve nenhuma instrução nem jamais havíamos pensado que poderia ocorrer dessa maneira, dói bastante, como vítimas que temos sido em muitas oportunidades da repressão pela força pública”, declarou.
Tipnis

O Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), localizado entre os Andes tropicais e a planície amazônica da Bolívia, é uma área rica em biodiversidade. Em 1965 foi declarado Parque Nacional e, em 1990, Território Indígena.
Os indígenas são contrários à construção da estrada que ligará Villa Tunari a San Ignacio de Moxos porque a via passará por dentro do Território, afetando, assim, o meio ambiente e a vida das comunidades. A alternativa, de acordo com eles, é alterar a rota da estrada.
A via facilitará o acesso entre os departamentos bolivianos de Cochabamba e Beni, que, com a estrada, não precisará mais passar por Santa Cruz. Para o Brasil, a estrada ajudará no transporte de seus produtos para o oceano Pacífico.

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