"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou" Henry Ward Beecher

"Quando os jovens de uma nação são conservadores, o sino de seu funeral já tocou"
Henry Ward Beecher

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Reação à crise: os trabalhadores franceses mostram o caminho

Na última terça-feira, dia 7, mais de dois milhões e meio de trabalhadores franceses se manifestaram nas ruas de Paris e em outras cidades francesas contra o governo de Nicolas Sarkozy.

A manifestação foi convocada pelos sindicatos como greve geral realizou mais de 200 protestos por toda a França. A principal reivindicação era o fim da Reforma da Previdência que o governo francês quer implementar no País para atender os interesses capitalistas diante da crise econômica. A greve afetou significativamente os sistemas de transportes, aeroportos, os hospitais, escolas e correios do setor público, mas o setor privado também se mobilizou, funcionários de bancos e empresas petrolíferas também paralisaram as atividades.

Com esta reforma, Sarkozy está colocando na prática o plano de austeridade fiscal que é uma exigência da União Européia para os países europeus em crise. É a conhecida política do corte de gastos públicos para colocar todo o ônus da crise econômica sobre as costas dos trabalhadores e conseqüentemente aliviar os prejuízos dos banqueiros e especuladores.

Esta reforma, que está para ser aprovada pelo governo francês, possui mais de 700 emendas e vai principalmente aumentar o tempo mínimo para a aposentadoria. A proposta é de que seja feita a elevação da idade mínima passe dos atuais 60 anos para 62 anos, isso nos casos de trabalhadores que completaram a idade mínima de trabalho. Atualmente a legislação francesa exige que os trabalhadores tenham trabalhado no mínimo 40 anos para se aposentar ou então tenham atingido 65 anos de idade. Neste caso, a idade para se aposentar passará de 65 anos para 67 anos e o tempo de trabalho para 41,5 anos.

Está em marcha um dos maiores confiscos da classe operária mundial. Sarkozy quer que os trabalhadores franceses, além da exploração cotidiana, ainda dediquem mais dois anos de trabalho, de maneira compulsória, para que os capitalistas falidos com a crise não tenham ainda mais prejuízo.

A insensibilidade do governo francês ao apelo dos trabalhadores é gritante. Para justificar esta medida, Sarkozy declarou da maneira mais cínica possível que o aumento da aposentadoria estava acontecendo, pois segundo pesquisas recentes a expectativa de vida dos franceses aumentou. Este é um recado que diz para a classe operária que ela não deve fazer mais nada da vida a não ser trabalhar para sustentar os parasitas da burocracia estatal e os capitalistas, banqueiros etc.

O governo francês quer criar um fundo com a aposentadoria dos trabalhadores para que possa ser usado quando for necessário para socorrer os capitalistas.

Na última sexta-feira, mesmo após a greve geral, Nicolas Sarkozy conseguiu a aprovação do projeto na Câmara de Deputados, onde tem a maioria, 314 deputados, do total de 577. Segundo o projeto a medida vai entrar em vigor apenas em 2018, mas na verdade vai ser uma implantação gradativa.

Já a partir do próximo ano, no dia 30 de junho, a aposentadoria aos 60 anos não será mais permitida.

Outra justificativa para o projeto é o déficit da Previdência que tem um rombo de 32 bilhões de euros, uma desculpa para não explicar onde está o dinheiro que foi transferido dos trabalhadores para o fundo de previdência.

A França, que era conhecida como o país com menor idade para se aposentar, tendo cerca de 15 milhões de aposentados, segue os exemplos da Grécia e demais países que aderiram aos planos de austeridade fiscal e ataca os direitos dos trabalhadores.

Resposta à altura

Os trabalhadores franceses mostraram o caminho que deve ser seguido diante desta enorme ofensiva do governo francês contra o direito dos trabalhadores. A greve geral paralisou mais de 30% do serviço público da França.

Mas esta não será uma medida isolada, pois já foram convocadas outras manifestações. Mesmo antes da aprovação do projeto na sexta-feira dia 10, seis das oito principais centrais sindicais já haviam se reunido para programar outras mobilizações. Está marcado para o próximo dia 23 de setembro mais uma greve geral que deve, diante da aprovação do projeto, reunir muito mais pessoas contra a medida.

Esta é apenas uma das inúmeras medidas do plano de cortes de gastos públicos que o governo francês irá aplicar para conter a crise à base do ataque aos direitos dos trabalhadores.

O exemplo dos trabalhadores franceses deve ser seguido em todos os países em que os capitalistas e banqueiros estão aplicando os cortes nos gastos públicos e promovendo um enorme confisco dos trabalhadores.

A crise francesa, já prenunciada com os recentes levantes de imigrantes nas periferias de Paris, por causa do assassinato de dois jovens negros por policiais, é um sinal de que tende a se aprofundar e que os trabalhadores estão dispostos a um confronto direto com os governos. Existe uma tendência geral de guinada à esquerda das massas.

Pagando para não ver

Outro sinal de desestabilização da burguesia mundial na última semana, foi o megapacote apresentado pelo presidente norte-americano como medida de conter a crise interna do País.

Obama apresentou um plano de 50 bilhões de dólares para, em tese, promover um grande projeto de infraestrutura que vai abranger a construção de aeroportos, estradas, ferrovias etc.

Na última semana Obama fez um verdadeiro tour pelos Estados Unidos, indo estrategicamente nas principais áreas afetadas pela crise econômica para apresentar este novo pacote, em uma destas ocasiões apresentou o projeto, "Ao longo dos próximos seis anos, vamos reconstruir 150 mil milhas (241 mil quilômetros) de nossas estradas. Isso é o suficiente para dar seis voltas ao mundo. É muita estrada. Vamos estender e manter 4 mil milhas (6.400 quilômetros) de nossas ferrovias - o suficiente para cobrir (o país) de costa a costa. Vamos restaurar 150 milhas (241 quilômetros) de vias de acesso e avançar no controle de tráfego aéreo de última geração, para reduzir o tempo de viagem e as demoras para os viajantes norte-americanos. Acho que todo mundo pode concordar com isso" (Monitor Mercantil, 6/9/2010). Com esta declaração fica visível que a intenção do projeto é recuperar a imagem de progresso e crescimento econômico que há muito está estagnada nos Estados Unidos.

Este é na verdade um plano emergencial de contenção de prejuízos políticos que o governo teve devido o avanço inegável da recessão no País. Obama quer ao mesmo tempo dar a entender que pretende solucionar o problema da crise econômica e amenizar o impacto dos mais de 14 milhões de desempregados que o País tem hoje. Um outro fator são as eleições parlamentares que ocorrem no início de novembro, onde o governo corre o risco de ficar em minoria na Câmara de deputados.

Obama declarou que se for necessário irá reduzir orçamento de algumas áreas para que o pacote seja viabilizado.

O projeto ainda precisa ser aprovado pelos deputados, mas com as eleições em andamento talvez seja postergado. O fato é que não é por acaso que Obama pretende gastar 50 bilhões de dólares com os pobres e desempregados. Este é um sinal de que a crise econômica norte-americana está caminhando não para a recuperação como governo e analistas econômicos tentam apresentar, mas para uma enorme depressão.

E as conseqüências desta depressão no atual quadro econômico dos Estados Unidos tende a colocar a administração Obama em um sério risco de extinção, pois os trabalhadores devem se mobilizar contra esta situação e pressionar ainda mais o governo.

Afeganistão, a bola da vez

Depois do anúncio do fim da guerra do Iraque com a retirada das tropas do País, as atenções se voltaram para outro problema político do governo norte-americano, o Afeganistão.

Na última semana ficou patente o fracasso iminente do exército norte-americano no País. Um dos membros do talibã, Omar, denunciou que a coalizão entre Estados Unidos e OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) estão perdendo vergonhosamente a guerra.

Omar declarou que, “a vitória da nossa nação islâmica sobre os infiéis invasores é agora iminente e a força propulsora atrás disso é a fé na ajuda de Allah e na unidade entre nós. (...) outras forças estrangeiras que vieram aqui para ocupar nosso país estão agora sob pressão dos seus povos, por causa do crescente e pesado gasto militar, das baixas e da falta de frutos da guerra”.

O membro do talibã ainda atacou os Estados Unidos dizendo a eles, “Vocês testaram toda a nossa força, para manter sua ocupação sobre o país independente e islâmico do Afeganistão, mas não conseguiram nada, exceto uma derrota frustrante".

O fracasso dos Estados Unidos no Iraque é muito semelhante ao Afeganistão. É um fracasso em todas as frentes, desde a militar até a política.

O fracasso também se demonstrou por meio das eleições fajutas que o governo norte-americano tentou fazer no País para criar a ilusão de que estava caminhando para a democracia, para a estabilidade. As eleições foram um fracasso com inúmeras fraudes e pouquíssima participação popular.

Por fim os Estados Unidos partiram para o suborno puro e simples e neste ponto também fracassaram. A idéia de cooptar lideranças talibãs e também militantes por meio de suborno não foi bem sucedida e ao invés de diminuir o número de militantes pelo contrário aumentou.

Devido à guerra, o país está extremamente pobre, sem condições de vida, sem emprego etc. Esta situação facilitou a adesão da população aos talibãs e não o contrário.

O plano de cooptação estava previsto em 250 milhões de dólares, mas devido à crise econômica o governo não conseguiu investir quase nada.

Apesar de um enorme contingente armado, somente a OTAN tem cerca de 150 mil soldados ocupando o Afeganistão, os Estados Unidos está se vendo em uma situação semelhante ao que aconteceu no Iraque, obrigado a retirar as tropas com muita cautela para evitar o pior, pois a situação no país é insustentável.


Nenhum comentário: