"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Eleições expõem profunda crise da direita brasileira


O resultado praticamente certo da eleição da candidata do PT, Dilma Rousseff, já no primeiro turno é uma expressão da verdadeira falência da direita brasileira, em especial o PSDB, seu último sustentáculo.

A queda de José Serra, do PSDB, nas pesquisas, revela que este partido está caminhando para o mesmo destino de outras legendas da direita brasileira, como o próprio DEM.

Este resultado expõe ao mesmo tempo uma guinada da situação política para a esquerda e indica uma retomada da mobilização dos trabalhadores.

Desenvolvimento da crise

Esta crise não surgiu do nada. Desde o fim da ditadura militar a direita vem perdendo apoio da população e tendo que se camuflar para sobreviver. O primeiro a passar por “transformações” foi a Aliança Renovadora Nacional (Arena), o principal partido do regime militar. A Arena passou por diversas modificações, o que originou o já falecido PFL e agora o decadente DEM.

Estas mudanças apenas garantiram uma sobrevida a este partido, pois desde o fim da ditadura não conseguiu mais assumir o governo. Foi gradativamente sendo colocado para escanteio no quadro político nacional.

Outro partido da direita que demonstra extrema debilidade é o PMDB, oposição oficial à ditadura militar. Seu apoio no meio da população inexiste e está no cenário político nacional graças às recentes alianças feitas com o PT que proporcionaram sua participação em diversos cargos do governo. O PMDB está de “pé” unicamente em função do apoio do PT, que deu a esse partido posições fundamentais no governo Lula, aliança que culminou com o PMDB ganhando a candidatura à vice-presidência.

E por fim, a crise do PSDB que foi uma dissidência “à esquerda” do PMDB e que se consolidou como ponto de apoio da direita no Brasil.

PSDB em declínio

Estas eleições estão sepultando qualquer tentativa do PSDB de se reerguer. O fracasso da candidatura de José Serra não é um caso isolado no partido. As pesquisas apontam que a base aliada da oposição burguesa está na frente em menos da metade dos estados que a base aliada de Dilma.

A direita vem há pelo menos quatro anos tentando garantir uma vantagem sobre o PT por meio das denúncias de corrupção na base do governo Lula. A ofensiva também se deu com o ataque a diversos direitos da população, como a sistemática perseguição aos trabalhadores do campo, pesquisas de células-tronco, campanha contra as cotas para negros no ensino superior e a perseguição às mulheres relacionada com o aborto.

Mas todos estes “esforços” da direita não foram suficientes. As pesquisas foram intencionalmente manipuladas para dar uma vantagem inicial para Serra, mesmo antes da campanha eleitoral, mas bastou iniciar a campanha e ficou evidente que o PSDB não tem apoio nenhum entre a população.

Outra artimanha da direita foi tentar colocar a candidata do PV, Marina Silva, como uma espécie de opção aos descontentes com Lula e o PT, mas a tentativa fracassou miseravelmente. E até mesmo o candidato do Psol, Plínio de Arruda Sampaio recebeu um pequeno espaço na imprensa burguesa para fazer contraponto à candidatura de Dilma, mas em nada mudou o quadro eleitoral.

Estes recursos da direita para tentar ganhar vantagem nas eleições também revelam que está em marcha uma tendência generalizada da população à esquerda.

Sinais da decadência do PSDB podem ser facilmente identificados na própria campanha eleitoral de Serra na televisão. Da figura notoriamente arrogante e antipática, o candidato do PSDB tenta aparecer agora como simpático e amigo do povo nos programas da TV. Tem sistematicamente aparecido em casas pobres, conversando com famílias etc. Serra chegou a elogiar Lula e dizer que vai manter diversos projetos, entre eles o Bolsa Família. Nas últimas semanas está fazendo promessas sobre aumento para aposentados e aumento do salário mínimo com valor um pouco maior que oferecido pelo PT.

Até mesmo a imprensa burguesa, grande apoiadora do PSDB, foi obrigada a fazer críticas a este partido, numa tentativa de compreender e influir sobre a questão.

A declaração da imprensa de que o PSDB precisa ser reformulado é um reconhecimento do seu fracasso, que é um fracasso de toda a direita e, portanto, das representações oficiais e tradicionais da burguesia.

Em uma matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo, declarações de lideranças do PSDB demonstram a decadência do partido. Foi dito que o partido não tem militantes nos estados e que há muito não agrega novos integrantes, na verdade erdendo quadros.

O PSDB deve traçar o mesmo caminho que o DEM, antigo PFL, traçou, mudando de nome e tentando aparecer como um novo partido, “reformulado” etc. Que a fórmula não funcionou pode ser vista no fato de que hoje o DEM está à beira do colapso.

A derrocada do PSDB vai implicar ainda na instabilidade do regime político, pois este partido tem um papel fundamental, juntamente com o PT, na manutenção da estabilidade política no País.

Perdendo aliados

Com a crise, o PSDB está perdendo diversos aliados. O primeiro a anunciar que vai deixar o partido é o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM). Kassab declarou que vai deixar o DEM e provavelmente deva entrar no PMDB. A saída do prefeito indica não só a perda do PSDB de um de seus aliados como também o declínio do próprio DEM. E no geral a derrocada de toda a direita.

Kassab disse que pretende esperar o resultado das eleições para decidir seu destino. Espera que o DEM eleja pelo menos 51 deputados, caso contrário, a saída será certa. Mas estimativas apontam que o DEM deva perder pelo menos 20 deputados de um total de 56 que possui atualmente.

Há ainda boatos que dizem que Aécio Neves pretende deixar o PSDB. O fato não foi confirmado, mas são mais indícios de crise no PSDB.

O papel do PT

O que também fica evidente na derrocada do PSDB é o apoio disfarçado de oposição que sempre recebeu do PT. O PT foi o principal sustentáculo dos oito anos do governo FHC. Foi por meio de Lula, do PT e da CUT que o PSDB promoveu a venda do País com as inúmeras privatizações, como a Petrobrás, a telefonia etc.

Foi no governo FHC, também com a ajuda do PT, que o movimento operário foi totalmente esmagado. Um local onde o apoio do PT para manter o PSDB é no estado de São Paulo, onde há 16 anos quem está a frente do governo é este partido. O acordo entre PT e PSDB é de longa data. Enquanto o PT fica com os cargos ao Senado, o PSDB fica com o governo. Após as eleições, o PT aparece como oposição ao PSDB, mas sem grandes enfrentamentos, pelo contrário, tenta evitar ao máximo qualquer choque verdadeiro entre a classe operária e o governo tucano. Um exemplo bastante recente foi a greve dos professores estaduais do ano passado, quando a direção do sindicato, comandada pelo PT, tentou a todo custo acabar com a greve evitando o desgaste total do governo Serra.

Mesmo com a vitória, mais uma vez do PSDB em São Paulo, a crise tende a se acentuar e em breve será inviável para o PSDB governar o estado.

A crise do PSDB reflete a crise geral dos partidos do regime. Ao mesmo tempo há uma tendência bastante acentuada da classe operária à esquerda. Esta tendência se reflete na candidatura de Dilma Rousseff e nas lutas recentes. Mas isto não significa que haverá um apoio dos trabalhadores ao governo, pelo contrário, a cobrança será ainda maior. O enfraquecimento do PSDB vai gerar uma onda de mobilizações dos diversos setores contra o governo, desenvolvendo a luta dos trabalhadores.


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